Por Liliane Pedrosa
Falar de pandemia se tornou algo comum, mas sob cada olhar, uma forma de observar a situação do que se vive no Brasil e no mundo. O médico sanitarista e professor da FSP-USP, Gonzalo Vecina Neto, foi entrevistado desta quinta-feira(01) de abril, no programa Canal Saúde, ao vivo, pela TV Meio Norte. A apresentadora Karla Berger, trouxe nessa conversa on-line as impressões dele sobre o momento atual.
Fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e ex-secretário municipal de Saúde, o professor, que é do Departamento de Política, Gestão e Saúde da FSP-USP, se disse aterrorizado com o que se vive no mundo, destacando nunca ter visto algo igual em 45 anos de trabalho.
Um número de mortes que assusta e a falta de insumos para garantir hospitais funcionando, além de vacinas que imunizem a população de forma satisfatória e rápida.
“Não estamos mais falando em colapso de hospital. Estamos falando em colapso de cemitérios. Aqui em São Paulo os sepultamentos estão acontecendo a noite toda por conta do grande número de corpos”, diz o especialista destacando que a situação atual que o Brasil vive poderia ter sido evitada, e ainda pode-se mudar essa realidade, mas é preciso que cada um faça sua parte, segundo ele.
Prevenção
Para isso, não tem nada de complicado, por ser tão simples é que as pessoas não entendem e acabam negligenciando a sua tarefa nessa busca para acabar com a pandemia.
“Sabemos que o vírus produz morte, mas muitas delas podem ser evitadas com medidas simples: uso de máscaras, higiene, isolamento social, mas não estamos fazendo isso, infelizmente”, diz.
Gonzalo Vecina Neto destaca que tudo vivido no dia de hoje, principalmente, quando se fala em contaminação e novos casos da Covid-19 é resultado do que se fez, exatamente, há catorze dias.
“É fruto do tipo de comportamento que eu tive há catorze dias. Eu saí na rua, eu fiz aglomeração, não usei máscara. Quando as pessoas se encontram, elas trocam material biológico, elas se infectam”.
Dois Caminhos
O recado parece que ainda não surte efeito em muita gente, mas como sanitarista e profundo conhecer desse assunto, ele lembra que só há dois caminhos para essa doença. “Por volta do oitavo - dia depois que você é contaminado - ou você se cura ou vai parar no hospital. E lá você pode ir para uma internação comum ou ir para uma UTI, onde há um alto índice de mortalidade”.
Em resposta a apresentadora Karla Berger sobre os tratamentos preventivos com medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina e azitromicina, o médico foi categórico em suas colocações.
Ineficácia
“Não acredito na eficácia. É apostar em medicamentos sem comprovação científica. É um erro. Sou contra. Esses remédios deram certo em laboratório, na placa de petri. Quando passa para gente, não funciona. O que existe é fé, crença. Esses remédios devem ser utilizados quando se tem uma infecção bacteriana, mas fora dessas circunstâncias, não tome esses remédios. Ficam tomando ivermectina para tratar Covid e acaba atacando seu fígado. Muito cuidado”.
Sobre a vacina, ele faz questão de lembrar que não há forma mais eficaz para mudar essa realidade. “No momento a vacina é pouca e tem que fazer o isolamento e uso de máscaras. Não precisam ter medo de tomar a vacina. As vacinas de hoje são as mais seguras do que no passado. O seu objetivo é estimular seu organismo a produzir anticorpos. Vacinação não é um ato individual. É um ato coletivo. Só vai poder sair todo mundo quando todos estiverem vacinados. E no ritmo que o Brasil e dadas as vacinas que temos, nós só vamos ter um descanso por volta de novembro, dezembro e se todas as vacinas forem entregues no prazo”.