THIAGO RESENDE - BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O ministro de Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias (PT), diz que, apesar do aumento da insegurança alimentar no Brasil, o governo vai tirar o país do Mapa da Fome --ferramenta da ONU (Organização das Nações Unidas) que mede o acesso adequado a alimentos.
O Brasil voltou a ficar nos últimos anos acima do patamar mínimo de 2,5% da população em situação de desnutrição (quando a pessoa habitualmente consome menos do que o necessário para uma vida normal, ativa e saudável).
Abaixo de 2,5%, patamar em que ficou o Brasil de 2015 a 2018, os números exatos nem chegam a ser considerados pela ONU devido à margem de erro. Depois de um primeiro aumento em 2019 após 18 anos, o valor subiu ainda mais em 2020 (mais recente disponível) e chegou a 4,1%.
Dias não se compromete com um prazo para que o governo atinja esse objetivo. Ele afirma que a retomada de outros programas sociais irá, com o Bolsa Família, ampliar o combate à pobreza.
Segundo ele, o governo vai criar um plano para qualificação profissional de beneficiários do Bolsa Família que têm capacidade de trabalhar.
Folha - O senhor acha que o Brasil consegue sair do Mapa da Fome novamente? Quando?
Wellington Dias - Vamos sair do Mapa da Fome. Tirar pela segunda vez o Brasil do Mapa da Fome em critério internacional da ONU/FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), e também tirar o Brasil, quarto maior produtor de alimento do mundo, do mapa da insegurança alimentar e da desnutrição.
Vamos ter o Cadastro Único como referência para a inclusão socioeconômica, com base no mapa dos investimentos na construção civil pelo setor público (com o Minha Casa, Minha Vida, Água para Todos, retomada das obras inacabadas ou em andamento e novas obras) e ainda investimentos em indústrias, comércio, turismo e outros serviços, cultura e esporte.
Em tudo vamos colocar como referência o combate à pobreza e garantir o plano de qualificação das pessoas em idade de trabalhar e que são do Bolsa Família. E também apoiar o empreendedorismo por parceria com quem entende de estruturar bons negócios com sustentabilidade. Acredito que teremos bons resultados até 2026.
Folha - Qual foi, na sua avaliação, o principal avanço quando o Fome Zero se transformou em Bolsa Família?
Wellington Dias - Deixou de ser só [um programa de] transferência de renda. Passou a focar o cuidado e passou a ser centrado na família, com participação social e uma rede de 600 mil profissionais em todos os municípios e estados, integrados com saúde, educação, segurança etc. A criança está sendo alimentada? Qual o peso dela? Crianças e adolescentes estão matriculados e frequentando a escola, e sendo aprovados? As vacinas estão em dia? Adultos alfabetizados? Se não tem casa, pode se inscrever no Minha Casa, Minha Vida? Tudo estava integrado.
Folha - Qual sua avaliação sobre o formato do Auxílio Brasil? O que precisa mudar?
Wellington Dias - O Auxílio Brasil virou uma transferência de dinheiro. Cortaram relações com os Conselhos Nacional de Assistência Social (CNAS), com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e com a Câmara Interministerial da Segurança Alimentar e Nutricional. Os Cras e Creas (centros de atendimento da população carente e usado para cadastro das famílias nos programas sociais) foram sucateados. Um verdadeiro rompimento do pacto federativo.
Folha - Qual foi o resultado do programa de combate à fome nesses 20 anos desde que o Fome Zero foi lançado?
Wellington Dias - Qual foi o saldo? O programa Fome Zero, lançado em 2003 e depois aperfeiçoado como Bolsa Família, levou em conta a base científica. O resultado desses programas de 2003 no governo Lula foi o reconhecimento do Brasil em 2014, no governo Dilma Rousseff, e o Brasil ficou fora do Mapa da Fome e fora do mapa da insegurança alimentar e ainda com 54% da população economicamente ativa na classe média. Mas agora a fome voltou.
Folha - Por que o Brasil acabou voltando para o Mapa da Fome nos últimos anos?
Wellington Dias - Porque tivemos o presidente mais desumano da história [a fome voltou a subir na gestão de Michel Temer, mas se ampliou no governo Bolsonaro]. Era quase impossível recuar dez anos nessa área e ele [Bolsonaro] conseguiu. Basta olhar a tragédia da pandemia de Covid-19 comparada com o mundo ou a recente tragédia com os yanomamis em Roraima. Dois verdadeiros genocídios, sem meias palavras. Milhares de pessoas com mortes evitáveis morreram pelo menosprezo pela vida, por descaso.