Por Liana Paiva
O Piauí é um dos poucos estados do Nordeste que possui vários rios, perenes, cortando ou passando por dentro de seu território. Os rios Parnaíba e Poti são os mais conhecidos e expressivos, é verdade. Porém, o Estado ainda conta com muitos afluentes desses dois rios e neles é encontrada uma grande variedade de espécies de peixes. Não à toa, o Piauí foi destaque no Anuário 2020 da Peixe BR, que é a Associação Brasileira de Piscicultura, que ressalta, entre outros pontos da produção de peixes, o crescimento da atividade em todo o país.
Conforme o relatório, a piscicultura piauiense apresenta um período de estabilidade e, mesmo com a crise provocada pela pandemia da Covid-19, registrou um crescimento de 3% na produção de peixes, atingindo cerca de 19,9 mil toneladas ano passado. Segundo os dados, foram produzidos 7,5 mil toneladas de tilápia, pouco mais de 9,2 toneladas de tambaqui e quase 3,2 mil toneladas de outras espécies, como: surubim, piau, curimatã, panga e carpa. Esse resultado, colocou o Estado como o quarto maior produtor nacional e primeiro na região Nordestina.
“Rio Grande do Sul, com 16,3 mil toneladas produzidas é o líder do país, seguido por santa Catarina, com 8,5 mil toneladas; e Paraná com quase 3,8 mil toneladas de peixe de outras espécies pescados ano passado”, apontou francisco Medeiros, presidente da Peixe BR, colocando o Piauí na 14ª posição geral do país, uma colocação intermediária, quanto a produção total de peixes em 2020. O líder brasileiro continua sendo o Paraná, com pouco mais de 154,2 mil toneladas produzidas ano passado, um crescimento de 18,7%.
E um dos destaques da piscicultura piauiense tem sido o peixe panga. De carne saborosa e por não ter espinhas intramusculares, esse tipo de pescado acabou caindo no gosto popular, ainda mais por que ele custa 25% mais barato que qualquer outra espécie. Em Nazária, por exemplo, distante menos de 60 km de Teresina, existem fazendas com criatórios desse tipo de espécie de peixe. Lá, em um único ponto, são produzidos mais de 350 toneladas de panga pro ano, em 50 viveiros, distribuídos em 13 açudes
“Resolvemos abraçar esse tipo de espécie, além da sua qualidade da carne e boa aceitação no mercado, pelo fato de você praticamente dobrar ou triplicar a produção em um espaço menor, tendo em vista que o panga consome o oxigênio da atmosfera e não da água mesmo, então podemos colocar mais peixes em um espaço menor, garantindo assim uma maior produção”, disse Jean Carlos, psicultor e responsável pelo projeto de Nazária.
Na semana santa mesmo, a procura nos mercados piauienses pelo peixe panga foi enorme. De acordo com Jean Carlos, apesar da pandemia, não houve prejuízo nas vendas. “Nos organizamos previamente nesse período, porque a demanda é grande, mas usamos os dados da comercialização anual, usamos um programa pra controle financeiro e de custos e dá tudo certo no final”, acrescentou.
No mundo, a média anual de consumo de peixe é de 11 kg. Aqui no Brasil, bem como no Piauí, esse volume não ultrapassa os sete quilos. Então, a tendência é de crescimento desse mercado. Para isso, órgãos estaduais buscam oferecer atendimento especializado ou crédito para ampliar esse setor. É o caso do Sebrae Piauí. O fortalecimento da piscicultura tem sido um dos focos do trabalho do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, Sebrae no Piauí, no extremo sul do Estado. No município de Bom Jesus, distante 632 quilômetros de Teresina, por xempolo, as ações desenvolvidas no âmbito do Projeto Desenvolvimento Econômico Territorial, DET, tem mudado a realidade dessa cadeia produtiva na região.
O trabalho junto aos piscicultores de Bom Jesus iniciou em 2015, após um diagnóstico do Projeto DET, em que foi identificada essa potencialidade na região. Ano passado, começaram as capacitações, quando ficou claro que uma das estratégias para a organização dessa cadeia produtiva seria o associativismo.
“Mobilizamos os piscicultores para que fosse constituída uma associação, para atendê-los com consultorias e capacitações. Já realizamos cursos básico de piscicultura, levantamento topográfico e geográfico das propriedades, consultorias in loco nos criatórios e outras ações”, explica o analista do Sebrae e gestor do Projeto DET do Extremo Sul Piauiense, José Henrique Quental.
Já a Secretaria de Agricultura Familiar (SAF), por meio da Superintendência de Programas para Agricultura Familiar e da Diretoria de Fomento à Piscicultura, colocam como um dos desafios prioritários a comercialização da produção familiar, principalmente neste período e no pós-pandemia. A Superintendente dos Programas da Agricultura Familiar, Patrícia Vasconcelos, informa que são muitas as ações previstas no Plano Estadual de Aquicultura (2019/2023), dentre as prioritárias, o apoio com a construção e estruturação com equipamentos de Unidades Básicas de Processamentos de Pescado (UBPP).
“Esta é uma demanda dos piscicultores que foi apresentada ao governo em 2019 através do Conselho de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Entre Rios (CDTS – Entre Rios) com apoio da câmara setorial de piscicultura do estado”, explicou. O diretor de Fomento à Piscicultura, Luciano Sousa, informa que a proposta já está em fase avançada sendo que os projetos básico e executivo foram concluídos. O processo de licitação das obras está em andamento, mesmo no período de pandemia.
Da mesma forma, o processo de licitação para compra de equipamentos para o funcionamento da UBPP está pronto. Este projeto prevê a construção de uma estrutura industrial com 70m² e outra de apoio com 29,25 m², instalados em uma área de um hectare com capacidade de beneficiamento de duas toneladas de pescado por dia, situada em Demerval Lobão, no Território Entre Rios. A escolha do local foi definida em plenária pelo CDTS – Entre Rios. A localização é estratégica, por estar situada a 35 km de distância do maior centro consumidor do estado (Teresina) e pela proximidade que estará dos produtores (piscicultores) dos outros municípios.
O secretário de Agricultura Familiar, Hérbert Buenos Aires, ressalta que o Governo do Estado está atento ao que está acontecendo na cadeia da piscicultura e busca alternativas para contribuir com a manutenção e desenvolvimento da atividade. O gestor frisa ainda a importância da contribuição de todos os parceiros que estão atuando nas ações da piscicultura, por meio da participação das discussões dentro da câmara setorial de piscicultura Estado.