BRASÍLIA - O PT conseguiu desarticular um movimento de uma de suas correntes que queria aprovar em seu 5º Congresso uma mobilização nacional pela anulação do julgamento do mensalão, que levou três integrantes da alta cúpula do partido para a prisão. A corrente Trabalho propôs a emenda, mas foi derrotada sob o argumento de que isso seria usado pela oposição na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff e nas campanhas estaduais do ano que vem.
Para não ver aprovada a emenda, a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) foi obrigada a apresentar um texto alternativo que terminou sendo acatado, no qual oferece apoio às "iniciativas da militância e movimentos sociais em favor da reparação das injustiças e ilegalidades cometidas contra os companheiros condenados", mas desobrigando a legenda a fazer obrigatoriamente uma campanha pedindo a revisão criminal pela anulação da "injusta sentença", como queria a corrente derrotada.
O presidente do PT, Rui Falcão, já havia se colocado contrário à proposta da corrente Trabalho. "Eu avisei ao meu pessoal que se um dia eu for para a cadeia não aprovem nenhuma resolução de apoio porque fica pior", criticou Valter Pomar, dirigente histórico do partido, ao assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, que acompanhou o debate, mas não se manifestou.
Desastre. Antes da votação, a CNB, que reúne o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu, preso condenado pelo Supremo Tribunal Federal, fez uma reunião na qual os dirigentes fizeram um apelo para que a emenda mais contundente não fosse apoiada. "Nós consideramos que não é o centro de nossa tática transformar isso numa mobilização nacional. Para nós o centro da tática é a reeleição da presidente Dilma e dos companheiros nos Estados. Seria horroroso colocar isso em votação, um desastre", afirmou Paulo Frateschi, ex-dirigente do partido.
Irmão do ex-deputado José Genoíno, também preso no mensalão, o deputado José Guimarães (PT-CE) afirmou que sua preocupação não é com a presidente ou com o ex-presidente Lula. "O pessoal fala assim: "Vai incomodar a Dilma, o Lula." Dane-se. O PT não tem como fugir disso. Não adianta querer controlar senão a turma passa por cima." Apesar disso, ele considera desnecessário aprovar a obrigatoriedade de uma mobilização nacional pró anulação do julgamento.
Emenda light. O Estado acompanhou a reunião. Apesar da orientação do comando da CNB, militantes da corrente avisaram que se a emenda fosse apresentada votariam a favor. "Vamos ficar mal com todo mundo se levar para votar e votarmos contra. Embora quem votar favorável irá parecer que está votando contra o governo", disse a militante Maria do Carmo, na reunião. Diante da posição dos militantes, a CNB se viu obrigada a apresentar uma emenda mais light, que proporia apoio a todas as manifestações favoráveis aos mensaleiros. Pega de surpresa, a corrente Trabalho afirmou no plenário que Ricardo Berzoini e Guimaraes haviam apoiado sua proposta de obrigar o partido a defender a anulação do julgamento e que a mudança de ideia havia sido incluída no texto em debate após o encerramento do prazo.
Para desmobilizar a militância que queria discutir no congresso a política de alianças eleitorais, o comando do PT se comprometeu a discutir o assunto em evento específico sobre o tema. Alguns petistas defendiam a discussão ontem do rompimento com o PMDB em Estados como Maranhão e Rio de Janeiro. "Nossa militância é madura o suficiente e faz aliança em todo o Brasil. Não há razão para ter desconforto com alianças", defendeu Berzoini.
Ao final do discurso, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, tentou contemporizar a insistência da militância em fazer campanha pela anulação do mensalão. "Mostramos que somos um partido solidário com nossos companheiros", assinalou o petista.