Jobim cai após declarações; Celso Amorim assume Defesa

Jobim negou ter feito as críticas e disse que as informações seriam “parte de um jogo de intrigas”

|
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

O ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB), entregou na noite desta quinta-feira sua carta de demissão à presidente Dilma Rousseff em um encontro que durou apenas cerca de cinco minutos. A situação de Jobim se tornou insustentável no governo após declarações dadas à revista Piauí em que teria considerado a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, "muito fraquinha" e dito que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, "sequer conhece Brasília". Para seu lugar, Dilma convidou o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que aceitou ocupar a pasta.

Jobim negou ter feito as críticas e disse que as informações seriam "parte de um jogo de intrigas". Mas, segundo fontes, Dilma já havia decidido demitir o ministro caso ele não abandonasse o cargo por conta própria. Diante da repercussão das declarações, Jobim antecipou sua volta de Tabatinga (AM), onde cumpria agenda oficial, para se reunir com a presidente.

Ao longo do dia, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), minimizou a declaração de Jobim, dizendo que a articuladora política do governo "é até bem gordinha, não é bem fraquinha". Depois de reunir-se com Ideli, o líder do PR na Câmara dos Deputados, Lincoln Portela (MG), afirmou que a ministra "brincou" com o tema dizendo que "estava "fortinha", não gordinha". Mas, segundo o deputado, Ideli "não teceu nenhum comentário sobre o ministro Jobim" durante a reunião.

Na última semana, outra declaração de Jobim à imprensa gerou mal-estar no governo. Em entrevista, ele declarou seu voto no tucano José Serra nas eleições presidenciais do ano passado. A série de frases polêmicas, contudo, começou no início de julho, em uma cerimônia em homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - de quem ele foi ministro da Justiça entre 1995 e 1997 - no Senado Federal. Ao discursar, ele citou o dramaturgo Nelson Rodrigues, dizendo que "os idiotas perderam a modéstia". A fala foi interpretada como uma insatisfação do ministro com sua situação no governo. Mais tarde, contudo, ele disse que se referia a jornalistas.

Trajetória

Gaúcho de Santa Maria, Jobim tem uma carreira bastante singular na política brasileira, tanto por atuar com petistas e tucanos com a mesma desenvoltura, como por ter ocupado cargos de alto escalão no Executivo, Legislativo e Judiciário.

Jobim foi deputado federal pelo Rio Grande do Sul por duas vezes, com papel destacado na Constituinte de 1988. Foi presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2004 a 2006. Em 2007, ele foi indicado para o Ministério da Defesa pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aceitou o desafio de controlar a crise nos aeroportos. Durante seu período na Defesa, Jobim promoveu mudanças nas direções da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), então alvos de denúncias de eficiência e corrupção. No entanto, as propostas de construção de um novo aeroporto em São Paulo e o estímulo à maior concorrência na atividade não se concretizaram.

Na área militar, Jobim ganhou prestígio com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Junto com o ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger, elaborou a Estratégia Nacional de Defesa. Aprovada em dezembro de 2008 na forma de decreto presidencial, o plano estabelece ações de médio e longo prazo com o objetivo de modernizar a estrutura nacional de defesa por meio da reorganização das Forças Armadas, da reestruturação da indústria nacional de material de defesa e de uma nova filosofia de emprego das Forças Armadas. A iniciativa sofreu forte impacto devido ao corte no orçamento de 2011. O contingenciamento de mais de R$ 4 bi (26,5% do orçamento do ministério) comprometeu o reaparelhamento das Forças Armadas.

Próximo dos ex-presidente Lula e FHC, e amigo pessoal do candidato derrotado por Dilma na eleição do ano passado, o tucano José Serra, Jobim não teve sua indicação para permanecer no ministério abraçada pelo seu partido, o PMDB. Na transição, o vice-presidente eleito, Michel Temer, afirmou que o chefe da Defesa era parte da "cota pessoal" de Dilma.

Polêmicas

As declarações de grande repercussão, que culminaram em sua saída do governo Dilma, acompanharam Jobim desde o início de sua gestão à frente da Defesa. Em agosto de 2007, no meio do caos aéreo após o acidente da TAM que matou 199 pessoas em Congonhas, o ministro iniciou uma campanha por mais espaço para os passageiros nas aeronaves. "O espaço é anti-vital", chegou a afirmar Jobim, de quase 2 m de altura, durante reunião com representantes de companhias aéreas.

Com bom trânsito entre os militares, o ministro buscou por várias vezes agradar a tropa com frases fortes sobre soberania nacional e usou algumas vezes a farda militar ao visitar operações conjuntas das três Forças. "Quem cuida da Amazônia sul-americana para o bem de seus povos e dos povos do mundo somos nós", disse Jobim em abril deste ano a uma plateia formada principalmente por militares durante uma feira de defesa. "Não venham se meter neste assunto!".

Jobim também lançou mão por várias vezes de declarações firmes para reiterar o papel do Ministério da Defesa como garantia de comando civil sobre as Forças Armadas. Em fevereiro do ano passado, ele exonerou o então chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército, general Maynard Marques de Santa Rosa, após o militar criticar duramente o Plano Nacional de Direitos Humanos do governo federal.

Jobim é o 3º ministro a cair em 8 meses

Nelson Jobim é o terceiro ministro que cai em apenas oito meses de governo Dilma. O primeiro foi o ex-ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, que não resistiu a denúncias de tráfico de influência e enriquecimento ilícito e pediu demissão do cargo em 7 de junho deste ano. Menos de um mês depois, em 6 de julho, foi a vez do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, que também pediu demissão depois de denúncias de superfaturamento de obras e pagamento de propina no âmbito do órgão.

Com informações da Agência Brasil e da Reuters.

Veja Também
Tópicos
SEÇÕES