O PT lança neste sábado a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição, na esperança de estancar a queda na popularidade da presidente e repetir a fórmula vitoriosa de 2010.
Segundo as últimas pesquisas de intenção de voto, Dilma mantém a dianteira na disputa, mas a rejeição a seu governo tem crescido.
Num levantamento do Ibope divulgado na última quinta, o percentual de entrevistados que consideram sua gestão ruim ou péssima alcançou 33%, cinco pontos percentuais a mais que o índice medido em março.
O aumento na rejeição a Dilma não tem afetado, no entanto, as alianças governistas para a eleição.
No início do mês, o PMDB, principal aliado do PT na coalizão que ampara o governo, formalizou seu apoio à repetição da parceria do último pleito presidencial.
Também já se comprometeram a continuar na coalizão o PC do B, o PP e o PTB. Nas próximas semanas, espera-se que o PSD e o PR se unam ao grupo.
A ampla coalizão dará à candidata petista um tempo de propaganda eleitoral gratuita em TV e rádio muito maior que o de seus principais oponentes, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
As parcerias devem ainda garantir a Dilma, caso se reeleja, a maioria das cadeiras no Congresso.
O vice-presidente Michel Temer e a presidente Dilma Rousseff participam de um evento no Palácio do Planalto, em Brasília, em 2012. 03/4/2012
Foto: Ueslei Marcelino / Reuters
"Modelo desgastado"
Como contrapartida pelo apoio ao governo, os partidos da base exigem cargos em órgãos públicos.
Hoje, oito ministérios ou secretarias estão nas mãos de siglas aliadas, quatro deles com o PMDB.
Para Ricardo Ismael, professor de Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), "não há dúvidas de que é necessário contar com uma maioria estável no Congresso para aprovar projetos e garantir a governabilidade".
Por outro lado, diz ele, a prática está "bastante desgastada" e passa a impressão de que o governo pensa mais em si do que nos interesses da sociedade.
"Esses ministérios (comandados por siglas aliadas) viram praticamente feudos dos partidos, que fazem com eles o que querem", afirmou Ismael à BBC Brasil.
Os efeitos da megacoalizão no Congresso também são controversos.
Para o cientista político, embora a ampla base por um lado garanta relativa tranquilidade a Dilma - que sofreu poucas derrotas relevantes no Legislativo -, por outro limita as ações do governo.
"Como a base é muito heterogênea ideologicamente, não há maioria para tirar do papel questões de fundo, como as reformas tributária e política".
Segundo o professor, enquanto caciques como os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) integrarem a base governista, "é difícil imaginar que o governo apoiará uma pauta que vá contra as elites conservadoras".
Controle da máquina
Entre as vantagens de Dilma na campanha, Ismael cita o "controle da máquina".
Até a eleição, diz ele, a presidente e seus programas do governo terão grande exposição por meio da publicidade oficial.
Para Maria do Socorro Braga, professora de Ciências Políticas da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Dilma também tem como trunfos os programas de distribuição de renda que se expandiram nos governos do PT, principalmente o Bolsa Família.
O ex-presidente Lula, uma das principais presenças do evento que lançou a candidatura de Padilha
Foto: Alan Morici / Terra
Essas políticas, diz a professora, garantem à presidente um expressivo apoio entre os brasileiros mais pobres.
"É esse segmento que dá força para que a Dilma se mantenha no patamar de hoje (nas pesquisas)", diz Braga.
Para Ismael, outra vantagem de Dilma é contar com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bastante influente perante o eleitorado.
Segundo o professor, Lula e Dilma poderão dividir as tarefas na campanha. "Ele poderá ser escalado para conquistar votos no Nordeste, onde é muito popular, ou atacar adversários", exemplifica.
Por melhor que seja, porém, a campanha sozinha não bastará para garantir a vitória da atual presidente, avalia Braga.
Até a eleição, diz a professora, variações na economia que se reflitam no bolso dos eleitores terão peso maior.
"Se o poder de compra dos eleitores diminuir, pioram as chances de Dilma. Se as condições se mantiverem ou até melhorarem, ela amplia suas chances", diz a professora.