Ipea divulga estudo apontando que sistema bancário do Brasil contribui para a exclusão social e Piauí é o segundo Estado do país com menos agências bancárias por habitantes
O Brasil tem um sistema bancário incompleto, que contribui para a concentração de riqueza e aumento da exclusão social. É o que mostra o estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgado ontem pelo presidente do instituto, Marcio Pochmann.
A exclusão é maior ainda no Piauí, onde há uma agência para cada 25,638 mil habitantes, posto negativo do qual ganha apenas do Estado do Maranhão, que tem uma agência para cada 26,917 mil habitantes, e perde para Alagoas, onde há uma agência para cada 23.868 habitantes.
Denominado "Transformações na indústria bancária brasileira e o cenário de crise" o estudo mostra que o esvaziamento do Estado no mercado financeiro brasileiro em nada beneficiou a inclusão social e a popularização bancária. A redução da quantidade de bancos em operação nos últimos onze anos contribuiu ainda para promover mais desigualdade regional. " Nos últimos dez anos houve uma transferência de recursos que serviam de crédito para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil para uma maior concentração na região Sudeste", apontou Pochmann.
Segundo o estudo, "ao contrário dos Estados Unidos, que combinou a redução na quantidade de bancos com ampliação do número de agências bancárias, o Brasil apresentou diminuição na quantidade tanto de bancos como no número de agências."
Em 2007, por exemplo, o país possuía somente 156 instituições bancárias, enquanto a Alemanha registrou 2.130 bancos e os Estados Unidos 7.282 bancos. A principal fase de redução da presença dos bancos públicos no Brasil ocorreu entre 1995 e 2001, com uma breve interrupção entre 2001 e 2003, quando voltou novamente a perder importância relativa no total de ativos bancários. Em 2007, o Brasil tinha menos agência por brasileiro do que na década de 80, quando havia, para cada agência, cerca de 8 mil brasileiros.
A diferença regional indicada no estudo é alarmante quando se pensa em desenvolvimento de médio e longo prazo no país. "Nas regiões Norte e Nordeste, por exemplo, a relação da população por agência chega a ser quase três vezes maior do que nas regiões Sul e Sudeste". Entre 1996 e 2006 as três regiões acumulam uma perda de 41,4% na participação relativa no total de crédito.
No Piauí, a cobertura bancária é precária e excluendente. Se encontra uma agência bancária a cada 2.148 quilômetros quadrados.
O custo de crédito para a população e para as atividades econômicas é alto no Brasil.
O estudo observa que houve avanço da experiência brasileira de popularização de serviços bancários por intermédio das operações de correspondentes não bancários. "No ano de 2008, por exemplo, o Brasil registrou a presença de 84,3 mil correspondentes bancários operados em locais não bancários como padarias, postos lotéricos, correios, farmácias, entre outros".
Esses avanços, no entanto, não são ideais. "O Brasil precisa avançar rapidamente do ponto de vista da popularização dos bancos", defendeu Pochmann. Ele considera que a constituição de novos bancos, "bancos comunitários como existem nos Estados Unidos e Alemanha, por exemplo, ajudaria não apenas a difundir o crédito, mas torná-lo mais acessível à população que se encontra fora do sistema bancário".
No conjunto dos municípios brasileiros, percebe-se um grau
maior de concentração das agências bancárias nas capitais de
Estados. As 27 capitais de estados responderam em 2006, por 33,9% do
total das agências bancárias existentes em todo o país, embora
possuíssem 24,2% da população brasileira.
A pesquisa do Ipea mostra que 505 municípios ainda não têm nenhuma agência bancária ? 9% das cerca de 5,56 mil cidades brasileiras. O estudo Transformações na Indústria Bancária Brasileira e o Cenário de Crise indica que a média nas capitais é de uma agência para cada grupo de 6.124 pessoas. Já para o restante do país ? 66,1% da população ? a média chega a ser de uma unidade para cada 11.873 habitantes.
Além disso, o levantamento mostra que é maior o grau de concentração de agências nas capitais do país. Em 2006, elas responderam por 33,9% do total, embora representassem apenas 24,2% da população.
?É latente a desigualdade na oferta de serviços entre regiões, estados, municípios e no interior, quando existe comparação com as capitais de estados?, afirma o relatório. Dados do Ipea indicam que na Espanha, a média é de uma agência para cada mil pessoas; em Portugal, uma para cada 2 mil; e nos Estados Unidos, uma para cada 3,3 mil.
O estudo indica a evolução da concentração bancária no Brasil desde os anos 90, a divisão dos ativos e dos depósitos entre as 20 maiores instituições no país, a repartição entre bancos públicos, privados e estrangeiros e mostra ainda a concentração desigual de agências e do crédito, por grandes regiões e por estado.
A cobertura média entre agências bancárias não pode ser
considerada uma medida precisa da realidade para o conjunto do
Brasil. No ano de 2006, por exemplo, o morador da região sudeste
encontrava uma agência bancária a cada 94 km2, enquanto o
residente da região norte tinha apenas uma agência numa área 58
vezes maior, ou ainda, quase 13 vezes mais na região centro-oeste.
Se comparada com a Espanha, que possui menos de 1,1 mil
pessoas por agência bancária, o Brasil apresenta 9,3 vezes mais pessoas
por agência. No caso dos Estados Unidos, o país apresenta uma
concentração três vezes mais população por agência.
Quando a referência passa a ser a dispersão entre agências
bancárias, a situação brasileira melhora um pouco. Se a referência for
os Estados Unidos, percebe-se que a cobertura de agências bancárias
era 4,3 vezes maior que a brasileira.
No caso de Portugal, a cobertura
era 25 vezes maior que a existente no Brasil.
Se considerados esses mesmos indicadores de dispersão
média entre agências por diferentes regiões geográficas brasileiras,
estados e municípios da federação, pode-se constatar diferenças ainda
mais marcantes.
Entre os anos de 1997 e 2006, por exemplo, a distribuição dos
depósitos bancários por grandes regiões geográficas não apresentou
modificações expressivas, salvo os casos da região Nordeste, que
perdeu participação relativa, e do Centro Oeste, que aumentou o seu
peso relativo. Não houve transformação na distribuição dos depósitos
entre os anos considerados e prevalece importante desigualdade entre
as regiões que indica a desproporção dos depósitos bancários entre
regiões ricas e pobres.