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Uma nova figura surge como candidato a “ Messias” viúva de Charles Kirk

Católica e símbolo da ala ultraconservadora, Erika Kirk ganha status quase divino entre republicanos e é vista por analistas como possível sucessora de Trump

Erika Kirk é consolada por Trump no funeral do marido, no Arizona | Foto: AFP
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Desde o assassinato de Charlie Kirk, uma nova personagem tem emergido como símbolo do conservadorismo radical nos Estados Unidos: sua viúva, Erika Kirk. Aos 36 anos, a católica tem sido retratada por republicanos como uma espécie de “messias” da direita religiosa, uma mulher que une fé, patriotismo e retórica moralizante em tempos de intensa polarização política.

Erika, antes conhecida como apresentadora de podcast e empresária de moda cristã, agora ocupa o centro de um culto quase messiânico. O governador da Virgínia, Glenn Youngkin, chegou a descrevê-la como “uma líder extraordinária com o coração de uma santa”. A imagem de santidade é reforçada pelo seu comportamento público, especialmente após a tragédia que vitimou o marido.

Santidade e perdão como discurso político

Em um gesto que comoveu tanto republicanos quanto democratas, Erika declarou publicamente que perdoava o assassino de Charlie Kirk

“Uma demonstração verdadeiramente notável de graça e compaixão”, escreveu um seguidor no X. Já o influenciador Hernan Cortes a chamou de “santa americana”.

O perdão contrastou com a postura do ex-presidente Donald Trump, que reagiu de forma oposta:

“Odeio meus oponentes e não quero o melhor para eles. Sinto muito, Erika”, afirmou. 

A diferença entre os dois discursos alimentou a ideia de que a viúva de Kirk representa uma versão mais espiritualizada e menos agressiva do movimento MAGA (Make America Great Again).

Erika Kirk e Donald Trump no funeral de Charlie Kirk, no Arizona — Foto: AFP 

Entre a fé e o fogo

Apesar da retórica cristã, Erika também adota um tom apocalíptico e combativo, que tem fascinado os seguidores mais fiéis do extremismo religioso. Em um discurso logo após a morte de Kirk, ela declarou:

“Vocês não têm ideia do fogo que acendeu dentro desta esposa; os gritos desta viúva ecoarão pelo mundo como um grito de guerra.”

Para o escritor e pesquisador Jeff Sharlet, especialista em religião e poder político nos EUA, a figura de Erika sintetiza uma mistura perigosa entre fé e radicalismo. 

“Ela não é apenas herdeira da cruzada de Kirk. Pode dar um passo ainda maior”, afirmou.

A herdeira do MAGA

A fé de Erika também reflete um catolicismo dissidente, alinhado à ala que critica o Papa Francisco por supostamente tornar a Igreja “progressista demais”. Essa vertente conservadora tem ganhado espaço entre republicanos, incluindo o atual vice-presidente J. D. Vance, aliado próximo de Trump.

Segundo Sharlet, a ascensão de Erika pode ir além da herança simbólica do marido: 

“Todo mundo pergunta quem vem depois de Trump. J. D. Vance? Acho que não. Pode ser Erika Kirk. Ela interpreta o papel de Evita Perón, e o faz brilhantemente.”

O jornalista Matthew Continetti vai além e projeta um futuro de protagonismo político para ela: 

“Com sua história comovente e carisma religioso, Erika pode liderar uma nova geração de cristãos e até se tornar a primeira mulher presidente dos EUA.”

Erika e Charlie Kirk em baile da Turning Point USA em janeiro de 2025 — Foto: AFP 

Da passarela à cruzada

Antes de se tornar o rosto de um movimento ultraconservador, Erika era apenas uma jovem candidata do Miss America 2012, representando o Arizona e foi nesse contexto que conheceu Donald Trump, de quem se aproximou politicamente.

Hoje, o glamour de outrora deu lugar à figura de uma “viúva santa” e militante da fé. Por meio da Turning Point USA, organização fundada por Kirk, Erika tem promovido conferências e eventos com mulheres influentes da direita cristã, reforçando uma pauta de submissão feminina e moral religiosa.

Entre orações, discursos e aparições públicas, Erika Kirk emerge como uma nova messias políticamoldada pela tragédia, fortalecida pela fé e alimentada por um conservadorismo que mistura religião, luto e poder.

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