Durante a reunião de alto nível Democracia Sempre, realizada nesta segunda-feira (21), em Santiago, no Chile, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a necessidade de combater as desigualdades sociais como caminho para proteger e fortalecer as democracias na América Latina e no mundo.
O evento reuniu líderes como os presidentes Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandú Orsi (Uruguai), e o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez.
Em seu discurso, Lula alertou para os riscos representados pelas forças extremistas de direita, que, segundo ele, "flertam com o fim da democracia e das liberdades individuais". O presidente ressaltou que a persistência da desigualdade social alimenta essas forças reacionárias e que o combate a esse cenário deve ser prioridade de governos e instituições democráticas.
"Reconhecemos a urgência de lutar contra todas as formas de desigualdade. Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta os direitos sociais", afirmou o presidente brasileiro.
Super-ricos, justiça tributária e fome
Lula reiterou que a desconcentração de renda é indispensável, tanto no plano interno quanto no cenário internacional. Ele voltou a defender que os super-ricos contribuam de forma justa com a economia e destacou iniciativas como a Aliança contra a Fome e a Pobreza, lançada pelo Brasil durante a presidência do G20.
"A justiça tributária é outro passo para recolocar a economia a serviço do povo. Os super-ricos precisam arcar com a sua parte nesse esforço", reforçou.
O presidente ainda denunciou o cenário de fome no planeta:
"Políticas de austeridade obrigam o mundo em desenvolvimento a conviver com o intolerável: 733 milhões de pessoas passam fome todos os dias."
Democracia ameaçada e crise ambiental
Lula afirmou que apenas o combate às desigualdades sociais, raciais e de gênero pode resgatar a coesão e legitimidade das democracias. Ele também alertou que a crise ambiental vem aprofundando novas formas de exclusão social, atingindo principalmente os mais pobres.
"Sem um novo modelo de desenvolvimento, a democracia seguirá ameaçada por aqueles que colocam seus interesses econômicos acima dos da sociedade e da pátria."
Tarifaço e intervenção estrangeira
Sem citar diretamente o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, Lula criticou o que chamou de “práticas intervencionistas”, referindo-se tanto ao aumento de tarifas comerciais contra países emergentes quanto às tentativas de influenciar processos políticos no Brasil.
"Nesse momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos. A defesa da democracia não cabe somente aos governos. Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado", disse.
Memória das ditaduras na América do Sul
Lula também lembrou os anos sombrios de ditaduras militares na América do Sul, entre as décadas de 1960 e 1980. Ao lado dos outros líderes presentes no Palácio de La Moneda, onde o presidente chileno Salvador Allende foi deposto e morto em 1973, Lula evocou o passado para reafirmar o compromisso com a democracia.
"Nossos países conhecem de perto os horrores das ditaduras que mataram, perseguiram e torturaram. Democracias não se constroem da noite para o dia. Zelar pelos interesses coletivos é uma tarefa permanente."
Além de Lula, também discursaram os presidentes Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandú Orsi (Uruguai), e o espanhol Pedro Sánchez, todos reforçando a importância da união das forças democráticas contra o avanço do autoritarismo no continente.