Terminou em bate-boca a reunião da CPI do Cachoeira desta quinta-feira (31). Após o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM-GO) se recusar a falar, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), o dispensou, causando protestos do deputado federal Sílvio Costa (PTB-PE).
A reunião teve início por volta das 11h desta quinta-feira (31), e viu Demóstenes se negar a responder a perguntas logo de cara, em menos de 15 minutos.
Acompanhado de seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, Demóstenes invocou o direito constitucional de ficar calado para justificar por que não prestaria depoimento.
Costa, que é membro da comissão, pediu a palavra. ?Seu silêncio é a mais perfeita sinalização da sua culpa?, disse, antes de chamar o senador de ?membro da quadrilha do Cachoeira? e ?braço legislativo da quadrilha?.
Costa usou trechos do depoimento de Demóstenes na terça-feira (29) para criticá-lo. ?O senhor diz que os amigos o abandonaram. O senhor é que traiu os amigos. O senhor que traiu o Brasil?, disse Costa. ?O senhor diz que é carola. Se o céu existir, o senhor não vai para o céu. O céu não é lugar para mentiroso, para gente hipócrita.?
O senador Pedro Taques (PDT-MT) interrompeu Costa com um pedido de ordem dos trabalhos. ?O direito tem de ser respeitado, não interessa quem seja?, afirmou.
Em seguida, ouviu Costa chamá-lo de ?deselegante?, e continuar os ataques contra Demóstenes. ?Vou lhe chamar de ex-futuro senador, você vai ter 80 votos contra a sua cassação?, disse o petebista em referência ao número total de 81 senadores.
?Você é um hipócrita. Você deveria ser processado por propaganda enganosa?, disse. Taques novamente protestou contra a linguagem de Costa e por ter sido chamado de deselegante. ?Não me meça pela sua régua?, disse. Com a ameaça de um bate-boca mais intenso, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), encerrou a sessão.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) criticou Vital por ter encerrado os trabalhos. "Um bate-boca não pode servir de motivo para isso. Poderíamos ter feito uma sessão administrativa, poderíamos continuar questionando para que o senador dissesse várias vezes que não quer falar. O presidente deveria mostrar que tem controle sobre os trabalhos e isso não aconteceu", afirmou.
Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a "intempestividade do deputado Costa não é nova e só serve a pretensões pessoais". "Ele acaba deixando Demóstenes aparecer como vítima de uma falta de urbanidade e de respeito, que é condição essencial para o convívio no Parlamento".
Contraste
A recusa de Demóstenes em falar à CPI diverge do comportamento do senador quando prestou depoimento ao Conselho de Ética do Senado. Na terça-feira (29), Demóstenes fez sua defesa à Comissão de Ética do Senado, por cinco horas. O senador negou todas as acusações de envolvimento em esquemas de corrupção envolvendo o jogo ilegal e comentou diversos pontos do inquérito da Polícia Federal que deu origem às operações Monte Carlo e Vegas. Demóstenes mencionou ainda várias reportagens de jornais, dando sua versão para cada uma delas.
Sem citar o nome do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o parlamentar admitiu a amizade com o contraventor, negou ter ficado com 30% do dinheiro da jogatina ilegal em Goiás, contestando o inquérito da PF. O senador negou ainda ter recebido R$ 1 milhão ou R$ 3 milhões do bicheiro e afirmou não saber das irregularidades cometidas por Cachoeira.
Segundo Demóstenes, a sua ligação com Cachoeira se deu antes de ser tornado público o envolvimento do empresário com irregularidades. "Hoje se sabe o que foi divulgado [sobre o envolvimento de Cachoeira com esquemas de corrupção]. Naquela época, o senhor Cachoeira andava no meio de todos nós em Goiás, ele tinha relacionamento com cinco governadores e vários parlamentares", disse o parlamentar.
"O que eu sabia naquele momento é que eu me relacionava com um empresário, que se relacionava com outros cinco governadores, dezenas de parlamentares, dezenas de outros empresários. Reafirmo que tinha amizade com ele, sim", completou.
Ao comentar a ligação telefônica na qual aparece informando Cachoeira sobre uma suposta operação da Polícia e do Ministério Público contra o jogo ilegal, o senador disse que tentou "jogar um verde", isto é, enganar o bicheiro. A ideia, afirmou Demóstenes, era saber se Cachoeira continuava envolvido em jogos de azar.