Usar touro avaliado deixou de ser diferencial e virou obrigação, diz Embrapa

Ele é bom para a cadeia produtiva porque quem vai comprar vai ter um animal que vai desempenhar muito mais, tanto na recria a pasto, depois se for para um confinamento vai ganhar mais, destacou pesquisador

“Hoje já não é mais um diferencial, isso é obrigação para quem quer continuar na atividade, quer continuar competitivo”. A declaração do doutor em zootecnia Gilberto Menezes, pesquisador da Embrapa Gado de Corte coordenador do programa de melhoramento genético Embrapa Geneplus, tratou da importância de usar animais avaliados para a reprodução na fazenda, seja ela voltada para a seleção ou para a criação de gado comercial.

“Isso sempre foi uma verdade, isso não é novidade nenhuma. Mas, nos últimos anos, e eu acho que principalmente nas últimas duas décadas, com a evolução que nós tivemos na pecuária nacional e mundial e a competitividade com outras espécies, tanto animal como vegetal, isso tornou cada vez mais importante: avaliar para se conhecer, para tomar melhores decisões e fazer com que a gente avance com recursos genéticos de alta qualidade. Isso hoje já não é mais um diferencial, isso é obrigação para quem quer continuar na atividade, quer continuar competitivo”, sustentou Menezes.

Em sua entrevista ao Giro do Boi, o pesquisador da Embrapa contou a história de uma das mais importantes provas de avaliação de novos tourinhos candidatos a virarem reprodutores de gado de corte, a prova do Geneplus Embrapa.

“Foi criada em 2016 aqui na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (capital de MS), uma infraestrutura que permitisse que a gente avaliasse o consumo alimentar individual dos animais com objetivo de gerar DEPs, resultados de avaliação genética para animais em relação àqueles mais eficientes no uso do alimento. É o animal que ganha mais e consome menos. […] A gente conseguiu montar essa infraestrutura de cochos, pensando num primeiro momento na raça Nelore, para casar essa parte de coleta de eficiência alimentar em cochos automáticos com a parte da genômica […]. Desde lá, a gente vem fazendo provas com a raça Nelore todos os anos e a gente chega agora em 2021 já com mais de 1.000 tourinhos avaliados, […] uma participação importantíssima dos criadores que apoiam essa iniciativa e subsidiam esse processo. […] A gente tem meta para lançar DEPs em agosto, os valores genéticos genômicos para eficiência alimentar na raça Nelore, que era o objetivo inicial em 2016, criar essa base de dados para oferecer à cadeia produtiva essa informação, que é importante tanto para o selecionador de Nelore, […] como o produtor de gado de corte também, o produtor de boi. […] Essa é uma genética que vai potencializar o trabalho do produtor comercial, para gerar alimento para a nossa população, gerar exportações, receita e, claro, animais mais lucrativos”, sintetizou.

O zootecnista elencou quais são todas as características avaliadas pelo processo. “A prova não avalia só eficiência alimentar, até porque não adianta um boi ser bom só nisso. […] Um bom desempenho dentro da fazenda envolve várias características ligadas a ponderal, então a gente avalia o ganho de peso, […] tem que ter carcaça, então a gente avalia qualidade de carcaça por ultrassonografia, área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea. A gente avalia perímetro escrotal, que tem a ver com a parte reprodutiva. E, claro, a eficiência alimentar. Na verdade, a gente compõe um índice com várias características”, informou.

Mais do que o expressivo número de tourinhos Nelore sendo avaliados na prova deste ano, Menezes destacou a importância da variabilidade genética em potencial. “A gente está com a satisfação de estar com 110 animais inscritos nesta prova agora, que se iniciou essa semana, vindos de 20 criatórios diferentes. Isso é muito importante. […] Esses 110 tourinhos jovens têm idade entre 18 a 20 meses e são filhos de 63 pais diferentes. Isso é variabilidade genética. […] Isso mostra que é uma contribuição tanto para essa parte de avaliação de eficiência alimentar, de carcaça, características para as quais eles também são avaliados, mas é sangue fresco, é aumentar a variabilidade da genética Nelore no Brasil. […] A gente não está falando de produzir boi só para esse ano ou ano que vem, a gente está pensando em produzir boi daqui a 100 anos e, para isso, é fundamental ter variabilidade genética. […] Isso vai permitir que o melhoramento genético continue sendo feito. Para usar uma analogia que os colegas aqui gostam, a variabilidade genética é a gasolina do melhoramento genético”, celebrou o doutor em zootecnia.

Gilberto disse que além de dar longevidade à pecuária, este momento específico incentiva o criador a investir em genética. “O mercado está pagando a mais por isso. […] Hoje fica claro o quanto o mercado reconhece um animal bom, um animal que tem genética. E é importante porque esse animal vai entregar mais ao produtor. Ele não é só melhor para quem vende o bezerro desmamado porque pesa mais. Ele é bom para a cadeia produtiva porque quem vai comprar vai ter um animal que vai desempenhar muito mais, tanto na recria a pasto, depois se for para um confinamento vai ganhar mais e, principalmente o consumidor vai ter um animal abatido mais jovem, com a carcaça melhor e isso significa alimentos de melhor qualidade. Para a sociedade, isso significa maior receita, mais riqueza”, relacionou.

Uma novidade para a prova do Embrapa Geneplus de 2021 é a avaliação não só de tourinhos da raça Nelore, como a inclusão do Brangus. “Nós estamos muito felizes […] com a possibilidade de estar, nesse ano, recebendo também a raça Brangus. […] Isso já era para ter acontecido em 2020, mas infelizmente nós passamos por esse momento tão difícil e aí a gente teve que adiar. Nós estamos agora com 30 animais Brangus, que entraram na prova junto com os animais Nelore. […] É a primeira vez, então gostaria muito de agradecer o Ladislau (Lancsarics Junior, presidente da), a Associação Brasileira de Brangus que é parceira nesse processo. […] São 30 animais de quatro estados diferentes – Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Mato Grosso -, sete criadores diferentes também que mandaram animais. Os animais entraram com média de 18 meses de idade, eles são nascidos no mês 08, 09 e 10 de 2019 com peso médio de 414 kg para começar a prova. Então é um início com 30 animais, mas eles estão bem selecionados. […] Talvez seja um primeiro passo nosso nessa parceria, mas eu vejo como um grande salto para a raça Brangus no Brasil”, projetou.

 Primeira safra de tourinhos Brangus avaliados em prova do Embrapa Geneplus

O pesquisador anunciou também quando os resultados da prova serão disponibilizados para os interessados em usar material genético dos tourinhos. “Os animais chegaram entre 10 a 13 de março, no dia 15 a gente fez a pesagem inicial, agora eles passam por 21 dias se adaptando às instalações porque são cochos automáticos, então eles precisam se acostumar a utilizar o cocho. […] Essa fase vai até 05 de abril. Depois eles passam por 56 dias de prova efetiva, e aí é pra valer, acabou o treino e é jogo! A gente encerra a prova no dia 31 de maio e aí vão ser feitas as avaliações para ganho de peso, eficiência alimentar, medidas de carcaça por ultrassonografia, área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, marmoreio, perímetro escrotal e ainda serão feitas avaliações visuais […] de umbigo, avaliação de pelo, que é muito importante em condições tropicais de produção, condição de conformação frigorífica […] para identificar o animal equilibrado, funcional. É a ‘beleza zootécnica’, como o colega Roberto Torres, que falou recentemente ao Giro do Boi, gosta de dizer. Na primeira semana de junho a gente compila todos esses dados, monta um índice para combinar essas características e vai divulgar os resultados tanto do Nelore quanto do Brangus, provavelmente em uma semana com lives”, adiantou Menezes.

Fonte: Portal DBO 

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