Liana Paiva
repórter
O ano de 2020 foi marcado pela pandemia da Covid-19. Em todo o planeta, poucos setores econômicos conseguiram crescer. O agronegócio brasileiro foi um deles, com destaque para o Piauí. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados essa semana, reforçam essa informação. De acordo com a pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM), foram colhidas 120 toneladas de uva no Piauí no ano passado, sendo 400% maior que as 24 toneladas obtidas em 2019.
Trata-se do recorde na colheita piauiense da fruta. Este é um número tão expressivo que, também, registrou o maior crescimento entre os estados produtores de uva no país, desbancando até o Rio Grande do Sul, líder nacional em produção que cresceu apenas 10% no mesmo período. Outros nove estados, por exemplo, mantiveram a mesma safra ou perderam produção entre os anos de 2019 e 2020. O segundo estado que mais cresceu foi o Ceará, quase 36%, índice bem distante do piauiense.
A área colhida de uva no Estado, também quintuplicou no período analisado, passando de um hectare apenas para cinco hectares. Quanto ao valor, enquanto a fruta gerou R$ 120 mil em 2019 aos produtores piauienses, a quantia cresceu quatro vezes no ano passado, alcançando uma receita superior a R$ 500 mil. “O aumento é justificado pelo plantio de novas áreas na tentativa de estabelecer a cultura na região semiárida”, esclarece Flávio Cipriano, servidor da Supervisão de Pesquisas Agropecuárias do IBGE no Piauí.
Até 2020, toda a produção de uva no Piauí concentrava-se na zona rural do município de São João do Piauí, mais precisamente no assentamento Marrecas, onde um grupo de agricultores trabalha com projetos de fruticultura irrigada há quase 15 anos. Trata-se da região mais seca do Estado, dona de um solo profundo, com poucas chuvas e sol o ano inteiro, condições propícias para o bom desenvolvimento dos parreirais.
A primeira colheita aconteceu em 2007, com uma produção de 17 toneladas da fruta. Segundo registros da Associação de Produtores Irrigantes de Marrecas, no início de 2011, a produção de uva saltou para 58 toneladas, chegando a alcançar 60 toneladas em janeiro. Um parreiral possui vida útil de 40 anos e a tendência da produção é crescer cada vez mais, obedecendo-se os critérios técnicos de poda e repouso das plantas. No Assentamento Marrecas, há condições de se conseguir até três colheitas por ano.
Fatores favoráveis a produção
A produção de uva nessa região do Piauí deu resultado graças à combinação de três fatores: solo, sol e água para a irrigação. O sistema utiliza água do lençol freático e tudo é gratuito. Quase a totalidade da uva produzida em São João do Piauí é adquirida por uma rede de supermercados de Teresina. Mas, também, é vendida para municípios vizinhos e até de outros estados da região. Existem, ainda, recursos aplicados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).
Entretanto, como foi dito pelo técnico do IBGE, novas áreas estão sendo plantadas na região do semiárido piauiense desde 2019. E isso foi confirmado com o crescimento em quatro vezes em apenas um ano e do registro de mais uma área no município de Bom Jesus, também na região do extremo Sul piauiense, e porta de entrada para o agronegócio de grãos do Estado. Lá, um grupo de professores começou um parreiral em aproximadamente dois hectares de terra.
O engenheiro Paulo Rodrigo Xavier Pereira, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), campus de Bom Jesus, é do Sul do país e foi para Bom Jesus para ministrar aulas. Nesse meio tempo, percebeu a possibilidade de produzir uvas na região. “Junto com outros professores, idealizamos o projeto que demos o nome de Santo Grau, e começamos a produzir a fruta”, relata o professor, acrescentando que o projeto é experimental, mas já vem mostrando grande potencial. “Nossa produção ainda é vendida localmente e varia de 50 a 200 quilos por semana”, destacou.
Estimativas são positivas
Já no Brasil, a produção de uvas estimada para 2021 alcançou um número significativo. As informações são do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, bem como do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enfatizando o aumento na produção de uvas com uma estimativa, em março, de 1,7 milhão de toneladas, crescendo 4,9% em relação ao mês anterior e 18,7% em relação a 2020, o que se deve ao bom rendimento das lavouras.
Em março, a produção do Rio Grande do Sul, responsável por 56,5% da safra nacional de uvas, foi reavaliada com crescimento de 8,5% em relação a estimativa anterior e de 29,2% frente a 2020, alcançando 950,2 mil toneladas. E segundo o levantamento, outras unidades produtoras também esperam o crescimento da produção em relação a 2020, como Pernambuco (15,3%) e Bahia (8,9%), estados em que se localiza o Vale do São Francisco e que, junto com o Rio Grande do Sul, respondem por 82,6% da produção nacional de uva. Enquanto no Sul, a maior parte das uvas tem como destino a produção de sucos, no Nordeste, a maior parte vai para o consumo de mesa.