De acordo com uma reportagem publicada nesta quarta-feira (21) pelo jornal norte-americano The New York Times, o governo da Rússia tem utilizado o Brasil como base para treinar e forjar identidades de espiões, que depois são enviados para atuar em outros países.
A investigação do jornal identificou diversos cidadãos russos que vieram ao Brasil com o objetivo de criar uma nova identidade enquanto eram preparados como agentes de inteligência. Segundo a reportagem, essa estratégia funciona como uma "linha de montagem" de espiões em território brasileiro, com o intuito de inseri-los posteriormente em missões no exterior.
Parte do plano consiste em fazer com que os agentes se integrem discretamente a cidades brasileiras, criando vínculos sociais e profissionais que sustentem sua nova identidade. Com isso, conseguem viajar para países como Estados Unidos, nações europeias e do Oriente Médio com passaportes brasileiros, evitando suspeitas.
Um dos casos citados pelo New York Times é o de um cidadão russo que abriu uma loja de joias em uma cidade no Brasil. Outro exemplo é o de um suposto pesquisador preso na Noruega em 2022, que se identificou como brasileiro e apresentou passaporte do Brasil — a polícia norueguesa mais tarde afirmou que ele era, na verdade, um espião russo.
Esse esquema já havia sido mencionado em janeiro de 2024 em uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, que revelou que um suposto agente russo preso no Brasil recebia repasses financeiros de funcionários da Embaixada da Rússia em Brasília.
Um dos casos citados pela reportagem do The New York Times é o do Sergey Cherkasov, que foi contado pelo Fantástico em janeiro de 2024.
Cherkasov, cidadão russo, foi preso no Brasil por uso de documentos brasileiros falsos e suspeito de espionagem. Segundo a investigação da Polícia Federal sobre o caso à época, que o Fantástico teve acesso, Cherkasov recebia ajuda de um funcionário da diplomacia russa no Brasil.