A professora doutora Sueli Rodrigues, candidata ao Governo do Estado pelo PSOL, foi o sétima a participar da segunda rodada de sabatinas com candidatos nas Eleições de 2018, no Agora da Rede Meio Norte, na tarde desta sexta-feira (28/09). A candidata falou de suas propostas e projetos caso seja eleita governadora do Piauí e criticou a atual gestão.
Sueli Rodrigues respondeu perguntas dos integrantes do programa, jornalistas Arimatéa Carvalho, Efrém Ribeiro, Ananias Ribeiro e Amadeu Campos. Nos 10 minutos finais, o candidato respondeu questionamentos enviados pelos telespectadores. Sabatina teve duração de 30 minutos.
Sueli Rodrigues é sabatinada no Agora da Rede Meio Norte
Amadeu Campos: Candidata, qual a estratégia para nos últimos dias de campanha?
Sueli Rodrigues: A nossa estratégia é a mesma, que é a postar no fortalecimento das lutas sociais. É isso que a gente feito desde o início. A nossa campanha, a gente considera que é uma companha movimento, é uma campanha que continua as lutas sociais e nós continuamos nessa mesma estratégia: fortalecendo as lutas sociais, trazendo as lutas sociais como bandeira de lutas para o nosso programa de governo, e a gente continua nesse diálogo com a população, e agora nessa reta final mais concentrado aqui em Teresina. Fizemos boa parte do estado,não fizemos mais porque a desigualdade para participar das eleições é enorme. Fizemos o que podíamos fazer no interior, nas outras cidades, e agora nós concentramos aqui em Teresina, visitando bairros, fazendo caminhadas nos bairros levando as nossas bandeiras de lutas que estão no nosso programa de governo para dialogar com a população.
Ananias Ribeiro: Candidata, na segunda recebemos aqui a Sonia Guajajara, vice do seu candidato Guilherme Boulos, inclusive a primeira índia a ocupar esse cargo, a disputar vaga de vice-presidente. Há uma discussão a respeito de inclusão, de participação das minorias na política e na sociedade de forma geral. Dentro do seu programa de governo, esta ação voltada para o social, para garantir que minorias, inclusive os indígenas que sofreram desmando de várias ações no estado do Piauí no Governo Temer que excluiu postos da Funai, então como o seu governo vai fazer, vai dialogar com esses movimentos e fazer com que casos como o da Sonia não seja apenas, por exemplo, uma exceção em nosso país?
Sueli Rodrigues: O nosso programa de governo, é um programa de governo relacionado com as políticas, as defesas de políticas pelos movimentos sociais, e esse programa está organizado em três eixos estruturantes: o eixo do combate às desigualdades sociais, porque nós consideramos que o nosso principal problema, o principal problema do Brasil é do Piauí é a desigualdade social; junto com esse eixo temos a afirmação das diferenças, um pacto de nação e faz com iguais pertencentes, as diferenças não são inferiorizações, como acontece cotidianamente. Então combate às desigualdades e afirmação das diferenças em conjunto para aparecer em todas as políticas , em todos os eixos da nossa campanha. Nós temos 21 temas e em todos os temas nós temos esse eixo de combate às desigualdades e afirmação das diferenças.
No caso, nós não temos uma política apenas; todas as políticas, elas estão voltadas para enfrentar esses dois problemas, o problema da desigualdade social e o problema da inferiorização das pessoas por suas identidades. Busca, no caso, a identidade de ser mulher, de ser LGBT, de ser negro, de ser indígena. Então todas as nossas políticas são nesse sentido, significa que todos os setores do estado devem atuar comprometidos com essa realidade, a realidade da desigualdade e da inferiorização pela identidade social. O caso indígena, eu costumo dizer, a história oficial do Piauí está sentada em duas grandes mentiras: a primeira de que houve uma escravidão branda, a própria carta da Esperança Garcia revela isso, não houve nenhuma escravidão branda. E a outra mentira é de que os indígenas foram eliminados do nosso estado. Não é verdade. A cada senso novas pessoas se declaram indígenas, e há comunidades no município de Queimada Nova e Piripiri, que se autoidentificam como indígenas. É um absurdo a gente não ter nenhum setor do estado que trate dessa questão. Nosso estado deveria ter tanto a Funai, quanto deveria ter outras políticas estatais voltadas para isso.
Efrém Ribeiro: Candidata, o senhor Fausto Ripardo, que é candidato ao Senado pelo PSB, disse que a senhora é ex-empregada doméstica e atingiu o mérito de pós-doutora. Isso é verdade? Como aconteceu sua trajetória? Que tipo de descriminação a senhora sofreu?
Sueli Rodrigues: Olha, eu costumo dizer que não era empregada doméstica porque não era remunerada. Mas era realidade de quase todas as meninas que moravam na zona rural, e esse é meu caso, que precisava estudar e não tinha parentes seus morando nas cidades. Eu fui, sim, trabalhar nas casas das pessoas para estudar, enfim, enfrentei todas as dificuldades, foi onde eu aprendi o que é desigualdade, porque na casa tinha uma criança da minha idade e eu fazia serviços que essa outra criança não fazia. Então aquele momento, naquele momento eu senti o que é ser inferior na sociedade. E essa luta, ela não é uma luta só minha. Muitas mulheres, muitas meninas vieram do interior e ainda hoje vem, inclusive sofrendo abuso sexual, que não foi meu caso. Muitas delas vem para as casas de família, vem só para ter teto, alimentação, para conseguir estudar e sofrem os piores abusos que se possa imaginar, desde abuso físico quanto a apropriação da mão-de-obra e uma apropriação de uma mão-de-obra escravizada, que é um trabalho que a pessoa não paga.
Arimatéa Carvalho: Candidata, a Reforma Política aprovada prevê que os partidos precisam obter uma votação mínima na eleição deste ano para continuar existindo, é a tal da cláusula de barreira. O pessoal, como de partidos de esquerda pequenos, está nesse desafio de conseguir a votação mínima para continuar existindo como partido política. Caso isso não aconteça, eu queria saber sua avaliação, seu partido conseguirá os votos mínimos necessários para continuar existindo? Caso isso não aconteça, tende haver uma aglutinação dos partidos, sejam de esquerda ou direita a partir dos maiores. O PSOL, caso não atinja essa clausula, se uniria, seria aglutinado pelo Partido dos Trabalhadores?
Sueli Rodrigues: Não, nós nem fizemos essa discussão. Nós estamos lutando, enfrentando para a gente superar a clausula de barreira, que foi uma invenção da burguesia, dos partidos que comandam o nosso país, aprovada especial por Eduardo Cunha. Foi um interesse dele e ele sabia a quem iria atacar, a gente sabe que ele atacou com isso os partidos de esquerda, que são partidos que costumam se juntar e agente não se junta por um motivo só; quando a gente se junta com inimigo a gente perde as nossas bandeiras. Nós não vamos, nem levantamos essa hipótese.
O nosso objetivo, por exemplo, aqui no estado do Piauí é ter 18 mil votos para deputado federal. A gente continua lutando e esperamos que a população reconheça a importância de ter parlamentares do PSOL no Congresso Nacional, porque o PSOl se mostrou fiel escudeiro, tem reserva moral. A participação do PSOL tem sido muito importante, não só para o PSOL, mas para a classe trabalhadora como um todo. O PSOL tem enfrentado toda essa situação sem nos trair, sem trair a classe trabalhadora e sem entrar naquela de que promete e não cumpre. Esperamos que a população vote, vote nos nossos candidatos, que vote especialmente em todos as nossas candidaturas com destaque para deputado federal.
Amadeu Campos: A senhora disse no começo da entrevista que está com dificuldade de percorrer os municípios que a senhora desejaria. É questão financeira, ou o Fundo Partidário que é curto para o PSOL? A senhora também deixou a entender que há um abismo entre as candidaturas que tem estrutura para percorrer o estado todo e a da senhora que não tem. Esse é um quadro sem solução?
Sueli Rodrigues: Eu não considero que seja sem solução porque eu acredito na força da classe trabalhadora, acredito na organização social. É a gente se organizando que a gente enfrenta esse tipo de situação. Mas criaram, tanto a clausula de barreira quanto a repartição do Fundo Eleitoral, foram criados para atingir paridos como o PSOL.
Amadeu Campos: A senhora não é contra o Fundo Partidário. É contra a repartição como é feita hoje?
Sueli Rodrigues: A repartição, o que que acontece...O Fundo foi criado para ter um financiamento público de campanha. O que que acontece? Quem foi eleito na última eleição não foi por financiamento público, então como é que você vai usar as regras do financiamento privado para para agora ser financiado com o financiamento público? Então, é você trazer o público para fortalecer o privado, porque quem foi eleito aí, as regras se basearam na representatividade no Congresso Nacional, essa representatividade no Congresso Nacional foi feita pelo fundo privado. Então você está usando o fundo público para fortalecer o fundo privado, porque quem está eleito, foi eleito pelo fundo privado. Então essa divisão foi extremamente injusta, porque se fosse agora para começar com o fundo público, tinha que começar como o PSOL defendeu no Congresso Nacional, que era o que? Vai partir do igualmente, então todos os candidatos vão ter o financiamento público agora, então todos vão receber o mesmo valor.
Amadeu Campos: A partir daí se estabeleceria a diferenciação?
Sueli Rodrigues: A diferenciação. Porque aí você teria candidatos eleitos pelas mesmas regras, aí a partir daí você teria uma outra situação. O que acontece, por exemplo, o PSOL recebeu R$ 14 mil, aí R$ 14 mil para quem recebeu R$ 2 milhões, então você está usando o próprio dinheiro do cidadão, da cidadã para produzir e fortalecer desigualdade, porque essas desigualdades, elas existem e elas são produzidas pelo capital privado, e você usa o recurso público para fortalecer essas desigualdades.
Ananias Ribeiro: Candidata, como é que uma eleição desigual, como a senhora acabou de citar e que de fato é, pode resultar em uma sociedade mais igualitária para as pessoas?
Sueli Rodrigues: Olha, a gente aproveita a nossa campanha, inclusive para denunciar isso. O que a gente espera é que a população, com o processo de formação política, e agente aposta nisso, o PSOL aposta nisso, a gente continua fazendo formação política, tão tal que a nossa campanha não começou agora e ela não termina com a eleição; a gente continua fazendo formação política para que a população se conscientize, para que a população a partir da sua organização, da nossa organização, lute para mudar esse quadro. A gente sabe que do jeito que está, a gente sabe que as eleições do jeito que acontecem são eleições para manter o status Quo, para manter aquilo que já está e como está. A gente tinha esperança de com o fundo público isso pudesse mudar, mas não mudou, as regras foram as mesmas.
Efrém Ribeiro: Dra., aqui tem um professor chamado Jonatas Nunes, que foi reitor da Universidade Estadual do Piauí de expandiu a instituição. Eu vejo os candidatos criticando essa expansão da Uespi. Então como fazer críticas a um processo que fez com que muitas pessoas tivessem acesso a um curso superior e que de outra forma não teriam?
Sueli Rodrigues: Na verdade, a Uespi é um patrimônio do povo piauiense. A gente insiste em dizer isso, a Uespi está em nossa crônica.
Efrém Ribeiro: Então qual o porquê dessa crítica?
Sueli Rodrigues: A crítica é porque foi feita de modo irresponsável, fazendo calunio com prefeito, fazendo conchavos com políticos. Essa forma não é a melhor forma, aliás, não é a forma correta de fazer a expansão da Uespi. A Uespi precisa,sim, expandir, estar nos municípios para que as pessoas não corram para Teresina, como foi meu caso, correr para Teresina para ter um curso superior. É preciso que as pessoas lá onde elas estão, elas consigam a escolaridade que elas queiram e precisam cursar. O problema da expansão da Uespi como aconteceu é que ela aconteceu de modo insustentável, de modo politiqueiro, de modo a manter as mesmas relações de poder que já existiam, fortalecendo aqueles que já eram os fortalecidos por conta desse tipo de política, a política do balcão de negócio.
Arimatéa Carvalho: Professora, a senhora falou que é uma campanha movimento. Essa campanha movimento deve ter como foco, claro, movimentos sociais, lutas sociais, categorias profissionais, já que as pesquisas de intenção de voto não indicam que a senhora está bem posicionada, tem poucas chances reais, exceto que haja um mudança repentina de se eleger e ir ao segundo turno, então qual é o saldo positivo da campanha em relação as lutas sociais e aos movimentos sociais?
Sueli Rodrigues: O fortalecimento das lutas sociais, você mesmo já disse. A nossa campanha, o resultado eleitoral, o resultado das urnas, não vou dizer que não nos interessa, é claro que nos interessa, mas a nossa campanha, a gente sabendo que o jogo da burguesia é um jogo pesado, pesadíssimo, nós sabendo as condições que estão colocadas, dificilmente a gente consegue chegar lá a gente consegue esse resultado eleitoral; a gente sabendo que cria uma situação de empobrecimento grave, tão grave que as pessoas precisam de fato atuar nesse mercado eleitoral, porque se configura como um mercado eleitoral. Claro que propostas, as nossas candidaturas, a candidatura de Guilherme e Sonia, a minha candidatura e de Chiquinho e as candidaturas do PSOL e as candidaturas da esquerda de modo geral, o alcance, um bom resultado nesse mercado eleitoral é muito pouco provável.
Qual é o resultado positivo? As nossas lutas estão sendo fortalecidas; a gente ampliou os nosso processos de formação, a gente tem muito mais gente vindo para as nossas lutas, muito mais pessoas que vão contribuir para a gente continuar fazendo essa formação, e a gente espera que, com esse saldo, a nossa mobilização se amplie e a gente continue trazendo mais formação para a classe trabalhadora, para que a classe trabalhadora aprenda a identificar. Nós temos todo um sistema que não educa politicamente as pessoas. Costumo dizer que a Ditadura Militar tinha três disciplinas para ensinar viver na Ditadura, passamos para democracia e ninguém nos ensina isso. Não se aprende isso em lugar nenhum. Quem é que está fazendo isso? Os partidos de esquerda, nós do PSOL estamos fazendo isso. Obviamente que com as nossas condições, o alcance não é ainda aquele que a gente gostasse que fosse.