Safra de milho é recorde no Piauí e chega ao sul do país

Na contramão dos estados do país, Piauí aumentou a produção

Liana Paiva

repórter

Que a soja é o carro-chefe do agronegócio piauiense, isso é consenso no setor. A cada ano, a produção do grão só aumenta, representando, atualmente, quase 53% da safra total, que chega a pouco mais de 5,2 milhões de toneladas.

Entretanto, o milho, também, vem ganhando bastante espaço entre os produtores do Estado. A previsão da colheita desta cultura na safra de 2021, que será concluída em setembro, é de, aproximadamente 2,3 milhões de toneladas, uma alta de 3,1% frente a safra passada.

E esse aumento da safra piauiense de milho ganhou mais destaque porque vai na contramão da produção nacional desta cultura. Por conta da estiagem e geada na maioria dos estados, a produção de milho no país deve fecha o ano com uma queda de 15,5%. A primeira safra, de verão, está projetada em 24,9 milhões de toneladas, 11% abaixo da safra anterior. A segunda safra, tradicionalmente chamada de "safrinha", deve ser de 60,32 milhões de toneladas, 19,6% abaixo de 2020.

"Em vários Estados não tivemos chuvas e foi pior do que o esperado. Em Goiás, por exemplo, a queda foi de quase 32%", afirmou Carlos Antônio Barradas, analista de Agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Para piorar, tivemos as baixas temperaturas (mais recentemente). Em muitas regiões do Paraná e de Mato Grosso do Sul, geou. Isso complica porque pegou boa parte das lavouras de segunda safra, mas só vamos ter a noção quando terminar a colheita de todo o milho", completou o pesquisador.

Os dados são das recentes pesquisas Agropecuária do IBGE e da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), que revelam, ainda, que, além do Piauí, somente outros cinco estados devem registrar crescimento na safra de milho. Fato este que fez com que a produção estadual alcançasse um feito inédito neste ano, conforme as associações de produtores, que foi romper a fronteira nordestina e vender o produto para estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

A venda do milho piauiense foi destinada para estados como Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo e até Paraná, que vem se destacando nacionalmente na produção de carne bovina.

Produtividade em crescimento

De acordo com Rafael Maschio, diretor da Associação de Produtores de Soja e Milho (Aprosoja Piauí), antes, a produção piauiense de milho ficava apenas no mercado interno, mas em seguida passou a ser vendida para Pernambuco e outros estados nordestinos, sendo que agora comercializa para o Sul do país.

"Esses estados que compraram milho piauiense são exportadores, mas por conta da estiagem e geadas, tiveram problemas em suas safras e sentiram carência do produto, por isso, vieram atrás do nosso milho, tanto para o consumo dentro dos estados como para a alimentação de animais", disse Rafael, acrescentando que, nos últimos dez anos, a produtividade do milho piauiense aumentou bastante. "Cerca de 55% da área plantada dos cerrados é com milho, o que gera 95% de produção da cultura no Estado", reforça.

O diretor da Aprosoja ressalta, ainda, os produtores piauienses, principalmente os dos cerrados, que ficam no extremo Sul do Estado, que tem procurado investir em grãos de qualidade, mecanização da colheita e uso de defensivos e herbicidas, além da correção do solo. Pedro Junior Zimmermann é um deles. Oriundo do Sul do país, o produtor chegou no Piauí ainda em 1999, quando passou a investir na agricultura junto com seus pais e dois irmãos. No ano seguinte, fez uma experiência com o milho e dez anos depois, ou seja, em 2010, passou a plantar o grão como “safrinha’. “Atualmente, faço o plantio do grão como segunda safra, após a soja. Dependendo do ano, chego a destinar ate 40% de nossa área para o grão. Nessa safra, a nossa produtividade do milho verão já chegou a uma média 162 sacas por hectare”, disse o produtor, lembrando que em quilo foi alcançada uma marca de mais de 9,7mil kg por hectare. “Passei a apostar no grão quando percebi que a procura pelo milho era grande e continua sendo”, explica

.Investimento no milho gera resultados

E a produção de milho no Piauí também tem crescido bastante pelo fato do produto ser uma das principais na cadeia alimentar do rebanho bovino. O farelo de milho, por exemplo, um subproduto, é usado para alimentar o gado, tanto de corte como de leite. E a produção de carne tem crescido bastante no estado, bem como na maioria do país. O rebanho bovino piauiense já é superior a mais de 1,7 milhão de cabeças, com maior destaque para a região Sul.

Outro fato é que neste ano, mesmo sem grandes festejos juninos, devido a pandemia da Covid-19, a venda do tradicional milho cresceu em relação a 2020. De acordo com os vendedores, os piauienses mantiveram, de alguma forma, a tradição de consumir o milho e as vendas melhoraram. Tudo isso foi refletido na balança comercial brasileira que registrou superávit de 10,3 bilhões de dólares, no primeiro semestre, o maior saldo mensal em 33 anos.

Quanto ao milho, as exportações cresceram 30% no primeiro quadrimestre deste ano, isso porque foram 3,8 milhões de toneladas até agora, 30% a mais que no mesmo período do ano passado. Segundo Carlo Logo, analista de mercado da Cogo Consultoria, mesmo com uma quebra na segunda safra do milho, o Brasil não deve ter problemas com o abastecimento interno, mas prevê alta no preço do grão.

"Devido a uma inesperada quebra na segunda safra do milho, que ainda não se sabe a proporção total, então não dá pra falar que haverá prejuízos, ainda que exista um excedente 50 milhões de toneladas de milho. Contudo, a expectativa é que preço do milho no interior deva ficar acima do preço no porto, já que o Brasil vai reduzir as exportações. Com isso, há uma tendência de pagar a preço mais alto no setor de consumidores, frangos e suínos", explica Cogo.

Maior produtor de grãos do país, Mato Grosso teve uma queda de 4,1% na safra total de milho esse ano. A escassez de chuvas prejudicou o desenvolvimento da segunda safra e deixou os agricultores apreensivos quanto à produtividade das lavouras.

No estado, algumas regiões enfrentam 40 dias de seca com perdas estimadas em até 50% da área. Já o estado do Paraná registrou uma queda de 35,4%, a maior percentualmente no país, saindo de 14,9 milhões de toneladas em 2020 para menos de 9,7 milhões de toneladas.

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