"Eu não estou me importando com cassação ou carreira política. O que está em jogo é minha honra." A frase é de Cezar Schirmer, prefeito de Santa Maria, cidade gaúcha que ganhou destaque internacional por um incêndio que vitimou 235 jovens em uma casa noturna.
Uma passeata pela cidade na última terça-feira (29) começou pedindo justiça e acabou na frente da prefeitura com coros pelo afastamento do mandatário do PMDB que foi reeleito no primeiro turno em outubro último com 53% dos votos.
Pelas redes sociais, grupos de amigos e parentes de vítimas estão se organizando e, entre as frentes de exigência, está o afastamento do prefeito. Pelo centro da cidade, grupos de estudantes recolhem assinaturas para um abaixo-assinado.
No parque Itaimbé, no centro da cidade, um grupo de 50 pessoas convocadas pelo Facebook se reuniu nesta quinta-feira (31) e discutiu como mobilizar a população para que autoridades municipais e estaduais sejam responsabilizadas pela falta de fiscalização na boate. Alguns queriam discutir o impeachment de Schirmer, outros queriam se concentrar na indenização às famílias das vítimas.
Na Câmara Municipal não há nenhuma movimentação para um processo de investigação da prefeitura. Os vereadores se reuniram ontem para formar uma comissão de acompanhamento das investigações policiais.
"Temos que esperar o trabalho da polícia. Não podemos levar para o lado político agora. Há possibilidade de uma CPI mais para frente, mas é cedo", afirmou o vereador Marion Mortari (PSDB).
Por seu lado, o prefeito vive um embate com o governo estadual, responsável pelo Corpo de Bombeiros. Schirmer apresentou para a polícia todos os documentos que dispõe sobre a boate Kiss e a legislação municipal de alvarás. Em sua linha de argumentação, ele aponta os bombeiros como responsáveis pela falta de fiscalização do sistema de combate a incêndios.
Schirmer está trocando farpas com o governador gaúcho, Tarso Genro, em um jogo de empurra-empurra. O petista afirmou que "qualquer leigo" saberia que a Kiss não poderia funcionar. O prefeito respondeu: "Não se pode jogar palavras ao vento. Se qualquer leigo pode ver, então os 300 mil habitantes de Santa Maria são responsáveis também. E não são."
Para o peemedebista, a tragédia não comporta o aproveitamento político. "Há pessoas querendo fazer manipulação política. Ganhei a última eleição, e algumas pessoas ficaram incomodadas", afirmou.