Por José Osmando de Araújo
A celebração do Dia dos Povos Indígenas, neste 19 de Abril, nos leva a uma séria reflexão sobre duas questões graves, de importância essencial à nossa revisão histórica, mas também à própria sobrevivência humana.
A primeira diz respeito ao vergonho processo de extermínio a que essas populações, no Brasil (e também nas Américas), foram submetidas ao longo da colonização portuguesa, um espantoso genocídio que ainda hoje persiste, a ver o que está acontecendo com as populações Yanomamis, na Amazônia. A revisão e a reparação dessa tragédia, que põe o Brasil como pária no mundo, precisam ocorrer com a urgência necessária.
CONHECIMENTO
Segundo, em razão dos alertas que têm sido emitidos por estudiosos e por instituições mundiais, de que é cada vez mais emergencial ouvir o reconhecido saber dos povos indígenas. Um conhecimento que deverá levar as nações a um aprendizado que as coloque em caminho seguro, no esforço comum de salvar o planeta, progressivamente ameaçado nas questões climáticas. Soluções tecnológicas têm sido incapazes de superar o saber das populações indígenas quanto ao clima e à sobrevivência.
Os últimos relatórios do Programa de Biodiversidade e Gestão de Terras (PNUMA), da ONU, de olho nas previsões sobre eventos climáticos extremos, que acontecem e virão ocorrer no mundo, concluem que conhecimento indígena pode ajudar a humanidade no enfrentamento da crise ambiental.
As mais de 476 milhões de pessoas indígenas que habitam mais de 90 países, possuem, administram ou ocupam cerca de um quarto das terras do planeta, e se trata de territórios que vivem muito melhor, ambientalmente, que o resto do mundo.
SÔNIA GUAJAJARA
A primeira ministra brasileira dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, destacada líder mundial nessa causa, e que por muito tempo atuou como coordenadora da APIB, com grande protagonismo no mundo, é categórica:
“Nós precisamos que o mundo inteiro escute o que os povos indígenas têm a dizer”.
Os povos indígenas são um exemplo de convivência e de relação de respeito com a floresta e uma riqueza cultural maior que qualquer minério ou produto que podemos extrair das regiões onde vivem. “Preservar os seus direitos é mais importante que qualquer grande obra”, ressalta Sérgio Guimarães, secretário executivo do GT Infraestrutura, uma rede de 40 organizações unidas para debater modelos sustentáveis de desenvolvimento baseados na justiça socioambiental.
Ele explica que a floresta é a principal infraestrutura da Amazônia: faz chover na maior parte do Brasil, estabiliza o clima, abriga enorme biodiversidade, garante a sobrevivência dos povos originários e é base para o desenvolvimento do Brasil.
Daí, o esforço permanente que lideranças e defensores dos povos indígenas têm feito para que haja a tão esperada demarcação dos seus territórios. A própria ministra Guajajara adverte que “não há solução para a crise climática sem a demarcação dos nossos territórios”, lembrando que, comparados às demais terras públicas, os territórios indígenas são os que mais contribuem para o equilíbrio climático.
Demarcar os territórios indígenas é importante, mas não basta, diz a ministra: “É preciso respeitar o modo de vida dos povos indígenas porque é exatamente ele que garante essa preservação que a gente tanto fala. Se hoje nós indígenas somos um pequeno percentual da população mundial e conseguimos preservar 82% da biodiversidade que ainda resta no planeta, é porque nós temos muito a ensinar. E a sociedade inteira precisa entender, respeitar e se reconectar com a Mãe Terra.
FALSAS SOLUÇÕES
As lideranças indígenas têm insistido na necessidade de se reconhecer a contribuição desses povos para a preservação ambiental e que, para isso, é fundamental demarcar seus territórios. E apontam para falsas soluções, construídas pelo capital interessado em terras, baseadas em inovações tecnológicas elaboradas a partir da mesma lógica desenvolvimentista e produtivista que provoca as mudanças climáticas.
Espera-se, assim, que o Dia Internacional dos Povos Indígenas sirva para que governantes, a classe política, empresários responsáveis e integrantes do judiciário aprendam com os exemplos ambientais dados pelas comunidades indígenas, algumas das quais viveram em harmonia com a natureza por milhares de anos. Caso contrário, corremos o risco de acelerar a gigantesca crise planetária que o mundo enfrenta devido às mudanças climáticas, à perda de biodiversidade e incontrolável poluição.