Na presença das principais lideranças petistas e peemedebistas durante jantar anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou a formação de alianças nos Estados e chegou a ameaçar não visitar locais problemáticos na campanha de 2010.
"Eu gostaria de subir num palanque só. É difícil subir em dois. Se isso acontecer, há o risco de eu não subir em nenhum", afirmou o presidente, segundo relatos de presentes ao encontro no Palácio da Alvorada que sacramentou um "pré-compromisso" de PT e PMDB em torno da candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Lula concorda que seu partido precisa abrir espaço para os aliados em diversos Estados importantes. Num outro recado a seus companheiros de legenda, chegou a lembrar um dos episódios mais traumáticos do passado do PT, a intervenção no diretório do Rio de Janeiro em 1998 para forçar o apoio ao então pedetista Anthony Garotinho. O presidente disse que "um partido nacional tem de ter política nacional".
Foram à reunião líderes das duas siglas no Congresso e ministros. Nota divulgada, com quatro pontos, diz que "os dois partidos comporão, necessariamente, a chapa de presidente e vice, a ser apresentada ao eleitorado brasileiro".
Por insistência do PMDB, outro trecho afirma que o pré-compromisso precisará ser levado "às instâncias partidárias, construindo soluções conjuntas para as alianças regionais". Mas há entendimentos díspares sobre o que isso significa.
Os peemedebistas veem as questões estaduais como um ingrediente central do acordo. Querem, principalmente, apoio do PT no Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, além do direito de terem candidato próprio na Bahia (Geddel Vieira Lima) contra o PT. Para o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), um critério deve ser o PT "não criar problema onde não precisa".
Dentro do PT, o futuro do "pré-compromisso" independe dos Estados. "Os pré-requisitos que o PMDB apresentou são ter a vaga de vice e participar do programa de governo. Os Estados não são condição", diz o ex-prefeito de BH Fernando Pimentel, que almeja ser candidato do PT a governador de Minas. Ele e outro pré-candidato petista, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, sofrem pressão do PMDB para apoiar o ministro Hélio Costa (Comunicações).
Em seu discurso no evento, Dilma cobriu de elogios o novo aliado. Disse que o governo atual concretiza uma das grandes bandeiras do ex-deputado peemedebista Ulysses Guimarães, a bandeira social. Afirmou que acredita ser possível reunir na sua aliança eleitoral os 11 partidos que hoje apoiam o governo --inclusive o PSB do presidenciável Ciro Gomes.
Disse ainda que o PMDB "tem participação importante no segundo mandato". Vários presentes emendaram: "e no primeiro". Ela reagiu com bom humor. "Falei isso pensando em você, Geddel". No primeiro governo Lula, ele era oposição.