Episódios de corrupção nas gestões do PT e do PSDB e a discussão sobre a criminalização da homofobia geraram bate-bocas no último debate televisivo antes do primeiro turno, realizado na noite desta quinta-feira (2) pela "TV Globo".
A emissora e as campanhas definiram um formato no qual os dois candidatos que trocavam perguntas, respostas e comentários ficavam frente à frente, em uma mesa central, enquanto os demais permaneciam nos seus lugares ao redor.
O método adotado favoreceu o enfrentamento entre os presidenciáveis acima do que foi visto nos debates anteriores.
O esquema de desvios de recursos na Petrobras, os mensalões petista e tucano, privatizações, inflação, programas do atual governo e a suposta compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso permearam os confrontos entre Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
Entre os considerados nanicos, Levy Fidelix (PRTB), que no debate do último domingo (28) na "TV Record", propôs o enfrentamento a homossexuais e chegou a os associar à pedofilia foi cobrado de forma incisiva por Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV).
A candidata do PSOL abriu o primeiro bloco fazendo críticas à "TV Globo", afirmando que a emissora se recusou a cobrir candidaturas que estão atrás nas pesquisas.
"Hoje estou aqui por força da garantia da lei". Em seguida, perguntou a Dilma se o escândalo da Petrobras é fruto das alianças do PT com "a direita".
Dilma respondeu que sua candidatura é a única que propôs medidas concretas para acabar com a corrupção, como criminalizar o caixa dois, afirmou ter demitido o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e permitido que se investigasse a estatal com independência.
Dilma e Marina
No segundo bloco, onde temas foram previamente escolhidos, a independência do Banco Central foi o assunto sorteado para uma pergunta de Marina. A ex-senadora escolheu Dilma e afirmou que a presidente defendia a autonomia do Banco Central em 2010 e agora mudou de posição.
"Sugiro que a senhora leia o que escreveram no seu programa. Porque a senhora ou está deliberadamente tentando confundir autonomia com independência, mas isso não é possível, candidata. Autonomia é uma coisa, independência é outra. Até porque as consequências também são outras", respondeu Dilma. Na réplica, Marina disse que a inflação está fora de controle porque o Banco Central não é autônomo.
Em seguida, acusou Dilma de não ter experiência para o cargo que ocupa. "Está falando a Dilma das eleições. E não a Dilma das convicções. Que por não ter experiência política e ter virado presidente da República, não ter sido nem vereadora, e virado Presidente da República, sabe o que acontece? Confunde os poderes."
No confronto mais ríspido entre as candidatas, Marina questionou Dilma sobre ela não ter divulgado o programa de governo e afirmou que a rival não viabilizou os compromissos feitos em 2010. A petista respondeu que cumpriu todos os compromissos, reduziu a taxa de juros e que comandou o governo que mais combateu a inflação.
Na réplica, Marina citou a demissão de Paulo Roberto Costa. "Você diz que foi o próprio diretor da Petrobras que disse que ia sair porque tinha recebido um recado. Foi negociação premiada. Existe agora a delação premiada. Houve uma demissão premiada, negociada no seu governo?".
Na tréplica, Dilma citou um diretor do Ibama nomeado por Marina quando a candidata era ministra do Meio Ambiente. "Marina, vamos colocar as coisas e os pingos nos 'is'. O seu diretor, nomeado por você, diretor de fiscalização do Ibama foi afastado do meu governo por crime de desvio de recursos. E eu não saí por aí, Marina, dizendo que você era, conhecia a corrupção e tinha acobertado a corrupção."
Marina irritou-se com Dilma e, com dedo em riste, começou a atacar a candidata mesmo sem ter direito a voz, já que o confronto havia se encerrado. Antes de ser interrompida pelo mediador William Bonner, Marina disse: "A forma como você fala toda atrapalhada é a maior…"
Dilma e Aécio
Os confrontos entre Dilma e Aécio os dois candidatos trocaram risadas irônicas em vários momentos. Mais uma vez, a candidata petista questionou Aécio sobre a defesa das privatizações da Petrobras e de bancos públicos na época em que o tucano era líder do PSDB na Câmara. O senadora aproveitou para citar o esquema de corrupção na Petrobras.
Na segunda vez que perguntou ao tucano, Dilma o indagou sobre o Minha Casa, Minha Vida. O tucano respondeu que manterá os "bons programas" da gestão petista, mas reivindicou a paternidade de alguns deles. "O Bolsa Família foi aprimorado porque ele foi unificado, só não foi reconhecida a sua origem, que está exatamente no programa do governo do Fernando Henrique, com bolsa-escola, bolsa alimentação."
"Interessante, Aécio, um programa de 14 milhões de famílias não tem nada a ver com o programa que era extremamente fatiado e não chegava a mais de dois milhões de pessoas", retrucou Dilma.
Quando foi a vez de Aécio perguntar a Dilma, o tucano escolheu a inflação e criticou a política econômica dos últimos quatro anos. "Fui bem sucedida quando se compara com o que aconteceu com os governos do qual o senhor era líder, que quebraram o país três vezes. O atual indicado pelo senhor para ser o seu eventual ministro da Fazenda é aquele que praticou taxas de inflação acima do limite superior da meta, 7,7% em 2001, e em 2002, 12,5%", afirmou a petista.
"Nem a competência do seu marqueteiro João Santana é capaz de reescrever a história. O PSDB, candidata, seja justa, seja generosa, o partido que quando assumiu a Presidência da República pegou a inflação a 916% ao ano (…) Levamos a 7%. Teve um pique de 12%, a partir da eleição do presidente Lula, da imprevisibilidade do que significaria o seu governo", respondeu o tucano.
Marina e Aécio
Nesta reta final, as pesquisas indicam que Marina e Aécio vão disputar voto a voto o ingresso no segundo turno. No primeiro confronto entre eles, o tucano questionou a ex-senadora sobre o passado petista dela e citou o mensalão.
Marina retrucou citando as suspeitas de compra de votos para a emenda da reeleição, no governo FHC.
"Vossa Excelência também esteve dentro de um partido que praticou o mensalão, quando foi da votação da reeleição. Foi ali que começou o mensalão. No entanto, Vossa Excelência também permaneceu nesse partido, e nunca vi fazer crítica à origem do mensalão."
Aécio acusou Marina de fazer uma defesa do mensalão do PT e disse que as denúncias sobre a compra de votos "jamais foram comprovadas".
Homofobia
Eduardo Jorge escolheu Levy Fidelix como interlocutor e propôs que ele pedisse perdão pelas declarações contra os homossexuais no debate anterior. Levy respondeu que apenas exerceu o direito de "livre expressão" e atacou o rival do PV. "Você não tem moral nenhuma para me falar isso. Você, acima de tudo, propõe que os jovens consumam maconha, isso é crime."
O candidato do PV disse que Levy terá de se resolver na Justiça e afirmou que o adversário "envergonhou o Brasil" com o que falou no debate da Record. Levy demonstrou irritação. "Envergonha você, cara", disse. "Vire sua boca para lá."
Em seguida, foi a vez de Luciana Genro e Levy trocarem farpas.
A candidata do PSOL comparou o discurso do candidato do PRTB às perseguições na história, como o holocausto. "O teu discurso de ódio é o mesmo discurso que os nazistas fizeram contra os judeus, é o mesmo discurso que os racistas fazem contra os negros, mas o racismo felizmente já é crime", disse Luciana. "Tu deveria ter saído do debate, algemado diretamente para a prisão."
"Fanático das privatizações" e "leviana"
Aécio protagonizou discussão ríspida com Luciana Genro. A candidata do PSOL o indagou sobre as privatizações do PSDB e o mensalão mineiro. "Vejo que você faz com o tema livre aqui o seu espetáculo, sem a menor preocupação com a realidade", disse Aécio, em resposta.
"Você que anda de jatinho, que ganha um alto salário não conhece a realidade do povo", disse Luciana. "Tu é tão fanático das privatizações, e da corrupção, que tu chegou ao ponto de fazer um aeroporto com o dinheiro público e entregar a chave para teu tio", acrescentou a candidata.
Na réplica, Aécio, com dedo em riste, acusou Luciana de ser leviana. "Você está aqui como candidata à Presidência da República". O tucano foi interrompido pela psolista. "Tu não levante o dedo para mim."
Linha auxiliar
Para atacar o governo federal, Pastor Everaldo (PSC) fez dobradinhas com Aécio em dois momentos e em um com Marina Silva. Em uma das tabelas com o tucano, Everaldo escolheu como tema o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas o tema obrigatório era a previdência privada.
Assim que começou a fazer a pergunta sobre o PAC, ele foi interrompido por Bonner. "Os senhores me permitam, esse bloco é de tema determinado por sorteio. Previdência. Vamos começar de novo, o senhor pode fazer a pergunta, Pastor, sobre previdência. Em respeito às regras do debate", disse o jornalista. "Então, senador, o que tem a me dizer sobre a previdência no Brasil?", emendou o candidato.
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