Saco vazio não para em pé! Nunca um ditado popular esteve tão certo quanto esse, ainda mais em período de pandemia do novo coronavirus. Ele se justifica, ainda mais, quando observados os números da safra brasileira de grãos, conforme levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Faltando apenas um mês para o fechamento da colheita deste ano, o país já registra uma supersafra de mais de quase 254 milhões de toneladas de grãos. E o carro-chefe desse cenário são as culturas soja e milho, que garantem quase 90% da produção nacional.
Trata-se de uma safra recorde nunca antes vista no país, e com uma expectativa de crescimento de 4,8%, em relação a colheita do ano passado. E tal crescimento deve-se a uma região denominada de Matopiba, que compreende o bioma Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e que vem se expandido no setor agrícola do Brasil.
Segundo ainda o último relatório da Conab, só nesses quatro estados serão colhidos esse ano cerca de 26 milhões de toneladas de grãos. “Essa região é, hoje, o principal núcleo de investimento na produção de grãos no país. E lá, a expansão ocorre na produtividade, sem crescer em novas áreas, ou seja, maior produtividade com base na tecnologia e investimentos”, afirmou o engenheiro agrônomo Sérgio de Zen, diretor de Política Agrícolas e Informações (Dipai) da Conab, acrescentando que o Piauí é o estado que mais vem se destacando na região.
Os números são tão otimistas que os dados da Conab revelam que o Piauí deve colher este ano uma safra 10,6% maior que a de 2019, ou seja, mais que o dobro da média nacional. São quase 4,9 milhões de toneladas de grãos sendo já colhidas, o que representa cerca de meia tonelada de grãos a mais que a safra do ano passado. Com isso, o Piauí aparece no ranking como o quarto maior produtor de grãos das regiões Norte/Nordeste.
“O Piauí está inserido dentro de um processo de evolução de produção enorme, não só se consolidando com grãos, mas com certeza no futuro deve atrair a indústria da proteína. E isso é importante para o Piauí porque, primeiro, vem a agricultura gerando riqueza local e, depois, com a chegada da indústria da carne, leite e ovos, que vem em segundo estágio, o estado demanda empregos, gera mais impostos e gera mais dividas nos estados.”, pontuou Sérgio.
Condições climáticas do Piauí são favoráveis
O engenheiro agrônomo da Conab assegurou, ainda, que o Piauí se destaca pela produção da soja. De acordo com Sérgio de Zen, mais da metade da safra piauiense é composta pela cultura, o que também é uma tendência nacional. “O Brasil deve colher este ano, 123 milhões de toneladas de soja, dos quais 44 milhões são para alimentar o mercado interno e o restante, pouco mais de 82 milhões de toneladas, para atender o mercado internacional. E a soja piauiense está inserida nesses dados”, acrescenta.
E a maior parte da produção de soja piauiense ainda está concentrada na região dos Cerrados, localizada no extremo Sul do Estado. E a expectativa para a safra do ano que vem é de um novo crescimento na colheita da cultura no Piauí. Quem garante é Alzir Neto, presidente da Associação de Produtores de Soja do Piauí (Aprosoja).
Segundo ele, as condições climatológicas já indicam que a safra piauiense de soja, para o ano que vem, deverá crescer em torno de 10%. “Essa perspectiva é real e pode ser ainda maior. Com isso, prevemos um aumento de mais de 100 mil hectares de área nova só para a soja aqui no Piauí”, detalhou Alzir, ressaltando, porém, que os produtores, principalmente dos Cerrados, ainda sofrem com a questão da infraestrutura piauiense para o escoamento e chegada de insumos. “As estradas continuam sendo nosso maior gargalo”, justifica.
Enquanto isso, as outras culturas, como as de inverno (aveia, canola, centeio, cevada trigo e triticale) finalizam o plantio neste mês. E segundo a Conab, a estimativa é de crescimento de 12,1% na área plantada, com destaque para o trigo que sinaliza um crescimento de 14,1% e alcance de 2,33 milhões de hectares. A depender da ajuda climática, a produção deve chegar a um recorde de 6,8 milhões de toneladas.
O Brasil só ultrapassou a marca dos 6 milhões de toneladas de trigo em 4 ocasiões na série histórica, sendo esta a maior, caso se confirmem as estimativas.
Os demais produtos que integram a cadeia de grãos, como algodão, arroz e feijão, caminham também para a finalização da colheita, com um desempenho de produção acima do produzido no último período. O arroz deve crescer 6,6% e colher 11,2 milhões de toneladas. Destas, 10,3 milhões em áreas de cultivo irrigado.
Por sua vez, o algodão aumenta 5,4%, prevendo uma produção de 2,93 milhões de toneladas de pluma. E o feijão total cresce 5,4%, alcançando 3,18 milhões de toneladas, dependendo da terceira safra que está em fase de colheita, ou seja, mais da metade dessa colheita (1,9 mi t) é da espécie comum cores.