Obama completa um ano na Casa Branca

Segundo uma pesquisa do instituto Gallup divulgada nesta semana, apenas 50% dos americanos apoiam Obama

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Barack Obama tomou posse como o 44º presidente dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro de 2009 levando consigo a imagem da renovação na política americana. Ele substituía um mandatário altamente impopular, George W. Bush, em meio a uma grave crise econômica e à crescente insatisfação sobre o envolvimento do país em duas guerras polêmicas.

Passado exato um ano, Obama vê sua própria popularidade em queda, com questionamentos sobre promessas não cumpridas e uma divisão cada vez maior entre os cidadãos americanos em relação a suas políticas, como a polêmica reforma no sistema de saúde, considerado o principal projeto de seu primeiro ano na Presidência.

Segundo uma pesquisa do instituto Gallup divulgada nesta semana, apenas 50% dos americanos apoiam Obama, contra 68% no dia da posse.

Em uma eleição considerada por muitos como uma espécie de "referendo" sobre o primeiro ano de Obama, um candidato do opositor Partido Republicano foi eleito na terça-feira para o Senado em Massachusetts. Ele vai ocupar a vaga aberta pela morte, no ano passado, do democrata Edward Kennedy, que havia ocupado a cadeira por quase meio século.

Reforma na saúde

Internamente, a principal questão que divide os americanos é o projeto de reforma do sistema de saúde para garantir o acesso universal ao sistema público, uma das principais promessas de campanha de Obama para seu primeiro ano e sobre o qual ele jogou grande parte de seu capital político.

Apesar das grandes mudanças no projeto original provocadas pelas críticas dos conservadores, que temem uma queda na qualidade do serviço e aumentos de impostos, entre outras coisas, Obama vê agora a sua aprovação ameaçada pela perda da "super maioria" que tinha no Senado até a eleição desta terça-feira em Massachusetts.

A "super maioria" dos democratas impedia que os republicanos obstruíssem as votações, mas nem assim o prazo programado para a aprovação do projeto para a saúde foi cumprido, por conta das resistências até mesmo dentro do próprio Partido Democrata.

As concessões feitas aos conservadores na reforma fizeram com que até mesmo a esquerda liberal americana a criticasse, entre outras coisas porque o modelo de um sistema público de saúde gerenciado pelo Estado, como o que existe na Grã-Bretanha ou mesmo no Brasil, por exemplo, acabou abandonado.

Recuperação econômica

Na economia, outra área polêmica, o primeiro ano de Obama foi acompanhado de uma leve recuperação que, ao menos por enquanto, vem afastando o temor que havia há um ano de colapso geral do sistema financeiro e de uma grande depressão econômica global.

Apenas um mês antes da posse de Obama, a economia americana perdia mais de meio milhão de empregos e 300 mil imóveis devedores inadimplentes eram tomados pelos bancos.

Desde então, o país conseguiu sair da recessão e viu uma relativa estabilidade retornar ao sistema bancário.

Ainda assim, para milhões de americanos, a situação piorou no último ano. A acelerada perda de postos de trabalho foi contida, mas a taxa de desemprego continua em patamares altos, em torno de 10%.

O pacote de estímulo econômico de Obama, de US$ 787 bilhões, certamente ajudou na recuperação e na criação de alguns empregos, mas permanecem as dúvidas sobre a capacidade da economia de se manter em crescimento após a retirada dos incentivos.

Para muitos analistas, o presidente se vê na difícil posição de afirmar, diante dos eleitores, que reconhece que a situação para muitos é ruim, mas que ela poderia estar pior sem ele na Presidência.

Nobel da Paz

No campo externo, Obama conseguiu a aparentemente contraditória façanha de receber o Prêmio Nobel da Paz ao mesmo tempo em que lidera o país em meio a duas sangrentas guerras e sem conseguir avançar significativamente em suas promessas de buscar a paz no Oriente Médio.

Um dos primeiros atos de Obama, já nos seus primeiros dias de governo, foi anunciar o fechamento próximo da prisão de Guantánamo e das prisões secretas administradas pela CIA, o serviço de inteligência americano, e de acabar com qualquer forma de tortura nos interrogatórios de suspeitos de terrorismo presos nesses locais.

Mas um ano depois, a prisão de Guantánamo continua aberta, com cerca de 200 detentos. O governo diz planejar a soltura de alguns detentos e o julgamento de outros, mas muitos devem continuar presos sem julgamento.

As acusações de torturas contra presos caíram consideravelmente no período, mas grupos de defesa dos direitos humanos ainda assim criticam as declarações do presidente de que ele não apoia o julgamento de militares e agentes de inteligência acusados de usar técnicas de interrogatório controversas nos últimos anos.

De uma maneira geral, porém, os analistas concordam que Obama conseguiu modificar a linguagem e o tom da política de segurança nacional. O Nobel da Paz seria um reconhecimento disso.

Guerras

Obama herdou de George W. Bush duas guerras - no Iraque e no Afeganistão.

Uma vez no poder, Obama soube aproveitar o aumento das tropas no Iraque determinado pelo antecessor para buscar uma melhoria na situação de segurança do país árabe que permitisse estabelecer um prazo claro para a saída militar dos Estados Unidos.

O governo americano pretende retirar seu efetivo militar do país até agosto deste ano, após a realização das eleições presidenciais iraquianas, previstas para março.

No caso do Afeganistão, após meses de indecisão, Obama anunciou um aumento significativo do efetivo militar americano no país, buscando justificar a decisão com a necessidade de uma estratégia que permita manter um plano de retirada no futuro.

Mas, apesar dos avanços, muitos estão desiludidos com a falta de avanços mais profundos que cumprissem com a expectativa criada durante a campanha.

Em um aguardado discurso no Cairo, em junho, Obama prometeu um "novo começo" entre os Estados Unidos e o mundo islâmico e colocou o peso de sua popularidade internacional na busca de um acordo de paz no Oriente Médio.

De maneira semelhante, em um discurso em Praga, em abril, o presidente havia falado sobre sua visão para "um mundo livre de armas nucleares", numa tentativa, entre outras coisas, de acalmar as resistências da Rússia em relação à instalação de um sistema antimísseis americano.

Porém essas e outras iniciativas, como a oferta para melhorar as relações e o diálogo com o Irã, acusado pelos Estados Unidos de buscar o desenvolvimento de armas nucleares, tiveram pouco ou nenhum sucesso.

Clima

Obama também viu a imagem dos Estados Unidos arranhada ao final da reunião de cúpula sobre as mudanças climáticas, no mês passado em Copenhague.

As posições do atual presidente sobre a questão representam uma mudança radical em relação ao governo Bush, quando os Estados Unidos se negaram a ratificar o Protocolo de Kyoto para o controle das emissões.

Obama foi pessoalmente à conferência da ONU em Copenhague, manifestando a intenção de liderar o mundo na obtenção de um acordo para mitigar as mudanças climáticas.

Mas a cúpula fracassou na obtenção de um acordo global, e o próprio Obama admitiu não ter feito "o suficiente".

A questão pode ter ajudado a arranhar a imagem internacional do presidente americano, mas também é altamente polêmica dentro dos Estados Unidos.

A Câmara dos Deputados aprovou um projeto no ano passado que prevê uma redução de 17% nas emissões de CO2 até 2020, baseado nos níveis de 2005.

Mas o Senado ainda precisa debater o projeto, o que é pouco provável que aconteça antes do debate sobre a reforma no sistema de saúde.

Alguns líderes democratas, preocupados com as repercussões da discussão, já pediram a Obama para deixar a votação para depois das eleições para o Congresso, programadas para novembro.

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