Três meses após a posse de Fernando Collor na Presidência da República, em 1990, surgiram as primeiras denúncias de corrupção no governo. Em outubro daquele ano, as acusações passaram a atingir Paulo César Farias, um dos braços direitos do ex-presidente.
PC Farias foi acusado de agir como intermediário de negócios entre o empresariado e o governo. Collor conheceu PC em 1986, durante a campanha ao governo de Alagoas, da qual saiu vitorioso. O empresário foi apresentado ao então candidato pelo usineiro João Lyra, que o recomendou para chefiar as finanças da campanha.
PC foi o tesoureiro campanha de Collor também nas eleições presidenciais, em 1989, e tinha trânsito entre empresários e usineiros da época. Continuou trabalhando para Fernando Collor durante todo o mandato presidencial, que se encerrou em 1992. Paulo César Farias foi assassinado em 1996.
A partir desta segunda (6), quatro policiais que faziam a segurança de PC Farias vão a júri popular pela morte do empresário e da namorada, Suzana Marcolino. Relembre abaixo os principais escândalos que marcaram a trajetória de PC Farias no governo Collor:
Quem foi PC Farias
O empresário Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello, foi acusado de ter montado uma rede de tráfico de influência e corrupção, agindo como intermediário de negócios entre o empresariado e o governo.
Ele fugiu para o exterior após ter prisão decretada, mas foi capturado na Tailândia e extraditado para o Brasil, onde cumpriu dois anos de prisão. Seis meses depois de conseguir liberdade condicional, foi encontrado morto, em junho de 1996. Ao lado do seu corpo, estava também o corpo de sua namorada, Suzana Marcolino.
Outubro de 1990 - Petrobras e Vasp
O advogado e administrador público Luis Octávio da Motta Veiga acusou o ex-tesoureiro e o então secretário-geral da Presidência, Marcos Coimbra, de pressionar a estatal para fechar um financiamento de US$ 40 milhões, por meio da BR Distribuidora, destinado à empresa de aviação Vasp.
Pela proposta de PC Farias, recusada por Motta Veiga, a Petrobras liberaria US$ 30 milhões em combustível e US$ 10 milhões em espécie, dívida que seria saldada em dez anos, sem juros.
Em troca, a Petrobras seria a fornecedora preferencial da Vasp. A proposta foi rejeitada pelo conselho da estatal, mas PC Farias teria continuado a pressionar o presidente da empresa, que renunciou.
Novembro de 1990 - Renan rompe com Collor e ataca PC
Renan Calheiros (PMDB-AL), atual presidente do Senado, era aliado político de Collor. Ele assessorou o então candidato durante a campanha presidencial em 1989 e, após a vitória, assumiu a liderança do governo na Câmara dos Deputados.
Em outubro de 1990, quando disputou o governo de Alagoas, Calheiros acusou seu adversário, Geraldo Bulhões, de fraudar a eleição e entrou em conflito com PC Farias, que havia sido o tesoureiro da campanha de Bulhões.
Foi então que Renan rompeu com ex-presidente, acusou-o de traição e deixou o PRN (Partido da Reconstrução Nacional, extinto), legenda de Collor. Anos depois, em entrevista, disse ter avisado Collor sobre o esquema PC.
Agosto de 1991 - Rosane Collor e a LBA
Após acusações de irregularidades, a presidente da Legião Brasileira de Assistência (LBA), a primeira-dama Rosane Collor, abandonou o cargo na entidade filantrópica.
Mais tarde, ela alegou que teve problemas com PC Farias quando foi presidente do órgão porque o ex-tesoureiro, segundo ela, queria interferir "colocando muitas pessoas para trabalhar em cargos importantes".
Maio de 1992 - Pedro Collor acusa PC
Ex-diretor das organizações Arnon de Mello, que controlava grande parte da imprensa alagoana, Pedro Collor, irmao de Fernando Collor, disse à revista ?Veja? que PC Farias era ?testa-de-ferro" do presidente e possuía influência nas decisões de governo.
Afirmou ainda que o jornal "Tribuna de Alagoas" ? que o ex-tesoureiro pretendia lançar em Maceió ? era, na verdade, de Fernando Collor, e que um apartamento em Paris comprado por PC também pertencia ao irmão.
As declarações marcaram o início do processo que desencadeou o impeachment do ex-presidente. Dois anos após a destituição de Fernando Collor, Pedro Collor morreu devido a um câncer no cérebro.
Junho de 1992 - Contas da Casa da Dinda
Eriberto França, motorista da secretária particular de Fernando Collor, Ana Acioli, disse em entrevista à revista ?IstoÉ? que a empresa Brasil-Jet, de PC Farias, pagava contas da residência presidencial, a Casa da Dinda. O ex-presidente chegou a fazer um pronunciamento para desmentir as declarações do motorista.
Mais tarde, a chamada CPI do PC Farias no Congresso apontou depósitos de PC e de integrantes do ?esquema PC? na conta de Ana Acioli. Além disso, localizou-se um cheque fantasma que teria sido utilizado para a compra de um carro Fiat Elba para a primeira-dama, Rosane Collor. O cheque era assinado pelo ex-piloto Jorge Bandeira de Melo, sócio de PC Farias.
Agosto de 1992 - CPI aponta "esquema PC"
A Comissão Parlamentar de Inquérito criada para apurar as denúncias contra Fernando Collor referentes às atividades de Paulo César Farias aprovou o relatório final do senador Amir Lando.
Ele resumiu os depoimentos colhidos pelo grupo e analisou o que chamou de ?esquema PC?. De acordo com o relatório, o ex-tesoureiro, auxiliado por seis funcionários, cometeu sete crimes, cujas penas, somadas, totalizariam 59 anos de prisão.
A estimativa feita na época era que US$ 6,5 milhões tinham sido transferidos para pagar gastos pessoais de Fernando Collor em 33 meses de mandato.
No relatório, o senador considerou que o comportamento do presidente fora incompatível com ?a dignidade, a honra e o decoro do cargo e chefe de Estado?.
Junho de 1993 - PC foge
Após um juiz da 10ª Vara Federal de Brasília decretar a prisão preventiva de Paulo César Farias por crime de sonegação fiscal, ele fugiu para Buenos Aires em um bimotor conduzido pelo piloto Jorge Bandeira de Mello, seu sócio na empresa de táxi aéreo Brasil-Jet.
Outubro de 1993 - PC é localizado em Londres
Após a fuga para Buenos Aires, em junho, PC Farias só foi localizado em outubro, em Londres. A Justiça inglesa decretou então a prisão preventiva de PC, que fugiu novamente, desta vez para Bangcoc, na Tailândia.
Em novembro, foi capturado pela polícia tailandesa e enviado a Brasília, onde foi preso.
PC foi julgado e condenado a quatro anos de prisão por sonegação fiscal e a sete anos por falsidade ideológica. Cumpriu um terço da pena e, em 28 de dezembro de 1995, recebeu liberdade condicional.
Junho de 1996 - Morre PC Farias
Seis meses após receber sua liberdade condicional, PC Farias morreu, em 23 de junho. Seu corpo foi encontrado ao lado do da namorada, Susana Marcolino, em sua casa de praia, em Maceió.