O governo brasileiro divulgou nota oficial sobre o telefonema realizado na manhã da última segunda-feira (6) entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo o comunicado, os dois líderes trocaram telefones para “estabelecer via direta de comunicação”.
Segundo a nota, a iniciativa partiu de Lula. Em entrevista exclusiva à TV Mirante, ele afirmou que ambos compartilharam “telefones pessoais” e que não precisam de intermediários para “fazer coisas boas para o Brasil e para os Estados Unidos”.
A ideia do presidente brasileiro de criar um contato mais direto, menos protocolar, ocorre em um momento de tentativa de reconstrução das relações entre os dois líderes, que estavam em crise há meses, situação agravada em julho após o aumento de tarifas comerciais.
No entanto, mesmo contatos informais entre chefes de Estado normalmente passam por assessores próximos.
Lula não tem celular particular
O presidente do Brasil não possui telefone pessoal. O número passado a Donald Trump foi o do embaixador Fernando Igreja, chefe do cerimonial do Palácio do Planalto.
Segundo interlocutores, o número fornecido por Trump também pertence a um assessor muito próximo do presidente norte-americano. Um auxiliar de Lula ressaltou que chefes de Estado não devem “carregar celular no bolso”, principalmente por questões de segurança.
No Brasil, é comum que contatos desse tipo sejam feitos por telefones de assessores pessoais ou ajudantes de ordem, que acompanham a rotina do presidente, efetuam ligações e repassam o aparelho para o mandatário. Além disso, como nem Lula fala inglês e nem Trump português, a presença de intérprete é essencial durante a ligação.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros consideram relevante que Donald Trump tenha disponibilizado um número para comunicação direta com Lula, apontando como um avanço na relação entre os dois países.
Como funcionam as ligações entre presidentes
Para que um telefonema formal entre chefes de Estado aconteça, existe um protocolo específico, segundo auxiliares do Planalto e diplomatas:
- Um dos lados manifesta o desejo de conversar;
- Caso haja interesse da outra parte, iniciam-se tratativas entre as assessorias presidenciais;
- A pauta da ligação é analisada e ajustada;
- As assessorias realizam os primeiros contatos;
- Uma data é definida conforme a disponibilidade das agendas;
O telefonema oficial pode ocorrer dias, semanas ou meses depois do início da negociação. Em casos de proximidade ou urgência, o tempo pode ser menor.
No dia da ligação, um roteiro é seguido:
- Quem solicita a ligação costuma começar a conversa;
- A palavra é passada alternadamente entre os líderes, sempre com intérprete;
- As chamadas podem ocorrer no Palácio do Planalto ou no Palácio da Alvorada, na “sala de situação”;
- Participam também tradutor, chanceler e, eventualmente, ministros relacionados ao tema.
Primeiro contato
A ligação de segunda-feira marcou o primeiro contato telefônico entre Lula e Trump desde a eleição do americano, no final de 2024.
A aproximação vem sendo construída há meses, com o Ministério das Relações Exteriores e o Palácio do Planalto atuando junto à Casa Branca e ao Departamento de Estado para viabilizar a conversa.