Após pressões de correntes internas para que o Partido dos Trabalhadores (PT) comandasse uma mobilização pelo país para tentar anular o julgamento do mensalão, a cúpula da legenda conseguiu conter, no último dia de seu encontro nacional em Brasília, as alas mais radicais com a aprovação de uma resolução que desferiu críticas moderadas à condenação de quatro filiados na ação penal.
A manobra que impediu a aprovação do texto mais contundente no 5º Congresso Nacional do PT foi liderada pela corrente majoritária da sigla, a Construindo um Novo Brasil (CNB), a pedido do Palácio do Planalto. A tendência petista é integrada pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão.
Inconformada com a postura do partido frente à condenação do ex-ministro José Dirceu, do ex-presidente da sigla José Genoino, do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), a corrente O Trabalho apresentou uma proposta de resolução que defendia o endurecimento das ações para "descontruir" o julgamento da ação penal. Os líderes da Trabalho propuseram uma revisão criminal que anulasse o que foi classificado como "injusta sentença".
Com a possibilidade iminente de a militância aprovar a resolução da corrente Trabalho, o deputado e ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP) formalizou, praticamente no encerramento do evento partidário, uma proposta para atender parte das reivindicações dos colegas de partido.
A resolução de Berzoini, aprovada pela maioria dos participantes do congresso, garante apoio da sigla às iniciativas e ações, não apenas da militância petista, que solicitem "reparação" aos filiados que foram condenados no mensalão. O texto afirma que houve "injustiças e ilegalidades" na análise da ação penal contra Dirceu, Genoino, Delúbio e João Paulo Cunha.
"[O Partido dos Trabalhadores] Resolve apoiar todas as iniciativas e ações da militância petista, dos movimentos sociais, de personalidades e da sociedade civil em favor da reparação das injustiças e ilegalidades cometidas contra os companheiros condenados no julgamento da Ação Penal 470", diz o texto aprovado pelo congresso do PT.
O documento de uma página acusa ainda a imprensa e a oposição de terem tentado promover um "linchamento moral" para "criminalizar" o PT e influenciar a disputa eleitoral.
Votação
Na tentativa de conquistar o apoio dos delegados do PT que participavam do congresso a sua proposta, Ricardo Berzoini enfatizou que, na opinião dele, "nunca houve mensalão". O parlamentar de São Paulo argumentou que somente a o texto mais moderado tinha condições de unir o partido para a "luta" que tentaria conquistar a opinião pública.
"Desde 2005, a minha posição é clara, nunca houve mensalão, nunca houve compra de votos, nunca houve corrupção ativa nem passiva. Nós precisamos fortalecer esse entendimento dentro do PT. É por isso que peço votos para essa resolução, mesmo não tendo divergências significativas com a resolução da corrente Trabalho", discursou Berzoini, arrancando aplausou da plateia que lotava o auditório.
Atos contra o mensalão
O encontro dos militantes e dirigentes do Partido dos Trabalhadores foi aberto na última quinta (12), em cerimônia que contou com a presença da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Na ocasião, um grupo de petistas estendeu uma faixa no auditório do centro de convenções pedindo a anulação do processo do mensalão. Outros militantes entoaram gritos de ordem em apoio aos petistas condenados na ação penal. ?Dirceu, guerreiro do povo brasileiro; Genoino, guerreiro do povo brasileiro?, gritaram parte dos participantes do congresso.
No mesmo dia, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, saiu em defesa dos colegas de partidos afirmando que o processo do mensalão é um ?tsunami de manipulação?. Falcão enfatizou ainda que ?companheiros foram condenados sem provas?. Apesar das pressões para que se manifestassem sobre o assunto, Dilma e Lula evitaram fazer comentários sobre a ação penal.
Na sexta (13), integrantes do PT aproveitaram os holofotes do evento para fazer um ato em desagravo a Dirceu, Genoino e Delúbio, os três petistas que já tiveram a ordem de prisão decretada. O STF ainda não expediu o mandado de prisão de João Paulo Cunha.
Durante a homenagem aos ex-dirigentes, Cunha disse que os escândalos paulistas da máfia dos fiscais e do suposto esquema de pagamento de propina para compra e manutenção de trens são maiores do que o mensalão.
?Cinco fiscais da Prefeitura de São Paulo desviam R$ 500 milhões. O contrato da Alstom desvia mais de meio bilhão. E é o maior escândalo da historia. É um escândalo político, é um escândalo de corrupção?, concluiu, ao fazer referência ao suposto esquema paulistano.