A médica esposa do Daniel Flauberth contou, com exclusividade para o repórter Kilson Dione, como tudo aconteceu na tragédia familiar registrada no último sábado (30), no bairro São Pedro, na região Sul de Teresina.
A mulher, que não quis se identificar, negou que a criança envolvida na briga entre os familiares, seja autista. Ela declarou que toda a discussão iniciou após seu irmão, Felipe Guimarães, realizar xingamentos e palavras pejorativas ao seu marido.
No dia da fatalidade, Felipe Guimarães Martins Holanda, 37 anos, foi atingido por um disparo de arma de fogo na região da virilha, mas não resistiu à hemorragia e morreu no fim da tarde no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
Já na madrugada de domingo (31), Daniel Flauberth de 38 anos, que foi baleado na cabeça durante confronto com o próprio cunhado também foi a óbito. A terceira vítima, Juliana da Silva, também foi atingida na cabeça e encontra-se internada com o quadro de saúde grave.
De acordo com as primeiras informações , Daniel teria se incomodado com a filha de seu cunhado, Felipe. A criança seria portadora de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e teria passado a noite chorando, o que ocasionou uma discussão ainda no dia, mas a esposa de Daniel revela que seu irmão tinha histórico de agressividade e distúrbios mentais.
Confira os trechos da entrevista:
O que de fato aconteceu na sua casa naquela manhã?
- Houve um desentendimento entre meu irmão e meu marido na manhã de sexta-feira. A gente conseguiu resolver, conversando e quando foi no sábado meu irmão acordou e ficou esperando que alguém aparecesse na porta de casa com insultos e uma faca na mão. O Felipe estava com xingamentos, palavras pejorativas, insultando, quando Daniel escutou e foi buscar a arma dele,para tentar se defender caso acontecesse alguma coisa, porque viu o Felipe com a faca. Meu irmão continuou insultando, meu marido entrou também na discussão verbal. Veio minha cunhada e também entrou nessa discussão, eu pedi para o Daniel vir comigo, mas ele estava só de calção e disse que ainda iria fazer a higiene pessoal e o Felipe veio para cima da nossa casa com a faca e nesse momento eu fechei a porta rapidamente, mas ele quebrou a porta com uma pesada e acredito eu que no susto, ou no reflexo, porque minha filha estava do lado de fora também, houve um disparo em direção a porta, onde estava Felipe, a esposa do Felipe, a funcionária da minha mãe e minha filha, foi aí que houve o disparo acidental, eu acredito, a porta quebrou e ele iria entrar na nossa casa e eu acredito que ele iria disparar que a nossa filha estava lá fora.
Você chegou a ver babá atingida?
- Em um primeiro momento não porque meu olhar foi primeiro para minha filha para salvar a vida dela em qualquer situação. Quando peguei minha filha, corri em direção a casa do meu pai, mas não consegui sair por lá, foi quando voltei para pegar o controle do portão que estava dentro do meu carro eu vi os três no chão. A minha cunhada Antonia, meu marido Daniel e o meu irmão Felipe e eles estavam em luta corporal, foi nesse momento que eu percebi que a Juliana (babá) estava caída no chão atingida com tiro na cabeça. A minha intenção era salvar minha filha e pedir socorro, foi o que eu fiz. Eu abri o portão, corri até o vizinho e disse para guardar minha filha e chamem o Samu e liguem para polícia.
A partir desse momento a senhora ouviu quantos disparos?
- Eu estava muito nervosa, mas tenho a impressão de ter ouvido dois disparos. Daniel era uma pessoa muito experiente, ele lidava com armas há muito tempo e o Daniel se quisesse teria exterminado todos por conta da experiência dele com armas. Ele era um homem que sempre me falava que aquela arma não era pra defender a vida dele, era a vida dele que defendia a arma. Ele sempre dizia que aquilo era um esporte, era uma coisa que ele gostava.
Toda essa discussão foi motivada pelo choro de uma criança?
- Eu acredito que não. Primeiro a criança não é autista. A criança não tem um diagnóstico fechado, ela tem 5 anos, ela tem TDAH e traços de autismo. Não tem laudo confirmado de autismo. A criança chora muito há vários anos. Daniel se incomodava com o choro e não só com o choro, mas com a forma que o choro era conduzido como se não houvesse a repressão necessária, porque mesmo a criança com autismo precisa de limites e disciplina. A intenção do meu marido foi de reclamar com a criança, isso no dia anterior, no sentido de dar um tratamento de choque e não vou entrar no mérito da questão se isso é certo ou errado, mas ele dizia para ele não gritar e o pai se incomodou que tinha um outro adulto que não era o pai dele reclamando com o filho dele. Tudo isso foi o estopim, mas o meu irmão tinha alguns problemas de depressão, de deficit de atenção e hiperatividade, ele já tinha até o diagnóstico de bipolaridade, era muito impulsivo, ele parecia estar bem, mas deve ter ficado remoendo essa história durante todo o dia e a noite e estava muito inflamado.
Qual a mensagem a senhora deixa diante de uma tragédia como essa?
A mensagem que eu deixo é de amor, respeito e tolerância. O que eu ensino para as minhas filhas é ‘não importa como as pessoas tratam você, o importante é como você reage a essa situação’. Eu acredito que todos nós perdemos com essa situação e se um deles tivesse agido de forma diferente, talvez o desfecho tivesse sido muito melhor.