Por que a justificativa de Bolsonaro é uma vergonha nacional

Bolsonaro louvou um torturador da ditadura na Câmara

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Para começar, ele parabenizou Eduardo Cunha e disse que o presidente da Câmara vai entrar para a história.

Depois, aos 0:18, ele se sai com a máxima “perderam em 64, perderam agora em 2016”.

E quando a gente pensou que não dava para ficar pior, ficou: Bolsonaro homenageou o coronel Ustra, comandante do DOI-Codi – sob direção dele, ao menos 47 pessoas desapareceram ou morreram nos porões do órgão.

(Um breve parêntese para uma coisa muito estranha que aconteceu nessa hora: enquanto Bolsonaro pai dizia o nome do infame coronel, Bolsonaro filho DUBLAVA O PAI.)

Lembrando que uma das pessoas presas e torturadas durante a ditadura militar foi a presidente Dilma Rousseff, cujo impeachment estava sendo julgado ali.

Mas Ustra não foi apenas “o terror de Dilma”. Aqui temos um depoimento dado por alguém que o conheceu bem de perto: a presa política Maria Amélia Teles, que contou sua história, entre outros lugares, à reportagem do Uol.

Presa aos 26 anos no DOI-Codi (centro de repressão do Exército) de São Paulo, Maria Amélia Teles relembra o dia em que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra pegou nas mãos de seus dois filhos – Edson Teles, à época com 5 anos, e Janaina, com 4 – e os levou até a sala onde ela estava sendo torturada, nua, suja de sangue, vômito e urina, na cadeira do dragão. Na mesma sala estava o marido e pai das crianças, César Teles, recém-saído do estado de coma decorrente de torturas no pau-de-arara.

“Minha filha perguntava: ‘mãe, por que você ficou azul e o pai verde?” Meu marido entrou em estado de coma e quando saiu estava esverdeado. E eu estava toda roxa, cheia de hematomas e ela viu aquela cor roxa como azul. Meu filho até hoje lembra do momento em que eu falava ‘Edson’ e ele olhava para mim e não sabia que eu era a mãe dele. Estava desfigurada”, recorda Amelinha, como é conhecida.

Os filhos de Maria Amélia não foram as únicas crianças a serem presas, fichadas e torturadas pela ditadura militar.

O coronel Ustra foi o único militar brasileiro a ser declarado “torturador” pela Justiça. Ele foi relacionado a pelo menos 60 casos de mortes pelo Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos.

Ustra compareceu à Comissão da Verdade em 2013 e, apesar de ter um habeas corpus, respondeu a algumas perguntas. Disse que não cometeu nenhum crime e, em entrevistas, declarou que podem ter havido excessos, mas dos dois lados.

Muito antes da Comissão, Ustra já havia sido manchete. A atriz Bete Mendes, que era deputada em 1985, encontrou-o como adido militar no Uruguai – e reconheceu nele seu torturador.

Ustra morreu aos 83 anos, em outubro do ano passado, de câncer de próstata. Publicou livros, um deles intitulado “A Verdade Sufocada”, onde dá sua versão por ter prendido, torturado e matado dezenas de pessoas.

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