O coordenador do programa de governo de Dilma Rousseff (PT), Marco Aurélio Garcia, reuniu-se ontem com responsáveis pelo programa da candidata derrotada do PV, Marina Silva, segundo informou a senadora. Em entrevista ontem ao Portal Terra, Marina afirmou que tanto Dilma quanto José Serra (PSDB) manifestaram interesse de incorporar propostas verdes aos seus planos de governo, e admitiu que a revisão do Código Florestal é o maior obstáculo para a adesão.
Marina Silva defende a revisão da proposta do Código Florestal apresentada ao Congresso pelo deputado Federal Aldo Rebelo (PC do B).
"Foram feitas as primeiras conversas de pessoas sugeridas por mim com o Marco Aurélio Garcia. Não falei com o Sirkis (Alfredo Sirkis, vice-presidente do PV), mas acredito que o outro lado esteja fazendo o mesmo", disse a senadora, que sugeriu que voltará a se candidatar em 2014, ao classificar a disputa de 2010 como um ensaio geral.
"É o embrião do que chamo uma terceira via, não está consolidado. Tínhamos que receber esse resultado (os quase 20 milhões de votos) com alegria."
Em uma entrevista repleta de menções a Deus, Marina disse esperar que Dilma e Serra "aproveitem a bênção do segundo turno". Criticou a satanização do debate sobre o aborto e sugeriu que pode adotar uma postura de independência.
Marina reiterou sua crítica aos dois presidenciáveis que, segundo ela, são muito parecidos. Perguntada se não seria um contrassenso declarar apoio a qualquer um dos dois, a senadora afirmou que o segundo turno é "uma bênção", porque é a possibilidade que os dois têm de se diferenciar. Ela criticou o conceito de neutralidade no segundo turno. "Neutralidade não é uma posição, podemos apoiar um ou outro, ou adotarmos a independência, que é diferente da neutralidade", afirmou.
A senadora negou que seu partido esteja demorando para se posicionar. Segundo ela, sua candidatura já influenciou o debate ao apresentar suas propostas aos candidatos que estão na disputa. "Cabe a eles internalizar ou não essa plataforma", disse, reiterando que o apoio do PV será programático. Ela defendeu seu partido ao dizer que sente grande alegria porque a minoria tem direito de manifestar sua posição. "Estou formando uma posição que, espero, seja a melhor para o Brasil", contou.
Marina evitou responder se se sente pessoalmente mais próxima a Dilma ou a Serra; afirmou que, para conversar, ambos são "respeitáveis". Disse que foi colega de Serra no senado e chamou de "divergências maduras e nada pessoal" seus confrontos com Dilma no governo Lula.
Perguntada se seus 30 anos de militância no grupo petista não a aproximariam da candidatura do partido, a senadora respondeu que não será pautada por relações de amizades. "Não é assim que se discute política."
A senadora disse considerar legítimo que temas de comportamento façam parte da campanha. Segundo Marina, no primeiro turno as perguntas acerca do assunto eram direcionadas quase que exclusivamente a ela, por ser evangélica. Para Marina, porém, não se deve abordar assuntos como aborto e casamento gay de forma preconceituosa "nem em relação a quem crê como a quem não crê".
Cargo. A ex-candidata descartou a possibilidade de ocupar um ministério, independentemente do resultado das eleições. "Já dei minha contribuição como ministra, acho que foi uma contribuição relevante. Agora vou dar um outro tipo de contribuição", disse Marina, que já sugeriu que poderá atuar no terceiro setor.
Pela primeira vez, Marina comentou a vitória apertada de Tião Viana (PT) no Acre - o petista ganhou do adversário, Tião Bocalon (PSDB), por uma diferença de 4,3 mil votos. Viana é do grupo político de Marina, mesmo depois que a ex-candidata mudou de partido. Segundo Marina, a disputa apertada foi um sinal dado pela população que deve ser recebido com humildade.