Pecuaristas do MS pretendem levar cria e recria para o cocho em 2021

Um grupo de pecuaristas do Mato Grosso do Sul pretende alterar a estratégia de condução da atividade durante o período seco do ano.

Um grupo de pecuaristas do Mato Grosso do Sul pretende alterar a estratégia de condução da atividade durante o período seco do ano (maio a outubro) através da adoção da técnica do sequestro de animais. O objetivo é produzir comida barata e eficiente para alimentar diversas categorias animais no cocho, dentro de um espaço delimitado, retirando (por isso a denominação “sequestro”) os lotes das pastagens, que neste período do ano geralmente têm oferta reduzida em quantidade e qualidade.

Com este pensamento, oito produtores participaram de uma expedição técnica ao Estado de Goiás, que começou no dia 16 de setembro e terminou no último final de semana. O grupo visitou quatro fazendas goianas que promovem o sequestro de animais e ofertam volumoso a base de sorgo com genética boliviana – chamado Sorgo Gigante Boliviano (Agri002E).

Além dos oito produtores, a expedição teve o acompanhamento de seis técnicos da equipe da Latina Sementes, representante da genética Agricomseeds no Brasil. Durante quatro dias a expedição fez visitas técnicas em quatro propriedades: Fazenda Flamboyant, do Grupo Lageado, em Mineiros (GO); Fazenda J&F Floresta Agropecuária Araguaia, em Nova Crixás (GO); Fazenda Favorita, do Grupo Kiko´s Ranch, também em Nova Crixás (GO) e Fazenda São Judas Tadeu, do Grupo De Marchi, em Matrinchã (GO).

“O custo da arroba produzida na seca estava consumindo boa parte de nossa receita. Desde o ano passado resolvemos vender os animais antes deste período, mas assim que as chuvas voltavam tínhamos de comprar. Diante de um preço altíssimo da reposição resolvemos buscar um novo caminho e o uso do sorgo boliviano, viabilizando o sequestro de novilhas, garrotes, vacas e bezerros, nos chamou atenção e resolvemos conhecer a técnica de perto, já usada com sucesso por grandes propriedades de Goiás”, conta o pecuarista Rafael Nunes Gratão, um dos participantes da expedição e cuja família possui propriedade de cria em Corumbá, no Pantanal,  e de recria e terminação em São Gabriel do Oeste (norte do MS).

As visitas, segundo Gratão, foram esclarecedoras e mostraram que é viável retirar algumas categorias de animais do pasto durante a seca e submetê-las à alimentação no cocho, à base de silagem de sorgo. “Hoje no Mato Grosso do Sul as melhores fazendas conseguem um ganho médio diário (GMD) de até 200 gramas/animal nos meses secos. Conseguindo produzir um volumoso barato e obtendo um GMD entre 600 a 700 gramas/dia, a coisa muda totalmente de figura”, avalia. Pelos planos que tem a partir de agora, tudo indica que Gratão está realmente convencido: “Nunca plantamos o sorgo gigante da Agricomseeds, mas já está em nosso planejamento de 2021 o cultivo de 100 hectares (ha) para tentar alimentar perto de 1.000 cabeças”.

O produtor, que preside o Movimento Nacional dos Produtores (MNP), disse que o objetivo agora é trabalhar para disseminar a técnica ao pecuarista que tiver interesse em adotá-la: “O grupo que viajou a Goiás reuniu lideranças de outras entidades como a Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce e Famasul Jovem e isso certamente facilitará a disponibilidade das informações”.

Números

De acordo com Luis Caires, gestor da Latina Sementes para parte da região Centro-Oeste e Nordeste, o custo de produção da tonelada de silagem de sorgo gira hoje em torno de R$ 40/tonelada (t), enquanto a silagem de milho fica por volta de R$ 150/t. “No custo da colheita, o valor é semelhante, mas já tivemos áreas produzindo até 100 t/ha de silagem de sorgo contra 30 t/ha de silagem de milho”, afirma. Outra vantagem, segundo ele, é a rusticidade do material: “O sorgo gigante da Agricomseeds consegue se dar bem em áreas onde o milho não vinga. Conheço cultivos em áreas com precipitação média de apenas 400 mm/ano onde o sorgo rendeu silagem na ordem de 40 t/ha.” 

As sementes do sorgo Agri 002E foram desenvolvidas e são multiplicadas com exclusividade pela Agricomseeds em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.  O material é mais conhecido popularmente como Sorgo Gigante Boliviano pela sua origem e pelo fato de seu porte (atinge alturas superiores a cinco metros). Começou a ser distribuído no Brasil ao final de 2017 e de lá pra cá vem ganhando espaço no País pela seu baixo custo, eficiência, adaptabilidade e versatilidade. Além de seu uso em pastejo direto ou como matéria prima para a produção de silagem na pecuária, o sorgo vem sendo bem utilizado na agricultura para a estruturação de solo, deixando uma palhada muito eficiente para o plantio direto.

Em experimentos realizados no Paraná pela G12 Agro Consultoria, sob a coordenação do engenheiro agrônomo Igor Quirrenbach, o sorgo gigante conseguiu uma produção de 105 t/ha de massa verde quando plantado na safra de verão (ao longo de 134 dias) e de 50 t/ha na safra de inverno/safrinha (ciclo de 115 dias). “Na pecuária de corte, por exemplo, um hectare cultivado com o sorgo gigante pode alimentar até oito unidades animal (ua)/ha/ano na primeira safra e cinco ua/ha na safrinha”, garante. O ganho de peso diário (GMD), segundo ele, pode variar entre 0,5 a 1,5 kg, dependendo do nível de suplementação da dieta.

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