Liana Paiva
repórter
Com a disparada dos preços dos alimentos, a maioria deles provocados pela pandemia da Covid-19, muita gente teve que se virar como pode para colocar comida na mesa e reduzir o impacto da inflação no bolso. E, nesse malabarismo, teve brasileiro que substituiu, além de ser criativo na hora de escolher o que vai para o carrinho, optando por opções mais baratas ou mudando o cardápio. E um dos produtos que mais sofreu foi a proteína animal, sendo ela essencial à alimentação.
A carne bovina, por exemplo, que acumula um aumento de 35,7%, passou a ser menos consumida no dia a dia. Em substituição, o consumidor passou a comprar mais leite, frango e ovos. Porém, nenhuma deles cresceu tanto na procura quanto a carne suína.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 13 milhões de animais foram abatidos, o que representa uma alta de 5,7% frente a 2020. E a carne caiu tanto no gosto do brasileiro que o consumo de suíno fechou ano passado em 16 kg por habitante, o maior de toda a história.
E o Piauí foi um dos estados onde o abate de suínos mais cresceu ultimamente. Os números mostram que no primeiro semestre deste ano, os criadores piauienses abateram quase 14,2 mil cabeças de suínos, ou seja, um crescimento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado. O número é tão alto que supera em 3% o registrado em 2019, ano pré-pandemia, quando pouco mais de 13,7 mil animais foram abatidos. Em termos de peso, foram mais de 277,8 mil quilos de carne produzidas, correspondendo a uma alta de 19,8% se comparada a 2020.
“Trata-se de um crescimento considerável e bem acima do que o registrado no ano passado, revelando que houve uma procura muito boa da carne suína nos últimos dois anos”, frisa Eyder Mendes, supervisor de informações do IBGE no Piauí. Ele destaca que o crescimento no peso produzido no Estado ficou entre os maiores do país. “Porém, não posso afirmar de fato a posição que a produção piauiense ficou, tendo em vista que quatro estados deixaram de informar os dados ao IBGE’, enfatiza Mendes.
Granja de suínos em Hugo Napoleão (PI)
Os quatro estados que deixaram de informar os números são: Roraima, Tocantins, Paraíba e Sergipe. Frente a todos os outros entes federativos do país, o Piauí apareceu entre os dez primeiros na produção de carne suína. Maranhão, com uma alta de 183%, surge na lista como o que mais teve crescimento na quantidade de peso produzido no primeiro semestre deste ano, comparando com o mesmo período de 2020. Foram quase 498 mil quilos de carne produzidos pelo vizinho Estado.
O rebanho piauiense de suínos é um dos dez maiores do país com pouco mais de um milhão de cabeças, sendo que menos de 177 mil delas são animais matrizes. E a criação dos suínos tem se expandido no Estado com pocilgas espalhadas em todas as regiões e o crescimento constante na produção de carne do animal. Como é o caso do criador Jesus Filho, que tem uma propriedade no município de Hugo Napoleão, na região do Sul do Estado, com cerca de 50 matrizes, mas que produz uma média de 100 animais por mês. “Atendemos ao mercado do Médio Parnaíba, com ênfase nas cidades de Água Branca, Regeneração e Hugo Napoleão, com quase cem animais ao mês”, revela Jesus, ressaltando que sua propriedade trabalha com todos os cuidados orientados pela Vigilância Sanitária. “A carne de porco tem sido melhor aceita na sociedade, acabando com o preconceito que ela é mais gordurosa”, disse.
"Carne suína é opção saudável", diz nutricionista
E o que o criador alega é confirmado por especialistas: a carne de porco não é tão gordurosa e pode representar um poder nutricionais maior até que outros tipos de proteína. “Muita gente ainda olha torto para a carne suína, por achar que ela não é saudável. Uma das acusações que pesa sobre a carne suína é que ela é muito gordurosa. Pode acreditar: isso não é verdade, especialmente nos dias atuais” ressalta a nutricionista Natasha Saldanha, pós- graduada em Nutrição Clínica e Esportiva.
A mudança deve-se ao fato da dieta desses animais está bem mais balanceada do que antigamente e eles passaram por alterações genéticas que fizeram com que ficassem muito mais magros, perdendo 31% de gordura, 14% de calorias e 10% de colesterol. “Então, hoje, é uma opção interessante e com alto valor biológico com todos os aminoácidos que precisamos, além de ferro, zinco e selênio, nutrientes indispensáveis para o fortalecimento do sistema imunológico”, destacou a especialista.
Natasha Saldanha - nutricionista
Seu corte mais magro, o lombo, é equivalente ao filé mignon bovino nesses quesitos e fica abaixo da sobrecoxa de frango, por exemplo. Enquanto 100 gramas do lombo assado têm 210 kcal, 6,4 gramas de gordura e 103 miligramas de colesterol, ou seja, a mesma quantidade de filé mignon bovino grelhado apresenta 220 kcal, sendo 8,8 gramas de gordura e 103 miligramas de colesterol. Já a mesma porção de sobrecoxa de frango assada com pele tem 260 kcal, 15,2 g de gordura e 158 miligramas de colesterol. “É uma ótimo opção para variar numa dieta, por exemplo”, completou.
Exportações em pleno crescimento
O crescimento da procura de carne suína também é refletido nas exportações do produto. De acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações brasileiras do produto (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) registraram alta de 11,53% em volumes nos oito primeiros meses de 2021, em relação ao mesmo período do ano passado. Isso representa um total de 756,5 mil toneladas entre janeiro e agosto deste ano, contra 678,3 mil toneladas em 2020.
Em receita, as vendas de carne suína alcançaram US$ 1,805 bilhão, número que supera em 21,3% o resultado alcançado no mesmo período de 2020, com US$ 1,488 bilhão. Considerando apenas o mês de agosto, foram exportadas 91 mil toneladas de carne suína, número 7,5% inferior ao efetivado no mesmo período do ano passado, quando foram embarcadas 98,5 mil toneladas. Em receita, o setor registrou estabilidade, com US$ 209,1 milhões em agosto deste ano, contra US$ 209,2 milhões no ano anterior.
A China manteve-se como principal destino das exportações brasileiras, com 391,1 mil toneladas importadas entre janeiro e agosto, número 17% superior ao realizado no mesmo período de 2020. Também foram destaques o Chile, com 43,4 mil toneladas (+76%); Filipinas, com 15,9 mil toneladas (+203%) e Argentina, com 19,2 mil toneladas (+88%). “O desempenho das exportações para parceiros históricos do Brasil, como é o caso do Chile e da Argentina, por exemplo, e o retorno das exportações para a Rússia vêm se somar aos aumentos expressivos de volumes exportados no ano para os países da Ásia que, todavia, seguem, em alguns casos, com déficits de proteína animal”, diz Luís Rua, diretor de Mercados da ABPA.
Entre os estados exportadores, Santa Catarina segue na liderança com 380,9 mil toneladas exportadas entre janeiro e agosto, volume 10% superior ao efetuado no mesmo período de 2020. Em seguida, estão Rio Grande do Sul, com 206,5 mil toneladas (+20,73%), e Paraná, com 98,9 mil toneladas (+5,15%).