A norma existe, mas está longe de ser cumprida. Na hora de escolher em que gabinete se instalar, os senadores têm de obedecer a um ranking de ?merecimento?. Ex-presidentes da República, por exemplo, desfrutam de amplas e confortáveis salas enquanto senadores sem cacife político se contentam com os de ?terceira classe?.
Os gabinetes do Anexo 1 do Senado (na torre principal) são verdadeiras ?mansões? em forma de escritório. Têm cerca de 380 m² e abrigam figurões da política, como o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), sua filha Roseana Sarney (PMDB-MA), agora eleita governadora do Maranhão, e o ex-vice-presidente da República Marco Maciel (DEM-PE).
No entanto, a regra do Senado diz que os senadores com maior número de mandatos têm preferência, seguido por aqueles que já foram presidentes da República ou governadores e, em terceiro lugar, os que já foram deputados. Existe ainda uma tradição na Casa de deixar o gabinete para o senador do mesmo Estado.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) é um dos que desfrutam dos super-gabinetes do Anexo 1. Como não conseguiu ser reeleito, vai deixar o local para Aécio Neves que, apesar de nunca ter sido senador, pulou a fila das prioridades por ser uma importante figura no cenário político.
Outro figurão que saiu na frente na hora de escolher seu gabinete foi Gim Argello. Suplente do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, Gim assumiu o mandato em 2007, quando Roriz renunciou para fugir da cassação. Desde então, desfruta de uma ampla sala no 14º andar do Anexo 1.
Um dos gabinetes mais cobiçados do Senado é o de Antônio Carlos Magalhães. Falecido em 2007 devido a uma insuficiência cardíaca, seu filho e suplente ACM Júnior assumiu o mandato e a sala, construída especialmente para ACM logo que deixou a presidência da Casa. Bem localizado, está ao lado da Primeira Secretaria e do plenário.
Na hora de passar a sala para frente, ACM Júnior preferiu deixar a decisão nas mãos do presidente Sarney. O felizardo será Itamar Franco, ex-presidente da República que entra em seu terceiro mandato no Senado. ACM Júnior negou que tenha ?se recusado? a ceder o gabinete para os senadores eleitos na Bahia e adversários políticos, Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB).
- Eu acho justo ficar com o Itamar porque ele já foi presidente da República. Não há nenhuma restrição quanto ao Walter ou à Lídice.
Coisas de mulher
Já o gabinete da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) vai ficar para a senadora eleita Gleisi Hoffman (PT-PR). Última da Ala Teotônio Vilela, a sala fica a cerca de 10 minutos de caminhada do plenário. A herdeira do gabinete brinca e diz que já cogita deixar o salto alto de lado devido à distância.
- Vou ter que descer do salto e andar de sapatênis. Ou aprender a andar de patins.
O gabinete que Ideli deixa para a colega de partido tem quatro salas incluindo a da senadora. Amplo, mas simples, ela nunca quis decorar o local, que é ornado apenas com quadros de Florianópolis e mapas do Estado de Santa Catarina.