As adolescentes cariocas estão tendo relações sexuais mais cedo, com mais parceiros e se descuidando do uso de preservativos. Assim, estão cada vez mais expostas a doenças sexualmente transmissíveis, especialmente lesões de colo de útero provocadas pelo vírus HPV. É o que mostra pesquisa realizada na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz.
O estudo se baseou num gigantesco banco de dados do Instituto Nacional do Câncer: foram analisados nada menos que 1,5 milhão de prontuários de exames preventivos de colo de útero (ou Papanicolaou) realizados entre 1999 e 2005, entre diversas faixas etárias, na rede pública de saúde.
O estudo é assinado pela pesquisadora Micheli Lopes Pedrosa, ginecologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Através da base de dados do Intstituto Nacional de Câncer, ele fez a comparação entre o índice de lesões em dois grupos: um formado por mulheres de 20 anos ou mais, e outro por meninas e adolescentes de 10 a 19 anos. A incidência de lesões precursoras de câncer é três vezes maior entre as adolescentes.
Segundo a pesquisadora, esta maior exposição é relacionada a mudanças nos hábitos sexuais da população mais jovem. A média de idade de iniciação sexual apontada pelo estudo foi de 15 anos. E o percentual de jovens que relataram usar preservativos foi de apenas 20%. Segundo Micheli Pedrosa, as jovens têm em média 3 parceiros sexuais até completar 20 anos.
"Percebemos que existe um grande grupo se expondo desde cedo às doenças sexualmente transmissíveis, especialmente as lesões provocadas pelo HPV. E, desta forma, provavelmente, o câncer aparecerá mais cedo", diz ela, acrescentando que tem diagnosticado a doença em mulheres de 25 a 30 anos.
Vacina
Existe vacina contra o HPV, mas ela não está disponível na rede pública. E é cara: aplicada em 3 doses, tem preço médio de R$350 cada aplicação. Esta vacina, segundo a pesquisadora, imuniza contra quatro subtipos dentre os 100 identificados do vírus. E estes quatro subtipos representam 70% dos casos. Por isso, ela faz um alerta.
"Muitas meninas são vacinadas em clínicas particulares. Mas isso não significa que elas estejam 100% protegidas. E nem que elas não precisem fazer o exame preventivo. A gente observa que meninas e adolescentes não estão usando preservativo. A minha geração, tenho 37 anos, tinha mais preocupação com isso, porque a gente viveu o momento em que a Aids começou a aparecer", comenta.
Fonte Terra