LEONARDO VIECELI E DOUGLAS GAVRAS
RIO DE JANEIRO, RJ, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em evento com petroleiros no Rio de Janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar nesta terça-feira (29) a política de preços da Petrobras e a escalada dos combustíveis no Brasil.
Lula disse que a estatal é estratégica para os interesses nacionais e afirmou que a companhia foi alvo de "mentiras" nos últimos anos.
Essas mentiras, na visão do ex-presidente, teriam penalizado o desenvolvimento da empresa, além de todos os trabalhadores e os dirigentes da companhia, em meio a denúncias de corrupção.
Lula disse que, assim como Jesus Cristo, a petroleira foi "crucificada" por "narrativas" contrárias às gestões realizadas nos governos petistas. "O que fizeram com a Petrobras foi isso. O que fizeram com a Petrobras foi crucificar a mais importante empresa que nós tínhamos no Brasil."
Lula, que lidera pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais deste ano, participou de um evento com a FUP (Federação Única dos Petroleiros) em um hotel de Copacabana, zona sul do Rio.
O encontro foi marcado por uma sucessão de discursos que atacaram a política de preços da Petrobras e criticaram a troca no comando da estatal.
O presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, recebeu na segunda-feira (28) a comunicação de que deixará o comando da companhia.
Silva e Luna será substituído pelo economista Adriano Pires, atual diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).
"Eu não conheço essa pessoa. Por isso, não vou falar mal do cara que assumiu. Mas vi, dos dois trechos de notícias que li hoje, que ele é lobista, e muito mais ligado às empresas estrangeiras do que às nossas. Faz parte de um grupo seleto de personalidades que não aceita que o petróleo é nosso", afirmou Lula.
A troca de comando na estatal vem em meio à escalada dos preços dos combustíveis, que pressiona o presidente Jair Bolsonaro (PL). A disparada de itens como a gasolina e o óleo diesel foi impulsionada em março pelos efeitos econômicos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Bolsonaro deve tentar a reeleição neste ano e teme os impactos da perda do poder de compra do eleitorado. O presidente vem empilhando críticas à Petrobras e já defendeu mudanças na política de preços da estatal.
Na hora de definir os valores nas refinarias, a companhia leva em consideração o comportamento do petróleo no mercado internacional e a variação do dólar.
É o chamado PPI (Preço de Paridade de Importação). Essa política foi implementada no governo Michel Temer (MDB).
Pesquisa Datafolha indicou que 68% dos brasileiros atribuem ao governo a responsabilidade pela alta de combustíveis.
O evento com Lula no Rio foi mediado nesta terça pela presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann.
Gleisi criticou a gestão da Petrobras no governo Bolsonaro, dizendo que a estatal está "na mão do mercado".
Na visão dela, a troca de comando na estatal não vai resolver o problema da carestia dos combustíveis. Gleisi também chamou a atual política de preços da companhia de "roubo" contra o povo brasileiro.
Outras lideranças políticas participaram do encontro, incluindo o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), pré-candidato ao governo estadual do Rio de Janeiro.
Freixo disse que o debate sobre a Petrobras é "sobre interesse público". O parlamentar afirmou que, devido à carestia do gás de cozinha, pessoas mais pobres estão tendo de se arriscar a fazer comida com lenha.
"É um debate relacionado à vida dos mais pobres."
Já o deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ), presidente da Assembleia Legislativa do Rio e pré-candidato ao Senado, criticou a escolha de Adriano Pires para o comando da Petrobras. Ele chamou a medida de "contrassenso".
Também presente no debate, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras durante os governos petistas, disse que "não há nenhuma nação grande que abandone a segurança energética".
"A segurança energética significa não somente acesso a fontes de energia, mas também capacidade de o povo ter acesso a elas", argumentou.
Na visão de Gabrielli, não há necessidade de "lucros tão altos" na companhia.
"Para mudar a estratégia da estatal, vamos ter de enfrentar o capital financeiro", afirmou o ex-presidente da estatal em fala direcionada a Lula. "Será preciso uma discussão clara e aberta até com esses acionistas", acrescentou.
A Petrobras considera que a atual política de preços é importante para garantir a saúde financeira da companhia e evitar riscos de desabastecimento no país.
Debate movimenta corrida eleitoral A atuação da petroleira e a carestia dos combustíveis viraram temas recorrentes de manifestações de possíveis candidatos à Presidência da República.
Perguntado durante um evento no Rio de Janeiro, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que também pretende disputar o Palácio do Planalto, lembrou que a paridade de preços internacionais não vem de uma lei ou de uma lógica de mercado.
"O Brasil tira um barril de petróleo por US$ 10, um dos mais baixos do mundo, explode um conflito na Ucrânia, o barril passa de US$ 100, e eles transferem isso para o povo."
Caso seja eleito, ele disse que a petroleira irá revogar a paridade de preços internacionais e substituí-la por uma política de custos para colocar uma rentabilidade em linha com as empresas estrangeiras, de 6,5%.
"Bolsonaro especializou-se em entupir com mentira e enganação aquilo que é responsabilidade dele e que ele não exercita. Quem manda na Petrobras é o conselho de administração, em que o governo, em nome do acionista majoritário, diz aquela que é a estratégia da companhia."
Já o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) considera a demissão do general Silva e Luna uma "cortina de fumaça".
"O governo demite Silva e Luna como cortina de fumaça contra o aumento do preço dos combustíveis. A queda do preço dos combustíveis depende de uma política econômica séria e não de factoides."
A equipe de comunicação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que o tucano não iria se pronunciar sobre a troca de comando na Petrobras.