Russomanno fez lobby por empresa que queria transformar capitalização em Bingos

Russomanno fez lobby por empresa que lesou 110 mil

O candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno | Divulgação
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O candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, que deu impulso a sua carreira política trabalhando pela defesa dos consumidores, procurou o governo federal em 2004 para defender interesses de uma empresa que deu calote em 110 mil pessoas e quebrou pouco tempo depois.

Russomanno, que na época era deputado federal, levou à Advocacia-Geral da União uma proposta da Valor para que os bingos, fechados em fevereiro de 2004, fossem autorizados a vender títulos de capitalização, para ancorar seus jogos.

Segundo ele, seria uma maneira de ocupar os imóveis que ficaram ociosos com o fim dos bingos e dar emprego aos seus ex-funcionários. Para a Valor, seria uma maneira de ampliar suas vendas e salvar o negócio.

A situação da Valor quando Russomanno tentou ajudá-la era nebulosa por conta das operações que fazia com o Banco Santos.

No balanço de 2004, os auditores dizem que "não é possível" apurar a saúde financeira da empresa. Em dezembro daquele ano, o Banco Central interveio no Santos por conta de um rombo que chegou a R$ 2,6 bilhões.

Títulos de capitalização são investimentos em que os poupadores concorrem a prêmios e recebem juros. Muitos economistas consideram essas aplicações pouco atraentes por causa das elevadas taxas de administração.

Russomanno pediu à Advocacia-Geral da União um "parecer técnico" sobre a proposta da Valor. Os pareceres da AGU, quando aprovados pelo presidente da República, têm caráter normativo e valem como se fossem lei.

O pedido foi rejeitado por consultores do Ministério da Fazenda que examinaram o caso a pedido da AGU. "A proposta (...) não se mantém do ponto de vista legal", escreveram num parecer de abril de 2007. "Não há como substituir uma ilegalidade, uma atividade já interditada".

RECLAMAÇÕES

Na época da proposta, a empresa era alvo de reclamações de investidores que se consideravam lesados por ela. No fim de 2004, havia 186 processos nos Procons e 1.957 processos na Justiça, segundo o balanço.

A Valor foi liquidada em janeiro de 2006. A dívida da empresa está calculada hoje em R$ 41 milhões, dos quais R$ 10 milhões com ex-funcionários. Seus ativos chegam a R$ 22,7 milhões. Só 4 mil credores se apresentaram para receber o que têm direito.

Por causa do baixo número, existe a possibilidade de que a Valor termine com dinheiro em caixa, sem dívidas.

Investigações do BC apontam que a Valor foi usada pelo Banco Santos para fraudar seus relatórios financeiros.

A Valor foi vendida e revendida em 2003 para empresas do banqueiro Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Santos. Era uma forma de inflar o capital do banco, segundo o Banco Central. Edemar diz que não havia rombo e que o banco foi liquidado por perseguição do governo.

OUTRO LADO

Procurado pela reportagem, o candidato Celso Russomanno (PRB) disse que não comentaria o assunto.

"Se quiserem discutir a cidade de São Paulo, estou totalmente à disposição. Sobre outros assuntos, não vou me pronunciar", disse.

A reportagem perguntou se o candidato não gostaria, então, de designar um representante ou advogado para tratar do assunto. "O que a Folha de S.Paulo fez comigo na sabatina não se faz", afirmou. "Eu deveria ter levantado e ido embora", concluiu.

O candidato do PRB foi sabatinado pela Folha e pelo UOL na última quarta-feira.

Durante o evento, Russomanno teve discussões intensas com a colunista do jornal Barbara Gancia. Ela ligou Russomanno ao "populismo" e ao "coronelismo" e o comparou ao deputado Paulo Maluf (PP). Em resposta, o candidato chamou os entrevistadores de "tendenciosos".

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