Mesmo sob suspeitas, Delta ainda lucra com contratos públicos; veja

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos

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Reportagem publicada neste domingo pelo jornal O Estado de S.Paulo revela que mesmo com as denúncias de suposta relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que culminou na prisão de um dos seus diretores e na desistência de compra pela holding J&F, a Delta Construções ainda ganha licitações e aditivos em obras em diferentes Estados brasileiros. Na segunda-feira, véspera da aprovação da quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico da empresa na CPI, o Diário Oficial do Rio de Janeiro publicou um aditivo beneficiando a construtora. O despacho do secretário de Obras, Alexandre Pinto da Silva, autorizou "o acréscimo de serviços e a adequação do cronograma físico-financeiro, no valor de R$ 16.699.964,57", para a conclusão do parque Madureira.

A empresa de Fernando Cavendish ampliou seu faturamento também com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que atua em diferentes Estados. A superintendência do órgão em Mato Grosso do Sul homologou, no dia 16, o resultado da concorrência n.º 276/2011-19, vencida pela Delta, cujo valor é de R$ 30,9 milhões. O contrato para a realização, no entanto, ainda não foi assinado.

Ainda de acordo com a matéria, a empresa faturou novas verbas para obras do Dnit em andamento em outros cinco Estados no mês passado, sendo que anteontem, o Diário Oficial da União publicou extrato com o quinto termo aditivo em favor da empreiteira para a conservação e recuperação da BR-242. Procurada, a assessoria de imprensa do Dnit argumentou que a construtora ainda não foi considerada inidônea pela Controladoria-Geral da União (CGU) e que, portanto, nada impede o órgão de firmar ou ampliar contratos com a empresa.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o PSOL representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

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