Diante das revelações do delator Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, sobre o envolvimento do presidente em exercício, Michel Temer, em repasses de propina, a oposição articula para pedir o impeachment do peemedebista.
O líder do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), afirmou que o partido vai concluir até a próxima terça-feira um estudo jurídico para um novo pedido de afastamento do presidente interino. “Certamente vamos tomar alguma medida jurídica ou política sobre a incriminação do presidente porque ele está enrolado. O governo começou a entrar em colapso”, disse ao HuffPost Brasil.
Além das gravações de Machado, a legenda reuniu provas sobre o envolvimento de Temer com o esquema de corrupção investigado na Lava Jato, como as delações do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT), do lobista Júlio Camargo e a troca de mensagens com o empreiteiro Léo Pinheiro.
Em delação homologada na Justiça, o ex-diretor da Transpetro afirma que o peemedebista negociou com ele o repasse de R$ 1,5 milhão de propina para a campanha de Gabriel Chalita, então candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, em 2012. O presidente interino classificou a acusação de “leviana” e "criminosa".
Já Delcídio afirmou que Temer chancelou a indicação de dois ex-diretores da Petrobras condenados na Lava Jato: João Augusto Henriques, ex-diretor da BR Distribuidora, subsidiária da estatal, e Jorge Zelada, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras. O peemedebista negou qualquer influência nas nomeações.
Delator do pagamento de propina ao presidente afastado da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Camargo disse, em delação, que o lobista Fernando Soares, o Baiano, era conhecido por representar o PMDB, o que incluiria, além de Cunha, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o então vice-presidente da República Michel Temer, que disse não conhecer o delator.
Dono da OAS, Léo Pinheiro teria trocado mensagens com Cunha que revelam que Temer teria recebido R$ 5 milhões da empreiteira. O presidente interino negou ter se beneficiado com o recebimento de qualquer recurso de origem ilícita.
Na avaliação do PT, PSOL e PTdoB, as acusações de Machado são as mais fortes. Porém se referem a 2012, o que poderia ser um entrave judicial para pedir o impeachment de Temer, uma vez que são fatos anteriores ao mandato atual.
O deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) irá enviar um ofício para a Presidência para que o interino responda se esteve na Base Área, onde o ex-presidente da Transpetro teria gravado com conversa com o ex-presidente José Sarney em que fala do repasse de propina para Chalita. “Isso que Machado delatou é grave. É um aprofundamento da crise. Não tem como continuar”, disse o deputado.
Um núcleo jurídico de parlamentares do PT se reuniu na quarta-feira, após a divulgação de gravações de Machado, para avaliar como pedir o afastamento de Temer. “São provas robustas contra o PMDB e Temer. Caiu o terceiro ministro esta semana. O que vemos é que o governo Temer derreteu rapidamente”, afirmou o líder da legenda, deputado Afonso Florence (BA).
Pedaladas
Em outra linha de frente, a oposição avalia pressionar líderes e o presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) pela instauração da comissão do impeachment de Temer pendente. A acusação é de crime de responsabilidade pela edição de decretos suplementares.
Apesar de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello ter determinado em abril que a Câmara desse andamento ao pedido de afastamento, líderes da base não indicaram os integrantes para o colegiado, o que impediu o avanço. Em maio, o magistrado liberou a ação para julgamento no plenário da Corte.
O entrave é que o PT, apesar de ser a favor da comissão por ser uma determinação judicial, não acha que Temer deva cair por esse motivo, uma vez que é uma das acusações que motivaram o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff.
Resistência
A mobilização da oposição encontra resistência dentro da Câmara devido ao apoio da base aliada a Temer. Partidos como PSDB e DEM, integrantes do governo e também parlamentares citados por Machado têm minimizado as denúncias contra o interino.
Um dos principais articuladores do impeachment de Dilma, o deputado Darcísio Perondi não vê chances de avanço na ofensiva da oposição. “Não cresce. Não avança. É uma situação completamente diferente [de Dilma]. Hoje tem governo”, afirmou.