Por Liana Paiva
O ano de 2021 começou bem mais adocicado para o setor apicultor piauiense. E o motivo não é pra menos: O Piauí é atualmente o maior exportador de mel do país. O feito foi conseguido no primeiro bimestre do ano, quando o Estado arrecadou em vendas ao exterior pouco mais de US$ 9,8 milhões, valor referente à comercialização de 2.825 toneladas do produto. Esse volume representa 31,7% do total de mel exportado do país, ou seja, cerca de um terço do mel brasileiro consumido lá fora é piauiense.
Os dados são do Agrostat Brasil, ferramenta que reúne números de exportação e importação de produtos agropecuários, e que verificou ainda um crescimento de 112,4% das exportações do mel brasileiro neste primeiro bimestre de 2021, em comparação com mesmo período do ano passado. Entre janeiro e fevereiro, o Brasil exportou quase 8,9 mil toneladas de mel in natura, com um faturamento de US$ 29,1 milhões, um crescimento de mais de 358%. O preço médio de comercialização do produto foi de US$ 2,86/kg,
Todos esses números foram confirmados pelo Sebrae Piauí, que é o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, que ano passado já observou o Estado como o segundo maior produtor de mel do país, ficando atrás apenas de Santa Catarina. Como em 2020, os Estados Unidos continuam como principal destino para o mel piauiense, com 70% do volume exportado. Em seguida vem, pela ordem, Alemanha, Canadá, Países Baixos, Reino Unido e Panamá.
“Nos últimos 20 anos o Piauí sempre apareceu como o terceiro maior mercado produtor de mel do país. Porém, por conta dos bons resultados do ano passado, o Estado conseguiu ultrapassar o Panará e assumir a vice-liderança nacional. E tudo indica que esse ano possasse chegar ao topo do ranking”, destacou Mercês Dias, consultora do Sebrae-PI, destacando que no primeiro bimestre as chuvas chegaram mais cedo. “Apesar de irregulares, elas vieram mais cedo e em bons volumes para a florada’, pontuou.
Porém, o elevado índice de aumento das exportações do mel piauiense se deve, também, a outros diversos fatores, sendo dois com maior relevância. O primeiro é a certificação orgânica do produto, que faz com que ele tenha maior valor agregado, e o segundo, a certificação em Comércio Justo, que favorece a manutenção dos preços de venda do mel. “Atualmente, mais de 15 mil pessoas vivem exclusivamente da apicultura no Piauí e desses mais de 3 mil tem certificados”, reforma Mercês.
A Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido Brasileiro, Casa Apis, com sede em Picos, e a Cooperativa Mista de Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes, Comapi, ambas no sul do Piauí, foram algumas das entidades que mais produziram mel no País, ocupando posições de destaque no ranking nacional. A Casa Apis ficou em 12º lugar e a Comapi ocupou a 15ª posição. Essas cooperativas são atendidas pelo Projeto Apis Araripe, executado pelo Sebrae no Piauí.
“A Casa Apis, sozinha, exportou mais de 10% do mel piauiense já nos dois primeiros meses do ano”, disse a consultora do Sebrae-PI, acrescentando que os preços de exportação do mel piauiense são bastante positivos, além de favorecerem os pequenos produtores, que não dependem mais dos atravessadores. “Hoje, os valores do mel para exportação são também um atrativo para que outros apicultores passem a fazer parte das cooperativas e procurem os certificados”, reforçou.
Os municípios piauienses que mais produzem mel são Picos, Pio IX, Itainópolis e Campo Grande do Piauí. Mas esse produto pode ser encontrado de norte a sul do Estado. O Piauí já tem tradição na produção de mel e derivados, sendo reconhecido nacionalmente. Com o crescimento das exportações, os produtores atingiram preços de venda nunca conseguidos. A média por quilo do produto na exportação é de US$ 2,87 (cerca de R$ 15), mas dependendo da negociação esse valor pode atingir até US$ 3,24 (quase R$ 18), como é o caso da comercialização feita para o Canadá.
Samuel Araújo é o proprietário da maior empresa de produção e exportação do mel no Piauí. No ano passado, o grupo que tem sede em Oeiras, no sul do Estado, exportou 6.5 mil toneladas do produto. Para 2021 a estimativa é de um aumento nas vendas internacionais para 8 mil toneladas, um aumento de quase 20%. “Nosso mel é proveniente de 2 mil apicultores, a maior parte está no Piauí, mas compramos também de outros estados do Nordeste”, disse o empresário que atua há 27 anos na apicultura e exporta o produto para Estados Unidos e países da Ásia, Europa e África. “ Nosso mel é único, concebido de forma totalmente orgânica e com testes de alta qualidade. Além de ser puro, tem certificações e testes laboratoriais. Essa qualidade nos trouxe recentemente clientes até na Oceania”, completou Samuel.
Outro ganho que esse produtor tem é na geração de renda. Com os altos preços do mel, a rentabilidade com a apicultura tem sido cada vez maior. Além das vendas para o mercado externo, os produtores de mel comercializam a produção através das compras governamentais, que também garantem a manutenção dos preços. Um exemplo claro dessa garantia é a venda de mel feita para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O preço médio da comercialização para o órgão Federal, por meio do Plano de Aquisição de Alimentos, gira em torno de R$ 8,45 por quilo.