No Conselho de Ética, Demóstenes se diz traído por Cachoeira

Ele disse ainda que alguns grampos feitos pela PF foram “montados”.

Senador Demóstenes Torres | O Globo / Ailton Freitas
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Em depoimento nesta terça-feira (29) no Conselho de Ética do Senado, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) afirmou que se sente traído pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro sob a acusação de comandar uma quadrilha de jogo ilegal.

Indagado pelo relator do processo, senador Humberto Costa (PT-PE), se sentia-se traído pelo bicheiro, Demóstenes afirmou: ?Acho que todo mundo [se sente traído]. Todo mundo que se relacionou com ele e não tinha conhecimento [das atividades ilegais]. Todos nós ficamos na pior situação.? O senador disse que não tinha conhecimento das atividades ilícitas de Cachoeira.

Demóstenes responde a processo disciplinar no Conselho por suspeita de quebra de decoro parlamentar, sob suspeita de ter utilizado o mandato para auxiliar os negócios de Cachoeira.

?O que eu sabia era que me relacionava com um empresário que se relacionava com cinco governadores, e outras dezenas de políticos e empresários. Sim, ele tinha vida social, sim [...] Reafirmo que tinha amizade com ele, sim?, disse.

Costa perguntou se a amizade era "íntima" e Demóstenes respondeu: "De certa forma, sim".

Gravações da PF

O senador também tentou desqualificar as conversas telefônicas registradas pela Polícia Federal nas investigações sobre a quadrilha de Cachoeira. Segundo ele, algumas gravações foram ?montadas?.

?Não [reconheço minha voz em todas as gravações], por isso pedi perícia. Tem muita coisa truncada, editada. Evidentemente que muitas conversas eu gravei, agora, muitas conversas foram editadas e montadas?, afirmou.

Demóstenes disse ainda que os grampos são ilegais e deveriam ter sido autorizados pelo Supremo Tribunal Federal. Como é senador e tem foro privilegiado, ele argumenta que a Polícia Federal não poderia ter registrado as conversas sem antes pedir permissão ao STF.

?Tenho condições de enfrentar todas as acusações no mérito. Agora, o fato é que a investigação é ilegal e coloca em risco a democracia no Brasil?, afirmou. Segundo ele, o país corre o risco de se tornar uma ?República comandada por procuradores e delegados?.

?Se o Supremo entender que o a investigação pode ser feita pelo primeiro grau e não pelo Supremo, vamos viver numa República comandada por delegados e procuradores do Ministério Público?, disse.

"Amedrontar" o STF

Para o senador, existe uma intenção por parte do Ministério Público e da polícia de ?amedrontar? os ministros do Supremo. Os inquéritos da PF relativos à investigação sobre Cachoeira trazem conversas telefônicas em que ministros do STF são citados por Demóstenes.

?Vivemos um perigo e a função principal é amedrontar os ministros do Supremo. Os ministros estão com medo porque dá a impressão de que o senador é criminoso e se aproximou do Supremo para aproximar o contraventor do Supremo. Fui investigado clandestinamente, mas tenho condição de me defender no mérito e já disse que muitas das coisas apresentadas são edições?, afirmou.

Jogo ilegal

O senador Demóstenes Torres afirmou que não tem relação com jogos ilegais, mas admitiu manter relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal em fevereiro durante a Operação Monte Carlo.

"Eu não tenho nada a ver com o jogo. Devo essa explicação principalmente à minha mulher, aos meus filhos, às senhoras e aos senhores. [...] Os procuradores, os senhores delegados podem até brigar, mas num ponto eles convergem. Eu jamais tive qualquer participação em esquema de jogos ilegais", afirmou.

"Vivo o pior momento da minha vida"

No início de sua fala, Demóstenes afirmou que "resistiu até o momento" às acusações porque "redescobriu Deus". "Redescobri Deus. Se eu cheguei até aqui, é porque readquiri a fé", afirmou.

Ele disse ainda que, desde que as denúncias sobre sua relação com o contraventor vieram à tona, sua vida sofreu mudanças. ?Vivo o pior momento da minha vida. Vivo um momento que jamais imaginaria passar. A partir de 29 de fevereiro deste ano, eu passei a enfrentar algo que jamais enfrentei. Depressão, remédio para dormir, que não faz efeito, fuga dos amigos e a campanha sistemática mais orquestarda da história do Brasil?, disse.

O senador afirmou que chegou a pensar ?as piores coisas?. ?Confesso que pensei nas piores coisas. Pensei em renunciar meu mandato?, disse.

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