O ex-governador e ex-prefeito de São Paulo José Serra venceu, neste domingo, a disputa interna do PSDB e foi escolhido pelos militantes para disputar a sucessão municipal pelo partido, em outubro deste ano. José Serra recebeu 52,1% dos votos, de um total de 6.229, derrotando os adversários José Aníbal (secretário estadual de Energia), com 31,2% dos votos, e Ricardo Tripoli (deputado federal), com 16,7%. Agora, o desafio do partido é unir a militância em torno da campanha de Serra, dividida após um mês de disputa entre os três concorrentes.
Além de receber o voto da maioria dos militantes tucanos, Serra teve o voto declarado de dois importantes caciques da legenda: o governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para quem o ex-governador é o "mais preparado" para administrar a cidade. "Quem já foi prefeito, governador e candidato a presidente tem mais lastro eleitoral", disse Alckmin, que pediu ainda o apoio de Aníbal e Tripoli para a campanha.
A vitória de Serra ocorre após seis horas de votação, e um mês depois de o tucano anunciar sua intenção em concorrer à sucessão de Gilberto Kassab (PSD) - seu maior aliado político, que teve importante papel em convencê-lo a candidatar-se. Derrotado em 2010 na eleição presidencial, o tucano inicialmente descartou a candidatura à prefeitura, mas foi convencido por Alckmin.
Em carta entregue ao Diretório Municipal do PSDB em 28 de fevereiro, Serra disse que aceitou o desafio atendendo a um "chamamento" de sua "própria consciência", e nacionalizou a eleição municipal, ao classificá-la como "uma disputa entre duas visões distintas de democracia" e "de Brasil" - em referência à briga entre PSDB e PT.
Com o anúncio, dois pré-candidatos desistiram de continuar na disputa: os secretários estaduais Andrea Matarazzo (Cultura) e Bruno Covas (Meio Ambiente), que imediatamente se engajaram na campanha de Serra. Apesar dos esforços dos caciques tucanos para que também "jogassem a toalha", Aníbal e Tripoli não desistiram, e cobraram que Serra participasse das prévias.
O ex-governador aceitou se submeter à consulta interna, mas pediu que as prévias fossem adiadas em três semanas, para ter tempo de conquistar os votos dos militantes. Nos bastidores, muitos acreditavam o período seria suficiente para que Aníbal e Tripoli desistissem de suas candidaturas, mas nenhum deles o fez e ambos se empenharam em uma campanha paralela para cobrar que Serra participasse de debates internos - o que não ocorreu.
Ao votar, Serra enalteceu a realização das prévias, e disse que a consulta interna "fortalece" o partido, que estará unido para enfrentar adversários. "No final vai estar todo mundo unido, o objetivo de ganhar a prefeitura pelo bem da cidade vai unir a todos", afirmou o tucano. "A prévia é um avanço. É a forma mais democrática de escolher o candidato", concluiu Serra.
Embora grande parte dos líderes tucanos considere que Serra seja o único com "força política" para derrotar o pré-candidato escolhido pelo ex-presidente Lula, o ex-ministro Fernando Haddad (Educação), sua entrada tardia não agradou a todos no PSDB. A decisão em adiar as prévias provocou a fúria de alguns integrantes da Executiva municipal, que chegaram a se referir a ele como o "todo poderoso". Serra, contudo, ignorou as manifestações contrárias e iniciou o corpo a corpo para conquistar a maioria dos votos nos 58 diretórios zonais da capital paulista, onde seu discurso sempre foi o de "unidade" para derrotar o PT.
Desafios
Líder na disputa eleitoral, com 30% das intenções de voto - segundo a última pesquisa do Datafolha -, Serra também precisará convencer o eleitorado de que cumprirá os quatro anos de mandato de prefeito, caso seja eleito. O tucano tem sido alvo de ataques dos adversários por ter descomprimo a promessa, feita em 2004, de ficar na prefeitura até o fim de seu mandato - ele deixou o cargo dois anos depois para concorrer ao governo do Estado.
Segundo a mesma pesquisa, 66% dos eleitores paulistanos acreditam que o tucano, se eleito, deixará a prefeitura novamente para disputar a Presidência em 2014. Ao anunciar sua pré-candidatura, porém, Serra tentou tranquilizar seus eleitores.
"Estou sendo candidato para governar a cidade até quando o mandato dura, que é até 2016. Eu sei que essa questão vai ser muito posta, principalmente pelos candidatos, mas essa é minha decisão. Eu vou cumprir os quatro anos, é mais do que promessa", afirmou.
Essa é a quarta vez que Serra sai candidato a prefeito da capital paulista. Ele concorreu em 1988, 1996 e 2004, quando venceu.