Aliado de primeira hora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), tem sido uma das vozes mais influentes na articulação política e na condução de programas sociais do governo. Aos 63 anos, o ex-governador do Piauí foi escolhido diretamente por Lula para comandar a pasta responsável pelo Bolsa Família, símbolo das gestões petistas.
Sob seu comando, o programa passou por mudanças nos critérios de distribuição, ampliando a rede de cobertura e corrigindo distorções herdadas do Auxílio Brasil. Dias afirma ter identificado milhares de fraudes e aponta que a nova modelagem contribuiu para que o Brasil deixasse, recentemente, o Mapa da Fome da ONU. Segundo ele, a marca representa que 10 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza, embora reconheça que esse avanço já não tenha o mesmo peso eleitoral de outros tempos.
Estratégia para 2026
De olho nas eleições de 2026, Wellington Dias sustenta que o PT precisa olhar com atenção para dois segmentos: o eleitorado evangélico e o eleitorado de centro. “O importante será garantir o centro correndo junto com a esquerda. É a democracia que estará em jogo”, afirmou.
O ministro avalia que Lula conseguiu em 2022 isolar a extrema direita ao formar uma aliança inédita com o centro, simbolizada pela presença do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Para 2026, ele defende a consolidação dessa frente ampla.
Bolsa Família e novos negócios
Wellington Dias também enfatiza que o Bolsa Família vem se transformando em uma plataforma de emancipação social. Ele cita que mais de 1 milhão de famílias deixaram o programa neste semestre por melhora de renda e que, desde 2023, o país registrou 9 milhões de novos negócios, sendo a maioria criada por beneficiários do programa.
“O Brasil mudou, e as pessoas querem empreender. Não estamos apenas dando o peixe, mas também o anzol, a vara e o barco”, resume o ministro, destacando a combinação entre transferência de renda e políticas de capacitação.
Enfrentamento a críticas e combate a fraudes
Entre as críticas mais frequentes, está a suspeita de que programas sociais são usados com fins eleitorais. Dias rebate. “Muitos pensam assim porque nunca sentiram a fome. Atuamos com base em evidências do que reduz a miséria”, disse. Ele cita que auditorias em parceria com o Tribunal de Contas da União (TCU) identificaram irregularidades em mais de 4 milhões de benefícios do Auxílio Brasil, como falsificação de documentos e inclusão de pessoas de renda elevada.
Além disso, o governo proibiu que cartões do Bolsa Família sejam usados em sites de apostas. A decisão foi validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após o Banco Central apontar que beneficiários gastaram cerca de R$ 3 bilhões em “bets”.
Política externa e impacto de tarifas americanas
Outro desafio no radar do ministro é o impacto da política comercial dos Estados Unidos, agora sob o comando de Donald Trump. As tarifas sobre produtos brasileiros, como carne, café e frutas, devem gerar prejuízos. Para mitigar os efeitos, o governo lançou medidas emergenciais, como a compra de excedentes agrícolas para abastecer a merenda escolar em mais de 36 mil escolas.
Dias defende a busca por novos mercados e reforço em blocos alternativos, como os Brics, frente ao que chama de “enfraquecimento dos organismos multilaterais”. Sobre a relação com Trump, ele afirma que Lula está aberto ao diálogo, mas “sempre dentro das regras da diplomacia, com respeito ao Brasil”.
Religião e aproximação com evangélicos
Na seara interna, Wellington Dias reconhece as dificuldades do PT em dialogar com o eleitorado evangélico, mas destaca parcerias com igrejas em ações sociais, especialmente em áreas periféricas e comunidades distantes. “Os governos do PT sempre respeitaram a fé e a liberdade religiosa. O que buscamos é ampliar pontes com esse segmento decisivo”, disse.
Ele pondera, no entanto, que a separação entre religião e política precisa ser mantida: “A César o que é de César, a Deus o que é de Deus. Sempre que Estado e igrejas se confundiram, houve problemas”.
Disputa eleitoral em aberto
Sobre a oposição, Wellington Dias acredita que a eventual prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro não fortalecerá seus aliados. Para ele, o foco da direita em torno da anistia ao 8 de Janeiro revela fragilidade. “O STF tem sido o guardião da democracia. Quem defende ataques às instituições enfraquece o país”, afirmou.
Mesmo com um cenário polarizado, Dias acredita que a disputa de 2026 se diferencia da de 2022. “A extrema direita perdeu força, enquanto o centro se distanciou dela. O desafio será consolidar esse campo junto à esquerda”, concluiu.