Nesta terça-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que as investigações sobre possível espionagem ilegal dentro da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) indicam que não há ambiente propício para a permanência de Alessandro Moretti, diretor-adjunto do órgão. Lula fez esses comentários durante uma entrevista concedida a uma rádio em Recife, Pernambuco.
"Esse companheiro [que foi indicado para a presidência da Abin] montou a equipe dele, e dentro da equipe dele tem um cidadão, que é o que está sendo acusado [Moretti, número dois do órgão], e que mantinha relação com Ramagem, que é o ex-presidente da Abin do governo passado. Se for verdade, e isso está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar na polícia. Mas antes de fazer simplesmente a condenação, é importante que a gente investigue corretamente, que a gente apure, que garanta o direito de defesa", diz Lula.
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está sob investigação em uma operação conduzida pela Polícia Federal, que apura o alegado uso ilegal da estrutura do órgão para espionagem de opositores políticos da família Bolsonaro. Entre os alvos da investigação estão o ex-diretor-geral da agência, Alexandre Ramagem, e o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, dentre outras pessoas.
Durante a entrevista, Lula comentou que "nunca está seguro" sobre a composição da Abin. Ele também respondeu ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que afirmou que o petista utiliza o governo para persegui-lo. Segundo o atual presidente, o antecessor no cargo tentou mandar na PF, "ele trocava superintendente ao seu prazer, sem nenhum respeito ao que pensava".
"Eu posso falar que ele falou uma grande asneira. O governo brasileiro não manda na PF, muito menos manda na Justiça. Você tem processo, investigação, você tem decisão de um ministro da Suprema Corte, que mandou fazer busca e apreensão, sob suspeita de utilização de má-fé pela Abin, dos quais o delegado responsável era ligado à família Bolsonaro. E a PF foi cumprir um mandado da justiça."
Lula afirmou que a PF precisa funcionar "de acordo com os interesses da instituição", mas que não deve fazer espetáculo durante as operações. "E acho que a Polícia Federal não pode exorbitar em fazer pirotecnia. Quer investigar, investigue. Mas não faça show pirotécnico, não fique divulgando nomes de pessoas antes de ter prova concreta contra a pessoa, não fique destruindo as imagens das pessoas antes de apurar."