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Wellington Dias nega reajuste no 'Bolsa', admite luta de classes e cobra união de forças

Segundo ele, o valor atual de R$ 230 por pessoa, dentro da média internacional de proteção mínima de US$ 40, é suficiente para garantir o caráter emergencial do programa.

Wellington Dias rebate o discurso de que quem recebe benefício social não quer trabalhar. | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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À frente do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, o ministro Wellington Dias rebateu com firmeza as críticas de que beneficiários do Bolsa Família seriam obstáculos à contratação de trabalhadores. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele afirmou que existe preconceito por trás dessas narrativas e defendeu o engajamento do setor privado em soluções conjuntas.
“Que história [é essa de] que esse povo não quer trabalhar? Não só quer trabalhar, como está trabalhando”, disse o ministro. Segundo ele, o que os brasileiros querem é “emprego decente” e não podem ser culpabilizados pela desigualdade. “É hora de o setor empresarial, de a gente unir forças, porque o problema com certeza não é que não quer trabalhar.”

BOLSA FAMÍLIA SEM REAJUSTE EM 2025
Wellington Dias foi direto ao afirmar que não há previsão de aumento no valor do Bolsa Família em 2025. Segundo ele, o valor atual de R$ 230 por pessoa, dentro da média internacional de proteção mínima de US$ 40, é suficiente para garantir o caráter emergencial do programa.
“O Bolsa Família não é salário, não é para substituir salário. [...] É uma ajuda, um socorro enquanto a pessoa tem a oportunidade de um emprego”, declarou. Ele ainda criticou o "leilão" de promessas eleitorais ocorrido em 2022 em torno do programa. Para 2026, admite que poderá haver reajuste, mas apenas se indicadores econômicos justificarem.
“Na conjuntura de 2025, eu digo que não. A conjuntura de 2026 eu não sei.”

DISPUTA DE CLASSES É REALIDADE
Questionado sobre as críticas de que o governo alimenta divisões, Dias reconheceu a existência de disputa de classes no país, mas pregou o diálogo.
“A divisão sempre tem e ela é uma realidade. Ninguém nunca escondeu que vivemos uma disputa de classe [...] O que eu digo é que temos que trabalhar a condição de um diálogo.”
Ele rebateu a crítica feita por Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, de que a retórica do "nós contra eles" prejudica o país. Para Dias, reconhecer desigualdades é parte da construção de políticas públicas.

AJUSTES E COMBATE ÀS FRAUDES
O ministro também abordou o refinamento do Cadastro Único e a fiscalização de fraudes. Ele revelou que, desde o início da gestão, foram identificados 4,1 milhões de benefícios irregulares, enquanto 5,5 milhões de pessoas com direito estavam fora do sistema.
“A fraude não foi uma coisa que aconteceu por acaso. Era troca de voto. Vota, recebe benefício. Não vota, não entra no benefício.”
No caso do BPC (Benefício de Prestação Continuada), Dias denunciou a atuação de esquemas jurídicos com escritórios de advocacia, resultando em concessões indevidas. Segundo ele, há 1.131 municípios em monitoramento com indícios de distorções.

ECONOMIA E PLANEJAMENTO FISCAL
Com medidas de correção e combate às fraudes, o governo estima economizar entre R$ 7 e R$ 8 bilhões em 2024. Ao mesmo tempo, Wellington Dias defendeu a aumentar a tributação dos super-ricos e a elevação do IOF, como forma de justiça fiscal e coerência com o programa do presidente Lula.
“Somos um dos países com mais injustiça tributária [...] Isso [aumento do IOF] traz coerência com a base do presidente Lula, o compromisso dele também assumido na eleição de 2022. É uma posição que a gente vai sustentar.”

CONFRONTO COM O AGRONEGÓCIO
Em resposta às críticas do empresário Ricardo Faria, conhecido como "rei do ovo", que associou o programa à dificuldade de contratação no campo, Dias reagiu:
“Eu acho que a gente não pode atacar o mais pobre porque é pobre.”
O ministro disse ter ligado ao empresário e cobrado compromisso. “Eu falei lá com o presidente da Aprosoja também: ‘Vocês estão me devendo’ [...] Porque, quando ataca, parece que alguém que está ali vivendo com R$ 600, R$ 700 é preguiçoso, não quer trabalhar. Não é verdade. Essa moçada trabalha e dá um duro danado.”

DESAFIO POLÍTICO E DISPUTA DE NARRATIVAS
Wellington Dias reconheceu que, apesar da força histórica do Bolsa Família, o PT perdeu parte da conexão política com os beneficiários. Ele apontou a crescente presença das igrejas evangélicas nas periferias como um dos fatores da mudança e sugeriu que o partido precisa “reorganizar o povo”.
“Nós somos um partido que veio para organizar o povo, para que ele compreenda o que está em disputa na sociedade.” 

 

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