A reunião legislativa realizada na última terça-feira (21) na Câmara Municipal de Natal, que confirmou a concessão do título de cidadão natalense ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), terminou envolta em polêmica e indignação. O motivo: a vereadora Thabatta Pimenta (PSOL), única parlamentar trans da Casa, foi alvo de ofensas transfóbicas enquanto se manifestava contra a homenagem.
ATAQUES DURANTE O DISCURSO
Durante sua fala contrária à honraria concedida a Bolsonaro, Thabatta foi hostilizada por parte do público presente, formado majoritariamente por apoiadores do ex-presidente. “Enquanto eu falava, eles gesticulavam na minha direção. Não ouvi tudo na hora, mas minha equipe percebeu que se tratava de falas criminosas e começou a gravar”, relatou a vereadora. Entre os insultos dirigidos a ela estavam frases como “não é mulher de verdade” e “tem dois sexos”.
O episódio foi gravado por assessores da parlamentar, e o material audiovisual foi encaminhado à Polícia Civil, junto a um boletim de ocorrência. O caso está agora sob investigação.
INAÇÃO DAS AUTORIDADES
Segundo Thabatta, mesmo após relatar o ocorrido em plenário, nenhuma medida imediata foi tomada pelas autoridades da Casa. “A Guarda estava presente. A Câmara não fez nada. A delegada me disse que aquilo cabia prisão em flagrante, mas ninguém foi identificado ou detido”, criticou.
APOIO NAS REDES E COBRANÇA PÚBLICA
No dia seguinte, a vereadora utilizou suas redes sociais para divulgar imagens dos agressores e pedir colaboração popular para identificá-los. Em novo pronunciamento na Câmara, ela reforçou a gravidade da omissão institucional: “Essa falha na segurança não é só contra mim. Se fosse intolerância religiosa ou racismo, teria sido diferente?”
POSICIONAMENTO OFICIAL
Em nota divulgada após a repercussão do caso, a presidência da Câmara afirmou repudiar qualquer manifestação discriminatória. O comunicado também informa que estão em andamento medidas legais e administrativas para apurar o episódio e identificar os responsáveis pelas ofensas.
TÍTULO MANTIDO, REAÇÃO ADIADA
Apesar da controvérsia, a concessão do título a Jair Bolsonaro foi confirmada com 19 votos favoráveis, cinco contrários e uma abstenção. A proposta é de autoria do vereador Subtenente Eliabe (PL) e já havia sido aprovada anteriormente, mas foi anulada pela Justiça após contestação da vereadora Samanda Alves (PT), que teve seu pedido de vistas negado.
A entrega da homenagem está marcada para o dia 12 de junho, data em que Bolsonaro deve visitar o estado. Já os projetos de concessão de títulos à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foram retirados de pauta, em função da repercussão negativa causada pelos ataques à parlamentar do PSOL.