José Dirceu era a imagem da resignação ao conversar com a reportagem do Congresso em Foco poucos dias antes de sua prisão definitiva. Sabia que dali a alguns dias – com o esgotamento de recursos, confirmação de sentença e ordem de execução de sua pena após condenação em segunda instância no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Porto Alegre) – voltaria ao cárcere para longos anos de prisão. Mas, estrategista máximo do PT dentro ou fora da cadeia, Dirceu volta para prisão com o mapa político das eleições 2018 na cabeça. Um retorno esperado do qual seu pensamento quis fugir todos os dias até hoje. Do lado de fora, Dirceu leu muitas notícias e fez diversas reuniões que o levaram à seguinte conclusão a respeito da corrida presidencial de 2018: “A esquerda está certinha”.
O que Dirceu quis dizer não tem relação com a conduta de seu partido ou diz respeito às denúncias do mensalão ou da Operação Lava Jato. Entre o certo e errado, o ex-ministro da Casa Civil se refere à estratégia política em um cenário com o ex-presidente Lula condenado e preso na Lava Jato, mas líder das intenções de voto. “Do nosso lado, está tudo arrumadinho. [Guilherme] Boulos é candidato [do Psol]. Manuela [D'Ávila, do PCdoB] é candidata. Ciro [Gomes, do PDT] é candidato. Joaquim Barbosa, eu não sei o que vai acontecer, mas está no PSB, que em parte é do nosso campo”, vislumbrou o ex-cacique petista.
Nessa lógica de arranjos eleitorais, até mesmo o ex-ministro e relator do mensalão, Joaquim Barbosa, crítico ferrenho do PT, tem sido visto como alguém mais perto da esquerda do que qualquer outro candidato do centro ou da direita. O ex-magistrado se filiou a um partido em crise, mas que historicamente caminhou ao lado do PT e dos ideais de esquerda. Dirceu não sabia, mas cogitava, que o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal desistiria de concorrer à sucessão do presidente Michel Temer, em um banho de água fria nos 10% de eleitores que, segundo o Instituto Datafolha, nele votariam.
Ao diagnosticar a estratégia eleitoral do PT e seu entorno como correta, o ex-ministro dava mais uma pincelada sobre o que vinha repetindo a todos os que buscaram suas opiniões no período em que passou fora da cadeia.
A conversa transcorreu em uma tarde de uma dessas quartas-feiras de intensa movimentação no Congresso, em uma casa no Lago Sul, bairro valorizado de Brasília. Ao som do grupo cubano Buena Vista Social Club e cercado por uma estrutura de amigos e assessores que lhe permitem acesso ao mundo, Dirceu reiterava o discurso petista: não há plano B, não há alternativa de nome se Lula não for candidato. Vai além e pontua o prazo em que essa estratégia pode mudar: até julho ou agosto.
Nesse sentido, faz apostas altas. “O PT tem que ficar parado. Temos o candidato que ganha em primeiro e segundo turno com 40% dos votos. Pra que nós vamos nos mexer? Os outros é que estão todos desesperados, batendo cabeça, se afogando”, disse, com o característico sotaque mineiro carregado.
Até 2016, o próprio Dirceu mantinha um blog com avaliações políticas e memórias, mas ele já desativou a página virtual. “O que eu falo acaba tendo muita repercussão. Então eu prefiro falar pouco. Coisa do Brasil, gosta de transformar as pessoas em celebridade”, explica.
Dirceu não terá acesso à internet na cadeia, mas já sabe o que fazer. Diz que vai trabalhar e ler o máximo que puder, como maneira de diminuir a pena. De vez enquanto, poderá enviar por meio de advogados instruções e pensatas ao comando do PT e à militância. Calcula em algo como cinco anos o total de pena que deve cumprir. Até lá, diz, a visita dos filhos e demais parentes servirão para diminuir o peso do cárcere.