O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira em Pretória, na África do Sul, que as preocupações com a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil são "descabidas".
Lula, que passou a manhã em uma visita de Estado no país-sede da atual Copa, disse que o Brasil vai investir bilhões de dólares em recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nos próximos quatro anos e criar infraestrutura para uma copa "inesquecível" no país.
"É descabido alguém se preocupar com alguma coisa sobre a Copa de 2014 no Brasil", disse Lula. "O Brasil vai investir em infraestrutura até 2014 o que não investiu em 30 anos."
Lula disse ter consciência de que obras como aeroportos, corredores e transportes e metrôs precisam ser olhadas "com carinho", mas insistiu que o mundial no Brasil servirá de "cartão postal" para o país.
"Não queremos fazer uma Copa que as pessoas saiam dizendo que o avião não pousou porque tinha um buraco na pista. Nós queremos fazer da Copa do Mundo um cartão postal em que as pessoas possam definitivamente enxergar o Brasil como uma grande economia", afirmou.
Segundo o presidente, o país tem US$ 624 bilhões para serem investidos no âmbito do PAC até 2014.
Na África do Sul, desde o início da Copa do Mundo, foram registrados problemas como acesso dos espectadores aos estádios e, mais recentemente, capacidade dos aeroportos sul-africanos para receber aviões de turistas viajando para ver os jogos finais em Johanesburgo.
Na semifinal entre Espanha e Alemanha, muitos espectadores não puderam ver a partida por conta de um caos aéreo criado no aeroporto de Durban.
No Brasil, as preocupações dizem respeito à qualidade dos estádios e possíveis gargalos na capacidade dos aeroportos.
Entretanto, Lula disse que os investimentos permitirão que a Copa no Brasil seja "inesquecível".
Mundial sul-africano
O presidente falou a jornalistas depois de uma reunião de quase duas horas com o presidente sul-africano, Jacob Zuma, na sede do palácio presidencial, o imponente edifício de Union Buildings, em Pretória, a menos de uma hora de Johanesburgo.
Lula disse que a exposição da África do Sul gerou "em 90 dias" uma exposição para o país que vai "levar 90 anos para ter de novo".
"No meu país, a qualquer hora que ligasse a TV, era África", disse Lula. "A cobertura sobre a África foi digna, respeitosa, elogiosa."
O presidente brasileiro disse que o continente africano é geralmente mostrado ao mundo "com uma carga de preconceito incomensurável".
"Havia muito preconceito de a Copa do Mundo do mundo ser realizada na África. Será que a África do Sul tá preparada? Será que ela vai fazer estádio? Será que vai fazer aeroporto? Será que não vai ter muita bagunça, muita briga, muita desordem?", discursou.
"Cada companheiro jornalista que voltar para o seu país, pode ter visto um defeito, até dois. Mas ele volta com a convicção de que a África do Sul encantou o mundo com a organização da Copa do Mundo."
Lula ainda brincou e se referiu carinhosamente às vuvuzelas, amplamente utilizadas nos estádios e fora deles mas nem de longe unanimidade entre os espectadores dos jogos.
"Se não faltasse nada, ou se tivesse faltado alguma coisa... aquelas vuvuzelas...", disse, arrancando risos dos interlocutores.
Ele acrescentou que "a África do Sul ficou na cabeça do mundo pelo jeito de ser do povo sul-africano: alegre, pacífico, que sabe brincar na vitória e na derrota".
"O Brasil vai continuar e aprender (com a experiência sul-africana). Nós temos de nos preparar para fazer uma Copa do Mundo inesquecível, igual ou melhor que a da África do Sul."
Ausência na final
Lula confirmou que não estará na partida final da Copa do Mundo, Holanda x Espanha, no domingo. O presidente havia deixado claro nos últimos duas que não veria a final se pudesse, dependendo apenas de concluir a tempo todos os compromissos acertados com os anfitriões e com a Fifa.
"Eu estou fora do Brasil já há dez dias, eu tenho alguns problemas que aconteceram no Brasil e que eu tenho acompanhado por telefone, as enchentes em Alagoas e Pernambuco e outras coisas pelas quais eu acho que tenho de voltar para o Brasil", justificou Lula, questionado por um jornalista sul-africano sobre o porquê de sua ausência.
O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, que havia pedido ao presidente que ficasse até o encerramento do mundial, afirmou que Lula lhe explicou no encontro bilateral as razões da decisão.
"Não vou tentar persuadir o presidente a ficar. Acho que o mesmo aconteceria se eu estivesse no Brasil", disse Zuma.
Assim, no sábado, Lula tem na agenda apenas um café-da-manhã com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, antes de voltar a Brasília.
O presidente brasileiro encerrará um giro por seis países africanos que já o deixou - assim como deixou os jornalistas e empresários que o acompanharam - visivelmente cansados.
Seria a última viagem de Lula à África durante seu governo. Porém nesta sexta-feira ele afirmou que, antes de terminar seu mandato, "precisa" voltar a Moçambique para inaugurar uma fábrica de antirretrovirais que é fruto de uma cooperação com o Brasil.