Diálogo interceptado pela Polícia Federal na Operação Lava Jato indica possível relação do deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) com o grupo do Labogen, laboratório controlado pelo doleiro Alberto Youssef. Preso em março pela PF, Youssef é investigado, entre outras coisas, pela suspeita de ter usado o laboratório para fazer remessas ilegais de dólares.
Em troca de mensagem de 28 de fevereiro de 2014, Youssef diz a Argôlo que "está tendo dificuldade em dormir" por causa de Leonardo. Para a PF, "provavelmente referindo-se à Leonardo Meirelles, um dos laranjas da Labogen".
O doleiro então diz a "LA", sigla que abrevia o nome de Argôlo nas mensagens: "Fica em cima desse Leonardo". Em seguida, escreve: "Não autorizou. Entrega ainda".
Para os investigadores da PF, trata-se das "primeiras entregas que a Labogen se comprometeu a fazer junto ao Ministério da Saúde".
Em uma sequência de respostas, Argôlo diz a Youssef: "Vai da agora. Na próxima semana. O Gov mandou fazer um evento só para isso". Não há análise dos policiais sobre esse trecho da conversa.
Leonardo Meirelles foi preso pela Operação Lava Jato em março, mas decidiu colaborar com a PF. Em dezembro de 2013, o laboratório conseguiu, após contatos políticos, fechar uma parceria com o Ministério da Saúde de R$ 31 milhões. À época, o ministro era Alexandre Padilha, hoje candidato ao governo de São Paulo pelo PT.
A parceria foi cancelada pela pasta depois que a Folha revelou que o doleiro era o dono oculto da Labogen e que obtivera o acordo e um sócio de grande porte, o laboratório EMS, por meio da influência do deputado federal André Vargas (sem partido-PR).
Depois que veio à tona o elo com Youssef, Vargas se desfiliou do PT e renunciou à vice-presidência da Câmara.
Nesta semana, o Conselho de Ética da Câmara instaurou dois processos de cassação contra Argôlo. O líder da bancada do Solidariedade, Fernando Franceschini (PR), disse que pedirá a expulsão do colega da legenda na próxima reunião executiva da sigla. "Demos todos o tempo do mundo para ele se defender, mas agora ultrapassou todos os limites", afirmou.
O chefe de gabinete de Argôlo disse à reportagem que o deputado não tem nenhum contato com o "pessoal da Labogen" e nunca "abriu portas" para a equipe do laboratório no ministério da Saúde.
O Ministério da Saúde informa que não houve evento organizado pela pasta para entrega de produtos da Labogen na semana seguinte a 28 de fevereiro. Também diz não ter havido reunião do secretário Carlos Gadelha ou do diretor Eduardo Jorge Valadares para tratar com Argôlo sobre assuntos da Labogen.
Gadelha e Valadares são citados em diálogos interceptados pela PF. A defesa de Meirelles diz não ter nenhuma informação sobre relações de seu cliente com o deputado.