Quero ser julgado no STF antes de prescrição, diz Dirceu

Em uma aparição pública tão rara quanto consagradora, foi recebido de pé por cerca de 600 militantes

José Dirceu | Divulgação
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Denunciado pelas investigações como o líder do chamado esquema do Mensalão no PT, maior crise política do governo Lula, e réu no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, atual dirigente do partido, aparenta plena reabilitação da imagem. Ao menos diante da militância petista.

Em uma aparição pública tão rara quanto consagradora, foi recebido de pé por cerca de 600 militantes, além de dirigentes do partido, na sede de um sindicato no centro de São Paulo. Ele minimiza o calor dos aplausos definindo a manifestação como "carinho", não apoio. Perto de ver o processo que o implica na compra por votos de parlamentares prescrever, o político evita desenhar um futuro político. Mas de duas coisas tem certeza: de que PSDB e PMDB serão aliados na reforma política contra os interesses do PT e que prefere ser julgado ao escapar do processo por mecanismos legais.

Confira os principais trechos da entrevista exclusiva ao Terra:

Terra - Com uma recepção consagradadora da militância como o senhor teve nesta tarde não há planos de voltar a uma carreira pública em breve?

José Dirceu - Não confunda a recepção da militância com apoio político. Não quer dizer que todo mundo concorda comigo. Já declarei no começo deste ano e tenho me comportado assim. Estou fora. Sou dirigente do PT e não tenho nenhum projeto, meu único objetivo neste ano é trabalhar para me defender no Supremo Tribunal Federal. Quero ser julgado o mais rápido possível. Não faço planos pra depois.

Terra - O senhor disse que o PSDB e o PMDB caminharão juntos nesta reforma política. Por que a avaliação?

José Dirceu - Porque defendem alguma forma de voto distrital, querem o fim do voto proporcional e o PT defende o voto proporcional. Isso não tem nenhum juízo de valor sobre a participação do PMDB, nosso principal aliado, no governo. É a questão da reforma política. Isso é um fato.

Só expressei um fato. O "distritão" é ainda pior que o distrital, na minha opinião. É a radicalização do controle do poder econômico sobre o sistema eleitoral. Os partidos estão totalmente anulados no distritão, você não tem mais partidos. Os deputados mais votados em um Estado estão eleitos, não existem mais partidos. Pode-se dizer que o objetivo do PT é eleger mais deputados. Não. Nosso objetivo na reforma política é construir o sistema político-eleitoral no País que supere os problemas do atual sistema, que é a representatividade, poder econômico, caixa dois, que é o problema do fortalecimento do debate real das propostas. Fui cuidadoso quando elegi o voto distrital. Sou contrário, mas não nego que ele tenha uma série de qualidades. Sou contrário porque acaba com o voto proporcional e porque as minorias não estarão representadas e porque a formação dos distritos, apesar de possíveis, a experiência histórica mostra que são manipulados de forma a garantir maiorias, o que é antidemocrática.

Terra - Como o senhor viu a decisão do STF sobre a lei da Ficha Limpa?

José Dirceu - Eu não posso analisar a decisão do Supremo, né? Infelizmente. Gostaria de analisar, mas não posso.

Terra - Enquanto falamos vai para as bancas a edição de O Estado de S. Paulo que prevê para agosto o desmantelamento da ação com a prescrição do processo por formação de quadrilha no mensalão...

José Dirceu - Não, isso não é fato. Está havendo confusão. Ao que me consta, no dia 26 de agosto vai prescrever, mas é o caso concreto. É tudo o que eu não quero. Não quero que prescreva nenhuma pena daquilo que eu fui acusado. Eu espero que o julgamento seja antes de 26 de agosto. Eu espero que o Supremo julgue antes disso, mas prescreve a pena concreta, não quer dizer que não vá ser julgado. Eu, como cidadão e como réu, quero ser julgado antes.

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