O diretor clinico do Hospital São Marcos, Dr. Marcelo Martins, que também faz parte do Comitê Nacional de Combate a Covid-19, concedeu uma entrevista ao programa Bom Dia Meio Norte na manhã desta quinta-feira, 23 de abril.
O médico falou sobre os critérios para o fim do isolamento social e explicou porque nem o Brasil e nem o Piauí estão preparados para liberar parte das pessoas.
FIM DO ISOLAMENTO SOCIAL
“A gente tem alguns países do mundo já falando em diminuição das restrições e permitindo a maior circulação de pessoas, mas são países que tem características muito diferentes do Brasil e estão vivendo um momento muito diferente com relação a pandemia. Por exemplo, a Áustria está liberando 20% dos seus cidadãos para circular depois de passar 30 dias completamente fechada, então é uma realidade totalmente diferente da realidade brasileira. A OMS, que é a maior autoridade no que diz respeito a saúde pública fala que o primeiro pilar que tem que ser levado em consideração para interrupção do isolamento é que o país tenha um número controlado de casos. O primeiro óbito que aconteceu Brasil foi no dia 17 de março, nós passamos 23 dias a partir do dia 17 para ter 800 óbitos e nos últimos 5 dias nós já tivemos mais de 800 óbitos. Então como é que a gente vai falar que a doença está controlada no Brasil? No Piauí por exemplo, nós dobramos o número de casos em uma semana. Será que está na hora da gente falar em uma diminuição ampla de isolamento social? Isso tem que ser estudado com muito critério porque senão vamos correr muitos riscos”, declarou.
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CAOS EM MANAUS
“Ontem em Manaus 45 pessoas morreram em casa, sem conseguir chegar sequer as unidades básicas de saúde, isso aconteceu por dois motivos. Primeiro, porque eles retardaram o isolamento, eles fizeram um isolamento menos rigoroso e principalmente porque o sistema de saúde pública é frágil, nós não temos margem para permitir que um número muito grande de pessoas compareçam nos nossos hospitais. Os hospitais já trabalham muito perto do seu limite, então o estado do Amazonas já trabalhava com o seu limite, acontece uma crise como a da Covid-19 e os hospitais entram em um caos".
FALSA SENSAÇÃO DE CONTROLE NO PIAUÍ
"O objetivo principal do isolamento social é permitir que as estruturas hospitalares funcionem com uma certa folga, só que o fato do hospital funcionar com uma certa folga dá uma falsa sensação de segurança para as pessoas, só que cinco casos geram 10 casos, que geram 20 casos, que geram 40, que geram 80. Isso é uma progressão exponencial. Então a falsa sensação de segurança está acontecendo, mas ela é realmente falsa. As margens do nosso sistema de atendimento hospitalar são muito pequenas, a gente precisa ter muito cuidado. O Piauí tem 400 leitos de UTI e a gente imagina 400 vagos, só que mais da metade desses leitos já estão ocupados hoje porque as pessoas não param de adoecer por outras causas, outros motivos, as pessoas não param de sofrer acidentes, não param de ter infartos e derrames."