Bolsonaristas que foram presos durante os atos golpistas de 8 de janeiro não conheciam as sedes dos poderes. Eles não sabiam as diferenças e qual sede pertenciam a qual poder e planejavam esperar sentados nos prédios até que uma "solução militar" fosse anunciada contra a posse de Lula.
Os relatos dos presos, obtidos pelo Jornal Folha de São Paulo e divulgados nesta segunda-feira (03), mostram os depoimentos dados por membros do grupo à Polícia Civil do Distrito Federal ainda nos dias 8 e 9 de janeiro. Os relatos foram entregues na CPI que investiga os atos antidemocráticos.
Apesar de muitos não citarem o nome do ex-presidente Bolsonaro, bolsonaristas apresentaram diversas de suas falas como ponto de partida para o início do movimento. Alguns relataram que o incentivo do golpe seria a desconfiança sobre o processo eleitoral e o resultado do TSE. Vale lembrar que Bolsonaro questionava a segurança das urnas eletrônicas.
Outros golpistas, no entanto, acreditavam em outras situações e até em "vitória espiritual". Entre os presos, havia a concepção de que a derrubada do Governo Lula seria um "sacramento. Esse é o caso do piauiense João de Oliveira Antunes Neto, de apenas 19 anos.
O jovem deixou o município de São Raimundo Nonato, no interior do Piauí, para procurar emprego em Brasília. Após servir como pedreiro, ele foi aconselhado por irmãos da Assembleia de Deus do Guará para participar do movimento golpista em frente ao QG do Exército.
Já no dia 8 de janeiro, João Neto relatou em depoimento aos delegados que desceu a Esplanada dos Ministérios achando que a manifestação seria pacífica. "Que acreditava que o Governo Lula iria cair; que ainda acredita que o Governo Lula irá cair; que acredita que se fizer algo contra Lula irá para o céu; que acredita que vai ascender quando Jesus voltar, pois irá combater o Governo Lula; que acredita que Lula iria fechar as igrejas, pois vira Lula falando tais coisas", relatou à Polícia Civil, segundo a íntegra do depoimento, insuflado por afirmações falsas.