Gado que bebe água suja pode perder mais de 90 gramas por dia

“É uma diferença muito grande e esta diferença, em ganho de peso, traduz em rentabilidade para a fazenda”, destaca veterinário

Da cidade de Apuí, no Amazonas, o pecuarista Valter Konrad, da Fazenda Dois Irmãos, compartilhou sua preocupação com a água que serve para o gado. Ele tem pequenos açudes na propriedade e quer saber se tem como fazer a limpeza ou exercer algum tipo de controle sobre a qualidade do líquido que serve à hidratação dos bovinos, como aplicar produtos como cal ou cloro.

O médico veterinário especialista no tema Fernando Loureiro esclareceu as dúvidas de Konrad, indicando os pontos positivos e negativos do fornecimento de água nos açudes. “A grande vantagem dos açudes, que são utilizados para fornecer água para bovinos no Brasil todo, é a sua facilidade de captação de água de chuva. Os açudes ficam em locais mais baixos nas pastagens e captam, no período chuvoso, esta água para servir durante o ano inteiro. Mas nem tudo são flores”, ponderou.

“Os açudes tem o problema de, na época de estiagem, na época de inverno, que tem menos chuvas, de começar a secar. Eles diminuem de volume. Ocorre evaporação pela insolação, o vento e até mesmo infiltração no solo e aí vai concentrando os sólidos totais, sujeira do açude, lama, lodo, algas, restos de animais mortos, esterco dos animais… tudo isso se concentra numa lama e o animal se vê obrigado a beber aquilo. Os animais bebem menos, bebendo menos eles têm um desempenho pior porque eles também vão comer menos e ficam muito mais expostos a doenças, a contaminações. Se concentra ali a ação de bactérias, de protozoários, de vírus, de verminoses, então tem este problema”, alertou.

“O que pode ser feito? Que produto que pode ser utilizado? Na verdade, no açude a gente não exerce o controle. A grande vantagem de controle, de gestão, é no bebedouro artificial. Se você tiver um bebedouro em que você encanou e captou esta água do açude, levando até o bebedouro, os animais já não entram, eles não revolvem o fundo, não vão estercar lá dentro. E tem a facilidade do pessoal de apoio na fazenda, os peões, fazerem a limpeza frequente. Aí, sim, podem ser usados produtos como cloro. Existem hoje produtos probióticos, detergente para lavar o bebedouro. No açude, você não tem o controle da quantidade de água, da capacidade de água que tem ali. Em alguns períodos os açudes vão ter mais água, pode estar numa época chuvosa. Em outros, estará mais seco e este volume vai estar muito pouco. Até mesmo estes produtos, por exemplo, a cal virgem, que é utilizada para sedimentar a sujeira que está em suspensão, levar para o fundo, ela tem uma ação de efeito muito curta, não tem efeito duradouro, então teria que repetir e, na nossa concepção, não seria viável economicamente”, sustentou.

O veterinário comentou um gráfico comparando o desempenho dos animais que bebem água suja do açude e no bebedouro artificial. “A única diferença foi essa, a forma de se fornecer água para os animais. Os animais eram da mesma categoria, da mesma raça, da mesma idade, peso, eram equilibrados e em pastagens semelhantes, mesmo tamanho e lotação. A diferença foi só na água. E vocês veem que, em um ano seco, em que o açude seca demais e concentra esta sujeira, os animais apresentaram uma perda de peso diária na ordem de 80 a 90 gramas. E no mesmo período, na mesma época, os animais que estavam em bebedouro apresentaram um ganho de peso de 700 gramas. É uma diferença muito grande e esta diferença, em ganho de peso, traduz em rentabilidade para a fazenda”, ressaltou.

Fonte Giro do Boi

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