Já há algum tempo que o Brasil é líder mundial em exportação de carne bovina. E essa demanda por proteína de origem animal é crescente em virtude, entre outros fatores, do crescimento da população. Esse fato vem cobrando um aumento na eficiência dos sistemas produtivos, dentre eles, os de carne e leite. E o país tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, estimado em mais de 221 milhões de cabeças, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Diante desse quadro de crescimento no mercado exterior no consumo de carne bovina brasileira, é preciso aumentar a produtividade e qualidade da proteína. E entre as ferramentas utilizadas para o aumento dessa produtividade, está a inseminação artificial, que permite melhorar o rebanho através de multiplicação de características produtivas desejáveis.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), o uso da inseminação cresceu quase 26% esse ano. Cerca de 75% dos municípios já utilizaram a tecnologia, o equivalente a pouco mais de 4,1 mil cidades, sendo 28 delas no Piauí. Só esse ano, já foram coletados e comercializados cerca de 4,5 milhões de doses de sêmen de raças de corte no país. E a maior parte dos investimentos está sendo feita em raças nobres.
“O criador realmente acordou para o impacto da genética, não só no aumento da produtividade, mas também na redução dos custos na fazenda. Isso porque a genética consegue atuar nas duas pontas”, destacou Felipe Brasileiro, médico veterinário e representante piauiense empresa multinacional ABS, que é líder mundial na comercialização de sêmens.
Profundo conhecedor do mercado, Felipe Brasileiro diz que o Piauí é um dos estados mais promissores nesse setor, embora os dados ainda sejam considerados tímidos frente ao cenário nacional. Mas o crescimento ano a ano revela o interesse de pecuaristas e grandes empresários piauienses em investir na qualidade genética dos bovinos. Tudo tendo como meta o melhoramento genético das raças de corte e, claro, valorizando a qualidade da carne.
“Ano passado, o Piauí comercializou pouco mais de 29 mil doses de sêmens, o que já foi um número bastante elevado. E, neste ano, só nos três primeiros trimestres (de janeiro a setembro), já foram comercializadas mais de 49 mil doses no Estado, um crescimento de quase 70% de tudo que foi vendido de sêmen em 2019”, revela Felipe, acrescentando ainda que com esse resultado o Piauí registrou o maior crescimento do Brasil.
E a tendência é só aumentar, pois pesquisas da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) mostram que os trimestres que mais se vendem sêmen são o primeiro e o último, ou seja, estamos ainda fechando esse último trimestre de 2020. “Significa que até o final de dezembro as vendas no mercado piauiense de sêmen tendem a crescer. Acreditamos que feche o ano em pouco mais de 70 mil semêns vendidos, o que representa um verdadeiro recorde no Estado”, calcula o médico veterinário.
Melhoramento genético
Segundo dados da Asbia, a compra de material genético de algumas raças de corte teve forte aumento no mercado, como Nelore, Brahman, Angus e Brangus. E tudo isso reflete diretamente no aumento do preço do produto, pois é uma causa intrínseca para o investimento, sendo necessário manter a alta qualidade para conseguir vencer a concorrência e, ao mesmo tempo, ter a possibilidade de cobrar um alto valor pelo produto.
O melhoramento genético também faz com que o gado produza mais leite ou ganhe mais carne, mantendo o mesmo nível de alimentação do rebanho. Os animais se tornam mais saudáveis e resistentes às doenças, o que gera menor gasto com medicamentos e ações médicas. “Apesar de que a inseminação de gado leiteiro no Brasil ainda é insignificante, frente outros mercados”, destacou Felipe Brasileiro.
Enquanto o Brasil é o líder mundial em inseminação de gado de corte, com 16% do rebanho adepto a prática de melhoramento genético, o país fica entre os últimos no caso do gado leiteiro, com menos de 1% do seu rebanho inseminado, indo de encontro com países europeus que inseminam mais de 95% do rebanho leiteiro e os Estados Unidos, com 80% inseminados. Por isso, a grande procura pela carne brasileira. “E um dos motivos para essa pouco procura ainda da inseminação do gado leiteiro brasileiro é a mão de obra que, no Brasil, como na China, segundo no ranking mundial de inseminação em gado de corte chega a dez por cento, ou seja, é bastante barata e ainda pequena”, acrescenta o médico veterinário destacando, também, que falta mão de obra qualificada no país, bem como no Piauí.
No entanto, a prática da inseminação artificial vem se massificando nas fazendas do país e agregando valor a carne nacional. E uma das vantagens para o ramo é que o uso da inseminação diminui o tempo de gestação dos animais fêmeas, montando uma estação própria e assim encurtando a estação de coberta de 150 dias, que é o tempo médio com a utilização de um touro, para até 48 dias.
Pecuária profissional em evidência
E foi pensando nessas vantagens que o pecuarista Leonardo Mendes, que atua no setor há menos de um ano, começou a investir na prática da inseminação artificial. Dono de uma fazenda na cidade de Piracuruca, no Norte do Estado, ele começou a investir na pecuária profissional e já de cara virou adepto da compra de sêmens para os seu rebanho. “Minha ação na pecuária vem de berço. Meu avó era fazendeiro, a gente sempre foi criado nesse ambiente rural e com isso nasceu a paixão. Hoje estamos no segmento de corte, com Nelore. E para melhorar nosso rebanho, agregando valor a eles, passamos a investir na compra de um touro de central em um leilão e isso foi um divisor de águas. Ele tem uma reserva genética muito forte e assim começou tudo e estamos indo bem”, falou.
E tudo indica que a alta tecnologia genética chegou para ficar no ramo. Os consumidores querem carnes de melhor qualidade e o melhoramento genético permite que o produtor forneça isso ao mercado. Esse novo patamar de qualidade e importância nasce de programas para a conscientização de que o mercado externo exige melhores condições de carne e carcaça. E os fatores que destacam o sêmen de boi no mercado são justamente a atração dos produtores rurais pela ideia, a alta demanda da carne bovina brasileira no exterior e a consolidação no mercado.